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ARTES PLÁSTICAS
"Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira" é criticada por artista, mas elogiada pela imprensa
Exposição leva o tropicalismo a Londres
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Obras de Hélio Oiticica (1937-1980) fundadoras do tropicalismo
ao lado de instalações produzidas
no século 21 pelo coletivo Assume
Vivid Astro Focus; Lygia Pape
(1929-2004) e Lygia Clark (1920-1988) no mesmo balaio de AfroReggae e DJ Marlboro; Tom Zé e a
coreógrafa Deborah Colker, Orquestra Imperial e Totonho e Os
Cabra.
Sob o rótulo do movimento de
vanguarda do final dos anos 60, a
geléia geral reunida na mostra
"Tropicália, Uma Revolução na
Cultura Brasileira", aberta na semana passada e que fica até maio
no centro cultural Barbican, em
Londres, ressalta a controvérsia
que a um só tempo legitima e confunde o tropicalismo.
Para os organizadores, nada
mais tropicalista -uma geléia geral, no bom sentido. Para os críticos, nada além de uma geléia geral, no mau sentido.
Primeiro estes. À frente deles o
artista plástico Antonio Manuel.
Convidado pelo curador argentino Carlos Basualdo a integrar a
exposição, recusou.
Conceitos equivocados
"A conceituação é equivocada,
não busca a raiz da idéia do Hélio.
Parece mais uma feira que uma
exposição. É que a idéia da tropicália vende bem como banana",
afirma Manuel, que diz ter sido
um dos dois únicos artistas chamados por Oiticica a participar,
em 1967, da mostra no MAM
(Museu de Arte Moderna) do Rio
em que foi exibida a instalação interativa que batizou o movimento
-com araras, plantas tropicais,
areia e uma TV em um barraco.
"O Basualdo é um curador jovem. Não lhe interessa se há profundidade ou não. O que interessa
é vender", diz o artista.
Acompanhando Manuel, mas
sem o belicismo de suas críticas,
está o crítico inglês Guy Brett, autor de "Brasil Experimental - Arte/Vida: Proposições e Paradoxos" (ed. Contra Capa, R$ 85, 296
págs.), um alentado livro de ensaios sobre artistas contemporâneos do país. É uma sumidade em
Oiticica. Ajudou a organizar a primeira mostra dele em Londres, na
galeria Whitechapel, em 1969.
Brett foi chamado para participar da montagem de "Éden",
uma das obras de Oiticica expostas no Barbican, mas não topou.
Alega que não queria interferir na
curadoria de Basualdo. Mas sugere que há mais.
Crítica
"Éden é uma crítica do Oiticica
ao que aconteceu com [a instalação] Tropicália. Ele achava que as
pessoas não tinham entendido,
que tinham tido uma imagem superficial. É difícil ter essa idéia
nessa mostra, porque tudo está
junto, como um fenômeno", disse
o crítico à Folha.
"Consigo entendê-lo [Manuel].
Tudo é muito simplificado quando uma cultura olha para outra.
Isso [que atrações musicais ofusquem as artes plásticas] é verdade, e é típico. Imagino que seria o
equivalente se fosse a mostra de
um movimento artístico britânico, mas com bandas de rock se
exibindo, e as pessoas dizendo:
qual a conexão?"
Brett evita, porém, criticar especificamente a mostra de artes
plásticas do festival.
"Fui à abertura, mas não vi o catálogo nem consegui olhar tudo.
Não posso dizer se [as obras] fazem sentido como um conceito,
mas há trabalhos fantásticos ali,
foi um prazer ver tantas coisas interessantes."
Basualdo, claro, assina embaixo. "Londres está dando a dimensão do que foi a tropicália, sua diversidade. Será a apresentação
definitiva do movimento", diz o
curador argentino, que sugere aos
críticos a leitura do enorme catálogo que organizou, de 370 páginas (Cosacnaify, preço ainda a definir).
Para ele, a extensa programação
musical -que inclui ainda Gal
Costa, Nação Zumbi e Mutantes,
com um histórico reencontro no
palco dos irmãos Dias Baptista-,
apenas tende a jogar luzes sobre
as artes plásticas.
"Essa sinergia é maravilhosa. A
ressonância da música na imprensa só nos ajudará." De fato. O
"Times" e o "Telegraph", dois dos
principais diários londrinos, fizeram resenhas elogiosas sobre a
exposição, exaltando a "audácia
criativa" do tropicalismo e o impacto "desconcertante" das obras
de seus artistas.
Além de artes plásticas e música, haverá até maio exibição de filmes, workshops e debates. A programação completa está no site
do centro cultural (www.barbican.org.uk).
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