São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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ANÁLISE

O mais clássico dos impressionistas

TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

No ano de 1862, em Paris, o empenhado Renoir conheceu no ateliê do professor Gleyre um Monet intrigado e incomodado pela pintura acadêmica. Embora possuíssem temperamentos muito diversos, os artistas se identificaram. Ambos admiravam a pintura de Delacroix e eram repreendidos pelo seu mestre por não seguirem as regras de composição da academia.
Do companheirismo desses artistas, ao lado de outros como Sisley e Bazille, iniciou-se o que seria conhecido na história da arte como impressionismo. O que era visto como defeito nos trabalhos, pelo mestre acadêmico, era entendido por eles como potencial.
A objetividade do olhar em Monet e a preponderância da cor em Renoir não conseguiam ficar aprisionadas pelo formal.
Radicalmente modernos, sua pintura era contaminada pela presença da luz. Pintada a partir de um olhar que considerava a sua posição no espaço. Buscavam a possibilidade de reconstruir um olhar único, sobre um presente que se esvaía.
Monet caminhou na direção de pintura mais espessa e descontínua, afastava-se da pintura ilusionista em direção de uma composição radical, baseada na singularidade dos meios.
Renoir parece ter seguido o caminho oposto. A pincelada aberta e a indefinição no contorno de seus trabalhos, caracterizados pela aparência inconclusa e descentrada da pintura, para uma concepção que garantisse um tom cada vez mais clássico.
Certamente, tratava-se de um classicismo distinto daquele predominante na academia francesa do século 19. Ressoava uma aparência do rococó e pagava tributo à pintura de Rafael, pintor estudado por Renoir com o maior interesse em sua viagem à Itália em 1881. O tom classicizante chegou a tal ponto que em 1884 Renoir afirmou ter se desinteressado completamente pelo impressionismo.
Mas é importante ressaltar que não se tratou de uma ruptura brusca. Já durante o impressionismo, sua utilização da pincelada aberta e a construção de um ponto de vista luminoso, apesar de revolucionário, já apontavam para um tom mais compositivo.
Ao se distanciar das pré-concepções espaciais, o artista encontrava um grau de vivacidade da luz que a sisudez acadêmica desaconselhava. O historiador E.H. Gombrich ressaltava a busca por uma dinâmica otimista na incompletude da cena pintada por Renoir. E a cena pareceu dominar cada vez mais a sua pintura.
Demonstrando que aquele brilho talvez atuasse mais como um patinado, que desse ao mundo maior graça. Embora sua pintura tenha se tornado menos viva.


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