São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

"Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira" é criticada por artista, mas elogiada pela imprensa

Exposição leva o tropicalismo a Londres

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Obras de Hélio Oiticica (1937-1980) fundadoras do tropicalismo ao lado de instalações produzidas no século 21 pelo coletivo Assume Vivid Astro Focus; Lygia Pape (1929-2004) e Lygia Clark (1920-1988) no mesmo balaio de AfroReggae e DJ Marlboro; Tom Zé e a coreógrafa Deborah Colker, Orquestra Imperial e Totonho e Os Cabra.
Sob o rótulo do movimento de vanguarda do final dos anos 60, a geléia geral reunida na mostra "Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira", aberta na semana passada e que fica até maio no centro cultural Barbican, em Londres, ressalta a controvérsia que a um só tempo legitima e confunde o tropicalismo.
Para os organizadores, nada mais tropicalista -uma geléia geral, no bom sentido. Para os críticos, nada além de uma geléia geral, no mau sentido.
Primeiro estes. À frente deles o artista plástico Antonio Manuel. Convidado pelo curador argentino Carlos Basualdo a integrar a exposição, recusou.

Conceitos equivocados
"A conceituação é equivocada, não busca a raiz da idéia do Hélio. Parece mais uma feira que uma exposição. É que a idéia da tropicália vende bem como banana", afirma Manuel, que diz ter sido um dos dois únicos artistas chamados por Oiticica a participar, em 1967, da mostra no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio em que foi exibida a instalação interativa que batizou o movimento -com araras, plantas tropicais, areia e uma TV em um barraco.
"O Basualdo é um curador jovem. Não lhe interessa se há profundidade ou não. O que interessa é vender", diz o artista.
Acompanhando Manuel, mas sem o belicismo de suas críticas, está o crítico inglês Guy Brett, autor de "Brasil Experimental - Arte/Vida: Proposições e Paradoxos" (ed. Contra Capa, R$ 85, 296 págs.), um alentado livro de ensaios sobre artistas contemporâneos do país. É uma sumidade em Oiticica. Ajudou a organizar a primeira mostra dele em Londres, na galeria Whitechapel, em 1969.
Brett foi chamado para participar da montagem de "Éden", uma das obras de Oiticica expostas no Barbican, mas não topou. Alega que não queria interferir na curadoria de Basualdo. Mas sugere que há mais.

Crítica
"Éden é uma crítica do Oiticica ao que aconteceu com [a instalação] Tropicália. Ele achava que as pessoas não tinham entendido, que tinham tido uma imagem superficial. É difícil ter essa idéia nessa mostra, porque tudo está junto, como um fenômeno", disse o crítico à Folha.
"Consigo entendê-lo [Manuel]. Tudo é muito simplificado quando uma cultura olha para outra. Isso [que atrações musicais ofusquem as artes plásticas] é verdade, e é típico. Imagino que seria o equivalente se fosse a mostra de um movimento artístico britânico, mas com bandas de rock se exibindo, e as pessoas dizendo: qual a conexão?"
Brett evita, porém, criticar especificamente a mostra de artes plásticas do festival.
"Fui à abertura, mas não vi o catálogo nem consegui olhar tudo. Não posso dizer se [as obras] fazem sentido como um conceito, mas há trabalhos fantásticos ali, foi um prazer ver tantas coisas interessantes."
Basualdo, claro, assina embaixo. "Londres está dando a dimensão do que foi a tropicália, sua diversidade. Será a apresentação definitiva do movimento", diz o curador argentino, que sugere aos críticos a leitura do enorme catálogo que organizou, de 370 páginas (Cosacnaify, preço ainda a definir).
Para ele, a extensa programação musical -que inclui ainda Gal Costa, Nação Zumbi e Mutantes, com um histórico reencontro no palco dos irmãos Dias Baptista-, apenas tende a jogar luzes sobre as artes plásticas.
"Essa sinergia é maravilhosa. A ressonância da música na imprensa só nos ajudará." De fato. O "Times" e o "Telegraph", dois dos principais diários londrinos, fizeram resenhas elogiosas sobre a exposição, exaltando a "audácia criativa" do tropicalismo e o impacto "desconcertante" das obras de seus artistas.
Além de artes plásticas e música, haverá até maio exibição de filmes, workshops e debates. A programação completa está no site do centro cultural (www.barbican.org.uk).


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