São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004 |
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MÔNICA BERGAMO Gal passeia na garoa
"O seu pai tomou o lotação para o inferno." Aos sete anos, era essa a explicação que Gal ouvia de uma de suas primas ao perguntar onde estava o pai, Arnaldo Burgos, que ela nunca conheceu. "Eu vivia perguntando aos médicos de minha avó: "Você quer ser o meu pai? Você quer ser o meu pai?". Até para um mendigo da rua em que morava, em Salvador, eu fiz esse pedido", conta Gal. Sorrindo ao se relembrar menina. Sem concessões à melancolia. Sem mágoas. Gal, 59, está escrevendo uma biografia. O pai ocupará um dos capítulos, dividindo espaço com a mãe, Mariah Costa Penna, "uma companheira fabulosa", e com personagens como Chico Buarque, Caetano Veloso e João Gilberto. Os pais de Gal já eram casados, sem filhos, quando a mãe dela descobriu que ele tinha duas crianças com uma outra mulher. Resolveram se separar. No dia do encontro para assinar a papelada...aconteceu a Gal. Mas o pai da cantora já estava vivendo com a outra família. Os dois nunca se viram. "Um dia uma prima me chamou na rua: "Gal, vem ver seu pai". Eu corri e vi um homem gordo, de terno de linho branco, levando uma criança pela mão. É a única lembrança que tenho". Quando Arnaldo morreu, ela tinha 14 anos. Os irmãos a procuraram para ir ao velório. Gal não quis. Anos depois, os irmãos passaram a conviver com ela. Gal está emergindo de um período de reclusão, em que interrompeu contato com o público. Voltou a fazer show este ano, "Todas as Coisas e Eu", depois de cinco sem se apresentar em espetáculos abertos no Brasil. Emagreceu 11 quilos. Está deixando Salvador para morar em São Paulo. E por que não o Rio? "Eu desço no aeroporto, em SP, e já tem alguém para me dizer uma coisa legal, me abraçar. No Rio só tem estrela", brinca. "A pessoa fala "olha lá a Gal", mas finge que não te vê. E paulista é muito sério. Eu tenho esse traço." Por enquanto Gal está hospedada no L'Hotel, na alameda Campinas. Ela já visitou apartamentos em Higienópolis, na Vila Nova Conceição e no Morumbi. Ainda não decidiu onde vai se instalar. "Higienópolis é o bairro dos artistas, né? A Marília [Pêra] me indicou um apartamento lá." Ela prefere uma casa, por causa de seus quatro cães rottweiler. "Eu trato cachorro como gente. São os filhos que não tive." Gal não fala dos amores que viveu, e vive. Admite que já namorou Gil, "porque ele já andou falando por aí. Mas isso foi há anos". Ela preserva a vida pessoal e essa "é a regra" para quem quer estar a seu lado. Gal, ainda assim, não é uma esfinge como Chico, nem uma "diva inacessível" como Maria Bethânia. Não tem rasgos de genialidade como Gil e Caetano. Cheia de charme e glamour no palco, "a maior cantora do Brasil", como já lhe disse João Gilberto, é o que se pode chamar de "gente como a gente" quando desce dele. "Eu sou fácil. Eu sou facílima", diz ela. A cantora não tem grandes manias. Não briga com os músicos (Bethânia briga). Não toma muitos cuidados com a voz (Bethânia toma uísque para aquecer a garganta). Chico Buarque toma meio Lexotan antes de encarar o público. Na quarta-feira, dia em que se apresentou para um show fechado em SP, Gal trocou de roupa meia hora antes, não se concentrou e ainda bateu papo até a hora de entrar no palco. Depois do show, admitiu que leu, numa "cola", a letra de "Sampa" (Roberto Carlos "cola" até quando canta "Detalhes", mas faz de tudo para disfarçar). Quer provocar Gal? O que se arranca dela é o silêncio. Quem são as três melhores cantoras jovens do país? "Zelia Duncan, Jussara Silveira...". Pausa. "E a Maria Rita. Só que canta muito igual à mãe." Elis Regina sempre afirmava que "Gal é a maior cantora do país -depois de mim." É o que a própria Gal conta, sem opinar. "Sou uma das maiores. Mas os outros é quem tem que reconhecer isso em mim." BASTIDOR O "pipi" da Globeleza
Pensa que é fácil pintar o
corpo todo da mulata Globeleza, aquela que faz parte das
vinhetas do Carnaval da TV
Globo? Pois são necessárias
20 horas para riscar os desenhos no corpo dela, passar
tinta e depois a purpurina. E
a Globeleza tem que ficar deitada o tempo todo. Nem ao
banheiro pode ir, para não
ser vista pelada nos corredores da emissora. Tadashi Harada, maquiador de Gal Costa, que já "assinou" as pinturas da Globeleza, diz que,
quando a situação complica
ela faz xixi num copinho. |
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