São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

RENOIR

Mostra exibe obras de importantes acervos do mundo, mas é construída a partir da coleção de São Paulo

Brasil vê a maior exposição do pintor francês

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Dando continuidade à sua tradição com impressionistas, o Masp inaugura hoje a exposição "Renoir - O Pintor da Vida". O subtítulo reflete bem o que se pode esperar de uma grande exposição do pintor francês: banhistas, crianças, amigos, nus, enfim, traços humanos que se impõem sobre as naturezas-mortas que também estão presentes.
A mostra, dividida em cinco módulos, reúne obras do acervo do Masp, além de outras vindas de museus como a National Gallery of Art, de Washington, o Metropolitan Museum of Art, de Nova York, o Musée d'Orsay, em Paris, a Biblioteca Nacional da França e o Petit Palais.
"A idéia dos módulos partiu de Anne Distel [curadora-geral do Musée d'Orsay e supervisora da exposição], a maior autoridade no pequeno mundo de Renoir", diz Romaric Büel, um dos organizadores da exposição. "Ela conhece de cor a coleção do Masp e quis enfatizar os núcleos que existem no museu. Há coisas muito importantes, como a família Le Coeur", completa.
A importância do acervo do Masp é repetida por todos os curadores de museus que emprestaram obras para a exposição, como Marie Pessiot, curadora-chefe do Museu de Belas Artes de Rouen, que emprestou à exposição "Femme au Miroir" ("Mulher no Espelho"). "As obras do Masp são fundamentais. Não haveria exposição sem elas", diz Pessiot.
A presença de 12 telas e uma escultura do "pintor da vida" no acervo do Masp foi capital para a exposição. "A coleção do Masp nos permitiu fazer um apanhado geral da produção dele", explica uma das curadoras da exposição, Eugênia Gorini Esmeraldo.
A mostra começa com "Os Amigos de Renoir", núcleo que apresenta obras de Cézanne, Monet, Manet, Degas, Corot e Utrillo, todas pertencentes ao acervo do Masp, além de correspondências, que procuram situar o visitante no cotidiano de Renoir.
Em seguida, vem "Obra Gráfica", com 56 gravuras e dois livros de Émile Zola ilustrados por Renoir, trazidos da Biblioteca Nacional da França (BNF). "A França gostaria de retribuir ao Brasil e sobretudo ao Masp os empréstimos que o museu fez, por vários anos, de obras impressionistas a todas as grandes retrospectivas que aconteceram na França." Quem agradece agora é Claude Bouret, curador-chefe do Departamento de Gravuras da BNF.
Entre as gravuras, estudos de obras se confundem com o perfeccionismo de Renoir, mostrado, por exemplo, na série "Chapéu Preso com Alfinete", com cinco versões do mesmo tema, que começa com composição monocromática e termina numa prova com 11 cores. "Como Renoir começa as gravuras na segunda parte de sua vida, elas são uma espécie de resumo, de quintessência de sua criação", diz Bouret.
"É um artista que pratica a gravura com toda a riqueza inventiva de um pintor." Em água-forte e litografia, estão lá os retratos de seus amigos, como Cézanne, Berthe Morisot, Rodin e Ambroise Vollard, marchand que o estimulou a se aventurar nas gravuras e esculturas, além de um Richard Wagner que, segundo explica Bouret, "foi feito em meia hora, pois Wagner estava sem tempo".
Em seguida, o módulo "Família Le Coeur" parte de uma das obras de Renoir mais significativas do acervo do Masp, "Jules le Coeur dans la Forêt de Fontainebleau", para descrever a relação do pintor com a família, em óleos, cartas e aquarelas que decorariam as casas do arquiteto Charles le Coeur. "Ele tinha sido introduzido nesse mundo artistocrático justamente pelos Le Coeur", diz Esmeraldo.
Chegando ao módulo "A Obra de Renoir", já preparado, o visitante aprecia as banhistas, os nus em óleos e os seus grandes clássicos, como "Os Remadores em Chatou", "Rosa e Azul" e "A Dança em Bougival", os retratos frugais da vida francesa novecentista. "Renoir era um produto da Revolução Industrial", analisa Romaric Büel, "sem preocupações sociais, fazendo apenas os retratos de família, de amigos, cenas de festas simples primeiro, depois festas mundanas, ao contrário de seus filhos, que depois seriam tão politizados", diz, referindo-se principalmente ao segundo filho, Jean, cineasta.
"Renoir é um artista que mostra um mundo muito agradável, que leva a uma coisa boa. Existe uma alegria constante. O subtítulo da exposição é "O Pintor da Vida" porque na verdade é o que gostaríamos que a vida fosse para todos, com uma certa alegria", diz Esmeraldo, concordando com Renoir quando ele diz que "a dor passa, a beleza fica".


RENOIR, O PINTOR DA VIDA.
Curadoria: Luiz Hossaka e Eugênia Gorini Esmeraldo. Onde: Masp (av. Paulista, 1.587, tel. 0/xx/11/251-5644. Quando: inauguração hoje, às 19h, para convidados; de ter. a dom., das 11h às 18h; a bilheteria fecha com uma hora de antecedência. Quanto: R$ 10, R$ 5 (estudantes), grátis para adultos com mais de 60 anos e crianças com menos de dez anos. Patrocinadores: Bradesco Seguros, Eletropaulo, Folha.




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