São Paulo, sexta, 21 de agosto de 1998

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Fiéis guardam imagens valiosas em casa

da Agência Folha, em Ouro Preto

Os moradores das comunidades rurais de Mariana e Ouro Preto (a 100 km de Belo Horizonte) são os maiores guardiões de riquezas de valor incalculável em obras do barroco mineiro e peças sacras feitas de metais preciosos.
Sem policiamento, as igrejas desses povoados ficam expostas às quadrilhas de ladrões de obras sacras. Para que as imagens não tenham de deixar a comunidade, os próprios moradores se encarregam de guardá-las em suas casas.
O arcebispo de Mariana, dom Luciano Mendes de Almeida, diz que as comunidades têm feito o máximo para proteger suas imagens por causa do valor afetivo que elas possuem.
O padre Lauro Versiani lembra, no entanto, que isso traz um risco para os fiéis, porque essas peças têm grande valor no mercado de arte e os ladrões são capazes de "qualquer coisa" para obtê-las.
Algumas das localidades não chegam a ter cem casas, como é o caso do vilarejo de Chapada, a 20 km de Ouro Preto. A igreja de Chapada possui uma única imagem valiosa, avaliada em mais de R$ 200 mil. Ela é de autoria de Aleijadinho (1738-1814).
A localização dessa imagem, no entanto, é um segredo muito bem guardado. "Eu sei que existe um cofre, mas eu não sei onde ele está", afirma o padre José Feliciano Simões, de Ouro Preto.
Santa Tereza
O distrito de Camargos, em Mariana, tinha em 1991 apenas 146 habitantes. Até um mês atrás, eles eram os responsáveis por impedir o roubo de cerca de 20 peças sacras de valor histórico e artístico.
Atualmente, essas peças estão sob a guarda do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, em Mariana, que reúne melhores condições de segurança, como posto policial próximo e alarmes.
A museóloga Maria Conceição Fernandes explica que as peças podem ser requisitadas para as festas religiosas. A transferência das peças para o museu, no entanto, ainda encontra muita resistência por parte dos moradores da zona rural, porque eles não querem estar longe de seus santos.
Natalina de Oliveira, 61, moradora de Bandeirantes, outro distrito de Mariana, é uma das que não concorda. "É triste ver as coisas da gente irem embora. Desde menina, eu me acostumei com elas aqui. Quando eu soube que (a estátua de) Santa Tereza tinha ido embora, eu até chorei", disse.
Os alarmes, instalados este ano pelo Iepha-MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) em quase cem igrejas, não resolvem totalmente o problema, porque em alguns casos o posto policial mais próximo fica a 30 quilômetros de distância.
José André Bezerra, 40, morador de um distrito distante de Mariana, explica que, mesmo após ser avisada pelo único telefone do local, a polícia levaria pelo menos meia hora para chegar, dando tempo para os ladrões fugirem.
"Na hora, a população corresponde e corre para a igreja. Todo mundo tem preocupação com as imagens", afirma Bezerra. (CHS)



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