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CRÍTICA
Obra foge do academicismo, mas falha como referência
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Maria Della Costa merece
todas as homenagens que
houver. Não pelos triunfos da carreira, mesmo que muitos e importantes, já que a relevância de
um ator não pode ser medida unicamente pela fama e sucesso. Deve ser celebrada pela sua dedicação pelo teatro, sua coragem por
ter erguido sem nenhum apoio
oficial, só contando com sua teimosia e a devoção de seu grande
amor Sandro Polloni, um teatro
pioneiro de repertório abrangente, muitas vezes refinado, muitas
vezes revolucionário.
Por isso não é desmedido o fato
de a coleção "Aplauso" lhe dedicar um volume muito maior que
o padrão habitual, não se limitando a uma entrevista, mas incluindo uma biografia ampla, que tem
como origem a dissertação de
mestrado de Warde Marx.
Marx foi bastante ambicioso ao
tentar, além de acompanhar a trajetória da atriz e de sua companhia, situá-la dentro de um panorama mais amplo, que inclui trajetórias de outras companhias
contemporâneas, um resumo da
história do Brasil e mesmo uma
conceituação geral sobre o modernismo. É aí que o projeto se esgarça. Marx deixa sua biografada
no começo da carreira de modelo,
ainda em Porto Alegre, para uma
longa digressão que parte do simbolismo do século 19 para ir atropelando nomes em resumos quase caricaturais, quando não equivocados ("Maiakóvski escreve
textos de difusão do comunismo"), o que, antes de tudo, é bem
pouco esclarecedor para seu objetivo principal.
O tom informal é agradável,
procura tirar a sisudez que muitas
vezes engessa um texto acadêmico, mas cede a um impressionismo que acaba destruindo sua credibilidade. A própria iniciativa de
colocar um quadro comparativo
do repertório do TBC, Arena, Oficina, entre outras companhias,
ano a ano, esbarra em várias
omissões e imprecisões que comprometem o livro como fonte
confiável.
Se essa é uma falha da orientação de seu mestrado, a edição
aprofunda o equívoco ao considerar desnecessários elementos fundamentais como o índice, legendas detalhadas e referências das
citações, além de um caos completo nos subtítulos e na diagramação. Mesmo a transcrição, sem
nenhuma edição, do depoimento
de Maria Della Costa, no final do
volume, deixa antes de tudo as informações confusas, sem ganho
de espontaneidade, já que não se
sente o entrevistador provocando
a entrevistada, como fez, por
exemplo, Simon Khouri no volume 3 de "Bastidores".
Ambicioso demais por um lado
e raso de outro (a apreciação crítica das atuações de Maria Della
Costa, em geral, é referida apenas
enquanto aprovação ou reparos,
sendo esses logo relevados por
Marx), sente-se que este volume é
antes de tudo uma apaixonada e
merecida homenagem à grande
atriz. Mas, tentando fugir ao academicismo, falha enquanto livro
de referência.
Maria Della Costa - Seu Teatro, Sua Vida
Autor: Warde Marx
Editora: Imprensa Oficial do Estado
Quanto: R$ 18 (232 págs.)
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