São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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Sanchez quer ser visto como brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando veio pela primeira vez ao Brasil para tocar, em 97, Junior Sanchez se divertiu com a conversa dos seguranças e motoristas que o acompanhavam. Como os contratantes só se comunicavam com ele em inglês, Sanchez passou pelo país sem falar uma palavra sequer em português, sua segunda língua.
Filho de pai peruano e mãe baiana, o DJ nasceu nos Estados Unidos, mas se considera "pelo menos metade brasileiro". Em entrevista à Folha, Junior Sanchez contou como chegou aos 24 anos sendo entre outras coisas um dos DJs preferidos de Madonna.
Leia a entrevista com o DJ e produtor "metade brasileiro", feita metade em inglês e metade em português. (CA)

Folha - Você toca música brasileira no seu set?
Junior Sanchez -
Cresci ouvindo música brasileira. Cresci comendo farinha, feijoada, farofa. Minha mãe sempre gostou muito de samba, forró. Ouvia de tudo, de samba-enredo até Nelson Ned. Mas tinha uma mistura muito grande em casa, porque tenho cinco irmãos. Cada um tinha um gosto diferente. Tinha um irmão que gostava de música eletrônica, tipo Depeche Mode. Outro, gostava de rock. E assim por diante. O legal é que eu sou o mais novinho, então, quando meus irmãos cresceram e casaram, eu fiquei com os discos. Mas nem era para me incentivar a ser DJ. Era só porque eles não queriam levar. Foi aí que comecei minha coleção.

Folha - Quando você começou a se especializar em house?
Sanchez -
Sempre gostei de house. Quer dizer, house existe desde que eu me conheço por gente. Gosto de música eletrônica desde os 10 anos de idade.

Folha - Você começou cedo, não?
Sanchez -
É verdade. Com 15 anos, estava tocando em clubes em Nova York, como o Limelight. Na época eu saía muito para dançar e conhecia muita gente. Não aparentava a minha idade, e em Nova York não tinha encheção para ver documentos. Se você conhecia alguém na porta do clube, entrava. Na mesma época já comecei a produzir também. Fiz minha primeira música num software que se chamava Vision. Peguei um disco da minha mãe, um samba-enredo de 1964, e coloquei uns samples, uns batuques.

Folha - Dá para dizer que você foi visionário porque há uma onda de DJs mixando samba, batuques...
Sanchez -
Putz, é incrível. Agora todo mundo quer ser brasileiro, né? Acho gozado. Eu não fico falando por aí que sou brasileiro, mas sei que eu sou. Não preciso fazer música em português para provar isso. Tem gente que nem sabe o quê eu sou, acham que sou porto-riquenho ou espanhol. É engraçado. Os pretos aqui de Nova York, o povo que faz deep house e quer ser diferente, adora dizer que faz música brasileira. Sei que eles sentem a música, mas não entendem o que está sendo dito. Acho que há gente se aproveitando da imagem do Brasil.

Folha - Aos 24, você já trabalhou com todos os DJs e produtores importantes. Como conseguiu isso?
Sanchez -
Conheci Armand Van Helden, Roger Sanchez, todos esses caras, aos 15 anos. Nos tornamos amigos, e eles me respeitam muito. Acabei conhecendo muita gente. Mas corri atrás, sou um cara de visão que se deu bem.



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