São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

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Comissão não vai rever história do Brasil


especial para a Folha

O secretário-executivo da Comissão Nacional para Comemorações do 5º Centenário do Descobrimento do Brasil, Tarcísio de Lima Costa, afirma que não existe uma proposta de rever a primazia do descobrimento.
"Nosso papel é estimular a reflexão sobre os 500 anos de identidade nacional e a contribuição indígena, africana e de imigrantes. Escolhemos a data (22 de abril), pois faz parte do imaginário coletivo e da fundação do Brasil", diz.
"Pode-se dizer que os primeiros foram os vikings, os italianos ou espanhóis. Na verdade, os primeiros foram os índios. Em 1500 foi o início da ocupação daquilo que reconhecemos como nação. Foi um ato político, não apenas um registro histórico. Não assumimos partido. Falamos da criação de um Estado", completa Costa.
A comissão, que se reúne uma vez por mês, é composta por membros de cada ministério -José Gregori, secretário nacional dos Direitos Humanos, representa o da Justiça-, representantes do Congresso -como o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA)- e do Judiciário.
Ela prepara as festividades dos 500 anos do descobrimento e já aprovou 180 projetos -congressos, encontros, filmes e peças- sobre o tema.
Paralelamente, existe a Comissão Bilateral para as Comemorações da Viagem de Pedro Álvares Cabral, que reúne brasileiros e portugueses. Já no próprio nome a comissão bilateral evita entrar na polêmica.
O embaixador Wladimir do Amaral Murtinho, representante do Ministério da Cultura em ambas comissões, diz que "a posição da comissão nacional e da bilateral é que foi Cabral quem descobriu o Brasil". "Isso é oficial. Na verdade, estamos comemorando o meio milênio do Brasil. Não é uma comissão para rever a história, mas para organizar a comemoração da oficialização do Brasil", afirma Amaral Murtinho.
Os historiadores que apontam a primazia do navegador espanhol Vicente Pinzón também defendem que o navegador português Pedro Álvares Cabral seja responsabilizado pelo descobrimento.
"Não importa quem chegou antes. Foi Cabral quem fundou o Brasil", diz o almirante Max Justo Guedes.
"Devemos celebrar a chegada de Cabral e usar o termo "descobrir', pois a partir dele o Brasil se insere no mundo e é absorvido pela história. Mas deveria haver ao menos uma referência à chegada dos espanhóis", afirma Eduardo Bueno. (MRP)



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