São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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Francês narra três batalhas de amor perdidas

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando concorreu neste ano no Festival de Cannes, "Marie-Jo et Ses Deux Amours" (Marie-Jo e Seus Dois Amores) foi apontado por boa parte da crítica como o melhor filme na carreira do cineasta francês de origem armênia Robert Guédiguian, 48, que contabiliza 12 títulos, desde 1980.
E também como aquele em que o diretor mais se afastou de suas preocupações sociais.
Esquerdista militante, Guédiguian realiza um cinema marcado pela crítica social, à maneira de "A Cidade Está Tranquila", seu longa anterior, exibido no Brasil no ano passado. Na época em que o filme estreava no país, o diretor participou das discussões do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
"Não concordo que em "Marie-Jo et Ses Deux Amours" eu tenha me distanciado de minhas preocupações sociais. Talvez elas tenham passado, no sentido estrito do termo, ao segundo plano, mas estão lá", disse Guédiguian à Folha, por telefone, de Marselha, cidade em que vive e que serve de cenário para todos os seus filmes.
"Os três personagens não suportam o mundo tal qual ele é. Não conseguem um acordo entre suas personalidades e a realidade que os cerca. Isso é um gesto romântico. Para mim, o gesto revolucionário também é isso. Os revolucionários, assim como os românticos, desejam que o mundo seja diferente do que é."

Triângulo
No triângulo amoroso de Guédiguian, os vértices não disputam entre si. Cada um trava seu combate particular, intransferível.
Marie-Jo luta contra a imposição da escolha entre o marido e o amante. Ela ama ambos e busca uma harmonia para a situação.
O marido tenta apaziguar os próprios sentimentos, que resistem à sua decisão racional de dividir a mulher com outro homem, para não perdê-la.
O amante lida com a frustração de só ter pela metade a primeira mulher que o fez desejar dividir uma vida inteira.
Nessas batalhas, cada um à sua maneira, todos serão vencidos.

Interseções
A Marie-Jo e os seus dois amores são interpretados pelo trio de atores que participa de todos os trabalhos anteriores de Guédiguian: Ariane Ascaride é Marie-Jo, Jean-Pierre Darroussin vive o marido Daniel e Gérard Meylan é o amante Marco.
"Como trabalhamos juntos há 20 anos, hoje podemos dizer, cada vez que vamos filmar, que fizemos duas décadas de ensaios", diz o cineasta.
Sempre interessado em interseções -o indivíduo e a história; o corpo e a política-, Guédiguian está escrevendo o roteiro do próximo longa, que pretende filmar em junho de 2003.
"Desta vez, os personagens que desenvolvo vão se colocar diante da questão da militância", diz. "Obviamente tento construir uma história que não seja unidimensional, que não fale apenas do aspecto social, mas que seja a um só tempo social, política, amorosa e sexual."
"Marie-Jo et Ses Deux Amours" terá três sessões na Mostra BR de Cinema -hoje e nos dias 28 e 29. O lançamento do filme no circuito de salas está previsto para o mês de novembro, com a presença da atriz Ariane Ascaride.



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