São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Quinteto traz panorama do erudito no Brasil

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Comparada à produção popular, a música erudita brasileira é bem menos conhecida, tocada e executada. Quem quiser fechar o ano com um panorama do que nela se fez no século 20 tem uma boa chance no recente CD duplo do Quinteto Villa-Lobos.
Criado há 45 anos, o conjunto traz, em sua formação atual, Antonio Carrasqueira (flauta), Luís Carlos Justi (oboé), Paulo Sergio Santos (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote), e vem demonstrando não apenas qualidade técnica, como também desenvoltura em estúdio.
O álbum inclui peças de 13 distintos autores, abarcando um lapso de tempo de cinco décadas. Vai desde a primeira peça para a formação escrita no Brasil, a "Suíte para Quinteto de Sopros", de Lorenzo Fernandez (1807-1948), de 1926, até o "Quinteto" do piracicabano de origem germânica Ernst Mahle, 78, de 1974.
Não, do compositor que dá nome ao grupo não há nada. O quinteto já gravou muitas peças de Villa-Lobos, e a idéia agora é mostrar, justamente, que existe muita música erudita no Brasil para além da produção do autor das "Bachianas Brasileiras" -que, de qualquer maneira, está indiretamente representado pelo "Divertimento" de um de seus amigos mais próximos, o mineiro José Vieira Brandão (1911-2002), que dialoga abertamente com a música popular.
O clima estético hegemônico do disco é o nacionalismo, em diversas manifestações -desde a descritiva, singela e quase ingênua suíte de Fernandez até a verve sedutora de Francisco Mignone (1897-1985), passando pela veia militante de Camargo Guarnieri (1907-1993) e seus discípulos, como Breno Blauth (1931-1993), Osvaldo Lacerda, 80, e Sérgio Vasconcellos Correia, 73.
Nem só de citações de temas folclóricos e da busca de uma "brasilidade" real ou imaginária, contudo, vive o álbum, como demonstram o interessante "Quinteto de Sopros" escrito em 1942 pelo primeiro compositor dodecafônico brasileiro, o amazonense Cláudio Santoro (1919-1989); o sólido "Quinteto op. 29", do pernambucano Marlos Nobre, 68; e o francamente vanguardista "Quinteto", do baiano Lindembergue Cardoso. Uma variedade que vale, no mínimo, conhecer.


QUINTETOS DE SOPROS BRASILEIROS - 1926-1974
Artista:
Quinteto Villa-Lobos
Gravadora: Rádio MEC/Rob Digital
Avaliação: bom


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