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Latino-americanos oferecem a esperança como contraponto
DE NOVA YORK
Nunca parecemos tão esperançosos quanto no passado. A exposição "MoMA no Museo" levada
no El Museo del Barrio, em Nova
York, que reúne dos muralistas
mexicanos a Hélio Oiticica, faz do
século 20 latino-americano um
contraponto para o presente melancólico do norte.
São cerca de 150 obras que ficarão até o final de julho no edifício
do Harlem, parte de mais de 2.000
pertencentes à coleção de arte latino-americana do MoMA (Museu
de Arte Moderna de Nova York),
que foram emprestadas para a exposição.
Dividida cronologicamente, a
mostra abrange desde os chamados "três grandes" (os mexicanos
Diego Rivera, José Clemente
Orozco e David Siqueiros), adquiridas pelo MoMA antes de 1935,
até obras contemporâneas do
acervo, que inclui Hélio Oiticica,
Cildo Meireles e Beatriz Milhazes.
Na primeira curva dos quadros
à mostra, os "Zapatistas", de 1931,
do mexicano José Clemente
Orozco, com seus chapelões, cavalos, as mulheres atrás, a caminho do que -eles achavam- seria a mudança no México.
Em seguida, 16 aquarelas de
Diego Rivera, retratos do "Dia do
Trabalho, Moscou". Em 1928,
quando foram pintadas, ninguém
ameaçava a crença que aqueles
trabalhadores, com suas bandeiras vermelhas, representavam.
Portinari e a favela brasileira
-ainda com ladeiras de terra, casinhas espaçadas, baía da Guanabara e avião ao fundo- fazem
companhia a Rivera e Orozco.
A esperança mais marcadamente política também cede espaço para outro traço característico da arte do continente, mais especificamente do Brasil: uma certa esperança "formal", que colocou por momentos alguns artistas
dessa região na vanguarda da
produção mundial.
É o caso de Oiticica, representado aqui com suas formas geométricas, e de Mira Schendel, autora
de abstratos "com emoção".
Mas são os que desobedecem
essa que parece ser a regra coletiva dos latinos do século passado
-a crença de que é possível mudar o mundo- que, não só por
contraste, se destacam.
Frida Kahlo pinta um auto-retrato com cabelo cortado. E seus
primos melancólicos brasileiros,
verdadeiros gênios, também estão lá: Alberto da Veiga Guignard
e José Leonilson.
É curioso que, desta vez, seja
numa noite de são João de sonho
(Guignard), com seus balões sobre as montanhas de Ouro Preto,
e sobre uma fronha com cicatrizes
(Leonilson) que as Américas do
Norte e do Sul venham a se encontrar.
(RC)
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