São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Morre aos 70 produtor Guilherme Araújo

Empresário de nomes como Gal Costa, Gil e Caetano, Araújo era considerado co-idealizador do tropicalismo

Araújo morreu de infecção generalizada após estar internado por três semanas em hospital no Rio; corpo deve ser cremado hoje


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em seu livro "Verdade Tropical", Caetano Veloso escreveu que Guilherme Araújo foi "um co-idealizador do movimento [tropicalista]". O produtor, responsável por parte da embalagem visual e comportamental do tropicalismo, morreu ontem, aos 70 anos, no Rio.
Diabético, hipertenso e cardíaco, Araújo estava internado há três semanas no Hospital Clínica Ipanema (zona sul). Ele foi hospitalizado por conta de uma infecção na perna direita, que teve de ser amputada. A piora de seu estado culminou em infecção generalizada.
Seu corpo foi velado ontem no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul), e deverá ser cremado hoje no cemitério do Caju (zona portuária).
Vaidoso, ambicioso e muito inteligente, o carioca Guilherme Araújo foi um gênio do marketing muito antes de existir a expressão "marqueteiro".
Os "baianos" foram a melhor matéria-prima que poderia encontrar para pôr em prática seus sonhos.
Araújo, que começara a carreira realizando programas para a TV Tupi, aproximou-se do grupo através da única que nunca seria uma militante tropicalista. Fascinado por Maria Bethânia desde que a viu cantar no espetáculo "Opinião", ele dirigiu a cantora em 1966, no show "Recital".
Em seguida, passou a produzir Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso. A independente Bethânia, no entanto, logo preferiu se dissociar de Araújo.
"Guilherme era um personagem fascinante. Prognata, de braços finos e ombros estreitos, ele, que com sua feiúra combinada a um ar imodesto tinha tudo para ser repulsivo, terminava por cativar quem quer que transpusesse a barreira do primeiro impacto e realmente dele se aproximasse", diz Caetano em "Verdade Tropical".
O trecho ilustra o misto de fascínio e repulsa que sempre marcou a relação dos baianos com Araújo. Suas idéias cosmopolitas, seu interesse por Beatles e pela cultura pop, interessavam a Caetano e Gil, que aproveitaram a convivência com o produtor para fechar o ideário tropicalista -pequeno exemplo: "Divino, Maravilhoso", nome de música e programa de TV do movimento, era uma expressão de Araújo.

De Gau a Gal
Mas também havia o outro lado. Araújo gostava de dar palpite em todas as etapas do trabalho, das roupas às letras. Muitas de suas sugestões eram consideradas fúteis de tão pop e revoltavam os artistas. Mas foi graças a ele, por exemplo, que surgiu o nome Gal Costa, pois antes a cantora era só Gracinha ou Gau (escrevia-se assim) para os íntimos.
Mesmo reconhecendo a importância dele para suas carreiras, aos poucos os baianos foram se afastando de Araújo, até por causa de sua porção empresário. Segundo Caetano em seu livro, "suas habilidades empresariais (...) se tornaram bastante desastradas com o tempo".
Gil e Araújo chegaram a travar uma batalha judicial nos anos 90 por direitos sobre parte das músicas do compositor, mas depois chegaram a um acordo. Com Caetano e Gal, as pazes também foram feitas.
Outros nomes com quem Araújo trabalhou, como Jorge Ben Jor, Tom Zé e Jards Macalé, também deixaram de ser empresariados por ele na década de 70.
Nos anos 80 e 90, Araújo atuou mais em produções de casas noturnas -incluindo aí os famosos shows e festas do morro da Urca- e bailes de carnaval do Rio.


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