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Morre aos 70 produtor Guilherme Araújo
Empresário de nomes como Gal Costa, Gil e Caetano, Araújo era considerado co-idealizador do tropicalismo
Araújo morreu de infecção generalizada após estar internado por três semanas em hospital no Rio; corpo deve ser cremado hoje
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em seu livro "Verdade Tropical", Caetano Veloso escreveu
que Guilherme Araújo foi "um
co-idealizador do movimento
[tropicalista]". O produtor, responsável por parte da embalagem visual e comportamental
do tropicalismo, morreu ontem, aos 70 anos, no Rio.
Diabético, hipertenso e cardíaco, Araújo estava internado
há três semanas no Hospital
Clínica Ipanema (zona sul). Ele
foi hospitalizado por conta de
uma infecção na perna direita,
que teve de ser amputada. A
piora de seu estado culminou
em infecção generalizada.
Seu corpo foi velado ontem
no cemitério São João Batista,
em Botafogo (zona sul), e deverá ser cremado hoje no cemitério do Caju (zona portuária).
Vaidoso, ambicioso e muito
inteligente, o carioca Guilherme Araújo foi um gênio do marketing muito antes de existir a
expressão "marqueteiro".
Os "baianos" foram a melhor
matéria-prima que poderia encontrar para pôr em prática
seus sonhos.
Araújo, que começara a carreira realizando programas para a TV Tupi, aproximou-se do
grupo através da única que
nunca seria uma militante tropicalista. Fascinado por Maria
Bethânia desde que a viu cantar
no espetáculo "Opinião", ele dirigiu a cantora em 1966, no
show "Recital".
Em seguida, passou a produzir Gal Costa, Gilberto Gil e
Caetano Veloso. A independente Bethânia, no entanto, logo
preferiu se dissociar de Araújo.
"Guilherme era um personagem fascinante. Prognata, de
braços finos e ombros estreitos,
ele, que com sua feiúra combinada a um ar imodesto tinha
tudo para ser repulsivo, terminava por cativar quem quer que
transpusesse a barreira do primeiro impacto e realmente dele se aproximasse", diz Caetano
em "Verdade Tropical".
O trecho ilustra o misto de
fascínio e repulsa que sempre
marcou a relação dos baianos
com Araújo. Suas idéias cosmopolitas, seu interesse por Beatles e pela cultura pop, interessavam a Caetano e Gil, que
aproveitaram a convivência
com o produtor para fechar o
ideário tropicalista -pequeno
exemplo: "Divino, Maravilhoso", nome de música e programa de TV do movimento, era
uma expressão de Araújo.
De Gau a Gal
Mas também havia o outro
lado. Araújo gostava de dar palpite em todas as etapas do trabalho, das roupas às letras.
Muitas de suas sugestões eram
consideradas fúteis de tão pop e
revoltavam os artistas. Mas foi
graças a ele, por exemplo, que
surgiu o nome Gal Costa, pois
antes a cantora era só Gracinha
ou Gau (escrevia-se assim) para
os íntimos.
Mesmo reconhecendo a importância dele para suas carreiras, aos poucos os baianos foram se afastando de Araújo, até
por causa de sua porção empresário. Segundo Caetano em seu
livro, "suas habilidades empresariais (...) se tornaram bastante desastradas com o tempo".
Gil e Araújo chegaram a travar uma batalha judicial nos
anos 90 por direitos sobre parte das músicas do compositor,
mas depois chegaram a um
acordo. Com Caetano e Gal, as
pazes também foram feitas.
Outros nomes com quem
Araújo trabalhou, como Jorge
Ben Jor, Tom Zé e Jards Macalé, também deixaram de ser
empresariados por ele na década de 70.
Nos anos 80 e 90, Araújo
atuou mais em produções de
casas noturnas -incluindo aí
os famosos shows e festas do
morro da Urca- e bailes de carnaval do Rio.
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