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Francês narra três batalhas de amor perdidas
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando concorreu neste ano no
Festival de Cannes, "Marie-Jo et
Ses Deux Amours" (Marie-Jo e
Seus Dois Amores) foi apontado
por boa parte da crítica como o
melhor filme na carreira do cineasta francês de origem armênia
Robert Guédiguian, 48, que contabiliza 12 títulos, desde 1980.
E também como aquele em que
o diretor mais se afastou de suas
preocupações sociais.
Esquerdista militante, Guédiguian realiza um cinema marcado
pela crítica social, à maneira de "A
Cidade Está Tranquila", seu longa
anterior, exibido no Brasil no ano
passado. Na época em que o filme
estreava no país, o diretor participou das discussões do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
"Não concordo que em "Marie-Jo et Ses Deux Amours" eu tenha
me distanciado de minhas preocupações sociais. Talvez elas tenham passado, no sentido estrito
do termo, ao segundo plano, mas
estão lá", disse Guédiguian à Folha, por telefone, de Marselha, cidade em que vive e que serve de
cenário para todos os seus filmes.
"Os três personagens não suportam o mundo tal qual ele é.
Não conseguem um acordo entre
suas personalidades e a realidade
que os cerca. Isso é um gesto romântico. Para mim, o gesto revolucionário também é isso. Os revolucionários, assim como os românticos, desejam que o mundo
seja diferente do que é."
Triângulo
No triângulo amoroso de Guédiguian, os vértices não disputam
entre si. Cada um trava seu combate particular, intransferível.
Marie-Jo luta contra a imposição da escolha entre o marido e o
amante. Ela ama ambos e busca
uma harmonia para a situação.
O marido tenta apaziguar os
próprios sentimentos, que resistem à sua decisão racional de dividir a mulher com outro homem,
para não perdê-la.
O amante lida com a frustração
de só ter pela metade a primeira
mulher que o fez desejar dividir
uma vida inteira.
Nessas batalhas, cada um à sua
maneira, todos serão vencidos.
Interseções
A Marie-Jo e os seus dois amores são interpretados pelo trio de
atores que participa de todos os
trabalhos anteriores de Guédiguian: Ariane Ascaride é Marie-Jo, Jean-Pierre Darroussin vive o
marido Daniel e Gérard Meylan é
o amante Marco.
"Como trabalhamos juntos há
20 anos, hoje podemos dizer, cada
vez que vamos filmar, que fizemos duas décadas de ensaios", diz
o cineasta.
Sempre interessado em interseções -o indivíduo e a história; o
corpo e a política-, Guédiguian
está escrevendo o roteiro do próximo longa, que pretende filmar
em junho de 2003.
"Desta vez, os personagens que
desenvolvo vão se colocar diante
da questão da militância", diz.
"Obviamente tento construir
uma história que não seja unidimensional, que não fale apenas
do aspecto social, mas que seja a
um só tempo social, política,
amorosa e sexual."
"Marie-Jo et Ses Deux Amours"
terá três sessões na Mostra BR de
Cinema -hoje e nos dias 28 e 29.
O lançamento do filme no circuito de salas está previsto para o
mês de novembro, com a presença da atriz Ariane Ascaride.
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