São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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Latino-americanos oferecem a esperança como contraponto

DE NOVA YORK

Nunca parecemos tão esperançosos quanto no passado. A exposição "MoMA no Museo" levada no El Museo del Barrio, em Nova York, que reúne dos muralistas mexicanos a Hélio Oiticica, faz do século 20 latino-americano um contraponto para o presente melancólico do norte.
São cerca de 150 obras que ficarão até o final de julho no edifício do Harlem, parte de mais de 2.000 pertencentes à coleção de arte latino-americana do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), que foram emprestadas para a exposição.
Dividida cronologicamente, a mostra abrange desde os chamados "três grandes" (os mexicanos Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Siqueiros), adquiridas pelo MoMA antes de 1935, até obras contemporâneas do acervo, que inclui Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Beatriz Milhazes.
Na primeira curva dos quadros à mostra, os "Zapatistas", de 1931, do mexicano José Clemente Orozco, com seus chapelões, cavalos, as mulheres atrás, a caminho do que -eles achavam- seria a mudança no México.
Em seguida, 16 aquarelas de Diego Rivera, retratos do "Dia do Trabalho, Moscou". Em 1928, quando foram pintadas, ninguém ameaçava a crença que aqueles trabalhadores, com suas bandeiras vermelhas, representavam.
Portinari e a favela brasileira -ainda com ladeiras de terra, casinhas espaçadas, baía da Guanabara e avião ao fundo- fazem companhia a Rivera e Orozco.
A esperança mais marcadamente política também cede espaço para outro traço característico da arte do continente, mais especificamente do Brasil: uma certa esperança "formal", que colocou por momentos alguns artistas dessa região na vanguarda da produção mundial.
É o caso de Oiticica, representado aqui com suas formas geométricas, e de Mira Schendel, autora de abstratos "com emoção".
Mas são os que desobedecem essa que parece ser a regra coletiva dos latinos do século passado -a crença de que é possível mudar o mundo- que, não só por contraste, se destacam.
Frida Kahlo pinta um auto-retrato com cabelo cortado. E seus primos melancólicos brasileiros, verdadeiros gênios, também estão lá: Alberto da Veiga Guignard e José Leonilson.
É curioso que, desta vez, seja numa noite de são João de sonho (Guignard), com seus balões sobre as montanhas de Ouro Preto, e sobre uma fronha com cicatrizes (Leonilson) que as Américas do Norte e do Sul venham a se encontrar. (RC)


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