|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CDS
"BLUEBERRY BOAT"
Humor do duo costura grandes idéias em músicas grandes
Fiery Furnaces chuta regras em operetas da despretensão
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os irmãos Matthew e Eleanor Friedberger, do duo
Fiery Furnaces, não vão reeditar a
história de sucesso de Meg e Jack,
dos White Stripes. Mas o pop vai
ficar um pouco mais esperto com
eles, se seu segundo disco, "Blueberry Boat", exercer influências.
Não que eles façam pop. O formato típico de canção (estrofe, refrão, estrofe, refrão, ponte, refrão)
é deliberadamente abandonado
em músicas que duram de 2 a 11
minutos -um caos de extensões
só aceitável em rádios eruditas.
"Trata-se de jogar um outro tipo de jogo, que num momento
você considera mais interessante", afirma à Folha o multiinstrumentista e letrista Matthew.
O resultado é que, em uma canção, o ouvinte consegue reconhecer idéias que gerariam, no mínimo, outras cinco pérolas pop bastante invejáveis.
Dizendo assim, parece rock
progressivo, e a tendência é torcer
narizes, mas a patológica despretensão os livra do rótulo. Com
suas "operetas-rock" e um pé no
folk, levam à loucura o ouvinte
habituado a formas mais fáceis.
Um dos grandes exemplos disso
é a segunda faixa, "Straight
Street". Depois de uns dois temas
bastante "brincalhões", a música
emenda um refrão sensacional de
duas frases, que batiza a música.
Nessa hora, a melodia da voz de
Eleanor fica majestosa, ascende e
todo mundo fica esperando um
"gran finale". Só que, no fim da
segunda frase, tudo aquilo que Elton John buscaria para um novo
hit é dispensado com um arremate digno de desenho animado.
Os Friedberger tampouco se
preocupam em ser "temáticos".
Nas letras, escritas por Matthew e
deliciosamente interpretadas por
Eleanor, podem figurar tanto a
perda de um cachorro quanto
uma viagem ao Leste Europeu em
que os americanos de Illinois percebem que as pessoas estão muito
preocupadas com os jogos de futebol da Copa dos Campeões.
"São as letras que decidem a extensão das músicas", afirma Matthew. Quanto ao tema, ele usa o
Clash como exemplo. "No disco
"Sandinista", eles conseguem
abordar uma enorme variedade
de temas. Também tenho essa
concepção de que uma banda de
rock pode falar sobre qualquer
coisa que exista no mundo."
O humor e o descompromisso
com a idéia de pop perfeito celebrizada por bandas como Travis e
Coldplay tem muito a ver com a
despretensão com o sucesso.
"Nos Estados Unidos, uma banda precisa de um investimento de
US$ 1 milhão (R$ 2,6 milhões) para fazer sucesso em rádios. Quando você entende que isso está longe de você, fica à vontade para experimentar", diz Matthew, que cita entre suas influências Who
-principalmente a fantástica "A
Quick One"- e Mutantes.
"Gosto bastante deles, que conheci por uma coletânea japonesa. Também gosto muito de Caetano e Gilberto Gil", afirma.
Blueberry Boat
Artista: Fiery Furnaces
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 32, em média
Texto Anterior: Nas lojas Próximo Texto: Rock: Kings of Leon encaixa referências Índice
|