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Quinteto traz panorama do erudito no Brasil
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Comparada à produção
popular, a música erudita brasileira é bem
menos conhecida, tocada e executada. Quem quiser fechar o
ano com um panorama do que
nela se fez no século 20 tem
uma boa chance no recente CD
duplo do Quinteto Villa-Lobos.
Criado há 45 anos, o conjunto traz, em sua formação atual,
Antonio Carrasqueira (flauta),
Luís Carlos Justi (oboé), Paulo
Sergio Santos (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Aloysio
Fagerlande (fagote), e vem demonstrando não apenas qualidade técnica, como também
desenvoltura em estúdio.
O álbum inclui peças de 13
distintos autores, abarcando
um lapso de tempo de cinco décadas. Vai desde a primeira peça para a formação escrita no
Brasil, a "Suíte para Quinteto
de Sopros", de Lorenzo Fernandez (1807-1948), de 1926,
até o "Quinteto" do piracicabano de origem germânica Ernst
Mahle, 78, de 1974.
Não, do compositor que dá
nome ao grupo não há nada. O
quinteto já gravou muitas peças de Villa-Lobos, e a idéia
agora é mostrar, justamente,
que existe muita música erudita no Brasil para além da produção do autor das "Bachianas
Brasileiras" -que, de qualquer
maneira, está indiretamente
representado pelo "Divertimento" de um de seus amigos
mais próximos, o mineiro José
Vieira Brandão (1911-2002),
que dialoga abertamente com a
música popular.
O clima estético hegemônico
do disco é o nacionalismo, em
diversas manifestações -desde
a descritiva, singela e quase ingênua suíte de Fernandez até a
verve sedutora de Francisco
Mignone (1897-1985), passando pela veia militante de Camargo Guarnieri (1907-1993) e
seus discípulos, como Breno
Blauth (1931-1993), Osvaldo
Lacerda, 80, e Sérgio Vasconcellos Correia, 73.
Nem só de citações de temas
folclóricos e da busca de uma
"brasilidade" real ou imaginária, contudo, vive o álbum, como demonstram o interessante
"Quinteto de Sopros" escrito
em 1942 pelo primeiro compositor dodecafônico brasileiro, o
amazonense Cláudio Santoro
(1919-1989); o sólido "Quinteto
op. 29", do pernambucano
Marlos Nobre, 68; e o francamente vanguardista "Quinteto",
do baiano Lindembergue Cardoso. Uma variedade que vale,
no mínimo, conhecer.
QUINTETOS DE SOPROS BRASILEIROS - 1926-1974
Artista: Quinteto Villa-Lobos
Gravadora: Rádio MEC/Rob Digital
Avaliação: bom
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