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ANÁLISE
O mais clássico dos impressionistas
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
No ano de 1862, em Paris, o
empenhado Renoir conheceu no ateliê do professor Gleyre
um Monet intrigado e incomodado pela pintura acadêmica. Embora possuíssem temperamentos
muito diversos, os artistas se
identificaram. Ambos admiravam a pintura de Delacroix e
eram repreendidos pelo seu mestre por não seguirem as regras de
composição da academia.
Do companheirismo desses artistas, ao lado de outros como Sisley e Bazille, iniciou-se o que seria
conhecido na história da arte como impressionismo. O que era
visto como defeito nos trabalhos,
pelo mestre acadêmico, era entendido por eles como potencial.
A objetividade do olhar em Monet e a preponderância da cor em
Renoir não conseguiam ficar
aprisionadas pelo formal.
Radicalmente modernos, sua
pintura era contaminada pela
presença da luz. Pintada a partir
de um olhar que considerava a
sua posição no espaço. Buscavam
a possibilidade de reconstruir um
olhar único, sobre um presente
que se esvaía.
Monet caminhou na direção de
pintura mais espessa e descontínua, afastava-se da pintura ilusionista em direção de uma composição radical, baseada na singularidade dos meios.
Renoir parece ter seguido o caminho oposto. A pincelada aberta
e a indefinição no contorno de
seus trabalhos, caracterizados pela aparência inconclusa e descentrada da pintura, para uma concepção que garantisse um tom cada vez mais clássico.
Certamente, tratava-se de um
classicismo distinto daquele predominante na academia francesa
do século 19. Ressoava uma aparência do rococó e pagava tributo
à pintura de Rafael, pintor estudado por Renoir com o maior interesse em sua viagem à Itália em
1881. O tom classicizante chegou a
tal ponto que em 1884 Renoir afirmou ter se desinteressado completamente pelo impressionismo.
Mas é importante ressaltar que
não se tratou de uma ruptura
brusca. Já durante o impressionismo, sua utilização da pincelada aberta e a construção de um
ponto de vista luminoso, apesar
de revolucionário, já apontavam
para um tom mais compositivo.
Ao se distanciar das pré-concepções espaciais, o artista encontrava um grau de vivacidade da
luz que a sisudez acadêmica desaconselhava. O historiador E.H.
Gombrich ressaltava a busca por
uma dinâmica otimista na incompletude da cena pintada por Renoir. E a cena pareceu dominar
cada vez mais a sua pintura.
Demonstrando que aquele brilho talvez atuasse mais como um
patinado, que desse ao mundo
maior graça. Embora sua pintura
tenha se tornado menos viva.
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