|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sanchez quer ser visto como brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando veio pela primeira vez
ao Brasil para tocar, em 97, Junior
Sanchez se divertiu com a conversa dos seguranças e motoristas
que o acompanhavam. Como os
contratantes só se comunicavam
com ele em inglês, Sanchez passou pelo país sem falar uma palavra sequer em português, sua segunda língua.
Filho de pai peruano e mãe
baiana, o DJ nasceu nos Estados
Unidos, mas se considera "pelo
menos metade brasileiro". Em
entrevista à Folha, Junior Sanchez
contou como chegou aos 24 anos
sendo entre outras coisas um dos
DJs preferidos de Madonna.
Leia a entrevista com o DJ e produtor "metade brasileiro", feita
metade em inglês e metade em
português.
(CA)
Folha - Você toca música brasileira no seu set?
Junior Sanchez - Cresci ouvindo
música brasileira. Cresci comendo farinha, feijoada, farofa. Minha
mãe sempre gostou muito de
samba, forró. Ouvia de tudo, de
samba-enredo até Nelson Ned.
Mas tinha uma mistura muito
grande em casa, porque tenho
cinco irmãos. Cada um tinha um
gosto diferente. Tinha um irmão
que gostava de música eletrônica,
tipo Depeche Mode. Outro, gostava de rock. E assim por diante. O
legal é que eu sou o mais novinho,
então, quando meus irmãos cresceram e casaram, eu fiquei com os
discos. Mas nem era para me incentivar a ser DJ. Era só porque
eles não queriam levar. Foi aí que
comecei minha coleção.
Folha - Quando você começou a
se especializar em house?
Sanchez - Sempre gostei de house. Quer dizer, house existe desde
que eu me conheço por gente.
Gosto de música eletrônica desde
os 10 anos de idade.
Folha - Você começou cedo, não?
Sanchez - É verdade. Com 15
anos, estava tocando em clubes
em Nova York, como o Limelight.
Na época eu saía muito para dançar e conhecia muita gente. Não
aparentava a minha idade, e em
Nova York não tinha encheção
para ver documentos. Se você conhecia alguém na porta do clube,
entrava. Na mesma época já comecei a produzir também. Fiz minha primeira música num software que se chamava Vision. Peguei
um disco da minha mãe, um samba-enredo de 1964, e coloquei uns
samples, uns batuques.
Folha - Dá para dizer que você foi
visionário porque há uma onda de
DJs mixando samba, batuques...
Sanchez - Putz, é incrível. Agora
todo mundo quer ser brasileiro,
né? Acho gozado. Eu não fico falando por aí que sou brasileiro,
mas sei que eu sou. Não preciso
fazer música em português para
provar isso. Tem gente que nem
sabe o quê eu sou, acham que sou
porto-riquenho ou espanhol. É
engraçado. Os pretos aqui de Nova York, o povo que faz deep house e quer ser diferente, adora dizer
que faz música brasileira. Sei que
eles sentem a música, mas não entendem o que está sendo dito.
Acho que há gente se aproveitando da imagem do Brasil.
Folha - Aos 24, você já trabalhou
com todos os DJs e produtores importantes. Como conseguiu isso?
Sanchez - Conheci Armand Van
Helden, Roger Sanchez, todos esses caras, aos 15 anos. Nos tornamos amigos, e eles me respeitam
muito. Acabei conhecendo muita
gente. Mas corri atrás, sou um cara de visão que se deu bem.
Texto Anterior: Noites de verão Próximo Texto: Música: "Café del Mar" é primeira série de chill-out nacional Índice
|