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Cinema/estréias - Crítica/"Um Amor Jovem"
Elenco livra drama da banalidade
Com tom contido e foco em pequenas emoções, filme de Ethan Hawke não cede ao sentimentalismo
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Cinéfilos e críticos gostam de cinema de autor, aqueles em que o
nome do diretor indica um universo temático, uma moral e
um modo de filmar pessoais e
inconfundíveis. Público e viciados em premiações como o Oscar costumam preferir filmes
de ator, aqueles em que o nome
do intérprete e sua atuação
guiam a escolha na hora de
comprar o ingresso ou pagar a
locadora. Entre um campo e
outro, costuma emergir um híbrido que poderia ser definido
como "cinema de ator".
Desta categoria, os nomes
que mais brilharam ao passar
para trás das câmeras foram
John Cassavetes e Paul Newman. Outros, como Jack Nicholson, Robert De Niro, Sean
Penn e Ed Harris, arriscaram-se a praticá-lo, com mais ou
menos brilho. Ethan Hawke
vem ensaiando seus passos.
Neste "Um Amor Jovem", seu
segundo longa, não tropeçou
nem caiu.
"Cinema de ator" não se resume a filmes dirigidos por atores. Uma das características do
"gênero" é que um ator, ao dirigir outros atores, investe no
que se supõe ser seu maior talento: a interpretação. Mas não
se trata de estimular aquelas
performances ganhadoras de
Oscar, e, sim, de levar o ator ao
ponto em que se apaga o trabalho de interpretação, em que a
simbiose com o personagem
enche esta tanto mais de vida
quanto mais se apaga a "persona" do ator que o encarna.
Em "Um Amor Jovem",
Hawke obtém essa mágica, e é
ela que injeta diferença num
drama romântico que parte de
premissas banais: jovem encontra garota; ele a encara como a alma gêmea; eles viajam
juntos para uma semana idílica
em que só o amor existe; ela subitamente o abandona; ele passa o resto do tempo comendo o
pão que o diabo amassou.
Hawke investe no par central
e mantém os personagens acessórios à margem (incluindo ele
próprio e uma aparição estranha, mas saborosa, de Sonia
Braga). O embate, portanto, fica a cargo do delicioso par composto por Mark Webber e Catalina Sandino Moreno.
De partida, os dois atores são
filmados do ponto de vista dos
corpos. A câmera os visa a meia
distância, captura-os na dança
da sedução, perambulando na
saída de um bar, brincando de
se apaixonar, na fissura do sexo
dos primeiros encontros.
Do mesmo modo contido, a
narrativa não impõe um ponto
de vista de um ao outro. Cada
um evoca seu passado em forma de auto-apresentação, e o
relato os segue, sugere se perder em um atalho e depois retoma o que interessa.
Quando se dá a ruptura, o filme nos deixa isolados com a
personagem do jovem abandonado. É através dele que o diretor representa a perda, e esta se
faz mais sensível no reencontro
pendular com os pais, figuras
ausentes que redefinem o espaço da solidão no qual William
enxerga seu esforço de tornar
crônica a doença que ele chama
de amor.
Desse modo, nem tão perto
nem tão longe, Ethan Hawke
consegue escapar dos riscos do
sentimentalismo e manter vibrantes as pequenas emoções.
E é isso que torna "Um Amor
Jovem" um belo filme.
UM AMOR JOVEM
Direção: Ethan Hawke
Com: Mark Webber, Catalina Sandino Moreno, Laura Linney
Produção: EUA, 2006
Onde: Reserva Cultural
Avaliação: bom
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