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"ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER"
Mojica restaurado só passa hoje
Reprodução
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A cena das aranhas de "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver", hoje na Estação Vitrine |
JAIRO FERREIRA
especial para a Folha
"Esta Noite Encarnarei no Teu
Cadáver", 1966, clássico do horror
nacional, o mais popular filme
realizado por José Mojica Marins,
será exibido hoje pela segunda e
última vez na Mostra Internacional, em cópia restaurada com algumas cenas perdidas há 15 anos.
O filme foi rodado em branco-e-preto, com ótima fotografia de
Giorgio Attili, mas o ponto culminante é a sequência do inferno colorido, "Capela Sistina do cinema", segundo o diretor do Festival de Cinema Fantástico de Sitges (Espanha). Dante Alighieri
deve ter tremido na tumba.
O filme começa onde termina
"À Meia-Noite Levarei a Sua Alma" (64), com a curiosa ou bizarra filosofia de Zé do Caixão:
"Quem sou eu não interessa, como também não interessa quem é
você. Na realidade, o que importa
é saber o que somos. Não se dê ao
trabalho de pensar porque a conclusão seria a loucura. O final de
tudo, para o início de nada."
Revisto em fim de milênio, o filme ganha novas dimensões apocalípticas e mantém o niilismo na
ordem do dia. Não há nada de
neonazista ou satanista em toda
essa parafernália.
O personagem Zé do Caixão é
um agente funerário que promove bacanais e muitas atrocidades,
desafiando a ordem estabelecida.
Um verdadeiro transgressor.
Solta cobras e aranhas em cima
das donzelas, em algumas das
melhores cenas do filme. O objetivo é encontrar a mulher superior
com a qual terá um filho perfeito.
"A existência. O que é a existência? A morte. O que é a morte?
Não seria a morte o início da vida?
Ou seria a vida o início da morte?"
Seria este filho de espanhóis um
Heidegger da Mooca? Ou seria ele
apenas um suburbano que leu
Nietzsche em versão de almanaque? Como inventor instintivo e
autodidata, Mojica está muito
além da imaginação dos caretas
pejorativos.
O cineasta Gustavo Dahl já escreveu sobre o filme, lembrando o
surrealista André Breton: "O que
há de mais fantástico no fantástico é que tudo é real".
Mojica é um artista, bárbaro e
paradoxal, que experimenta
(mesmo sem saber) todos os desvios da linguagem cinematográfica, os curtos-circuitos do filme.
Como diria Rimbaud, se tivesse
amado o cinema, Mojica inventou o "reterror", ao trabalhar todas as subversões do sentido habitual do fantástico, para gáudio
da "Madame Eternidade".
Avaliação:
Filme: Esta Noite Encarnarei no Teu
Cadáver
Direção: José Mojica Marins
Produção: Brasil, 1966, 107 min
Com: José Mojica Marins e Roque
Rodrigues
Quando: hoje, às 21h45, no Vitrine
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