São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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CDS

"BLUEBERRY BOAT"

Humor do duo costura grandes idéias em músicas grandes

Fiery Furnaces chuta regras em operetas da despretensão

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os irmãos Matthew e Eleanor Friedberger, do duo Fiery Furnaces, não vão reeditar a história de sucesso de Meg e Jack, dos White Stripes. Mas o pop vai ficar um pouco mais esperto com eles, se seu segundo disco, "Blueberry Boat", exercer influências.
Não que eles façam pop. O formato típico de canção (estrofe, refrão, estrofe, refrão, ponte, refrão) é deliberadamente abandonado em músicas que duram de 2 a 11 minutos -um caos de extensões só aceitável em rádios eruditas.
"Trata-se de jogar um outro tipo de jogo, que num momento você considera mais interessante", afirma à Folha o multiinstrumentista e letrista Matthew.
O resultado é que, em uma canção, o ouvinte consegue reconhecer idéias que gerariam, no mínimo, outras cinco pérolas pop bastante invejáveis.
Dizendo assim, parece rock progressivo, e a tendência é torcer narizes, mas a patológica despretensão os livra do rótulo. Com suas "operetas-rock" e um pé no folk, levam à loucura o ouvinte habituado a formas mais fáceis.
Um dos grandes exemplos disso é a segunda faixa, "Straight Street". Depois de uns dois temas bastante "brincalhões", a música emenda um refrão sensacional de duas frases, que batiza a música.
Nessa hora, a melodia da voz de Eleanor fica majestosa, ascende e todo mundo fica esperando um "gran finale". Só que, no fim da segunda frase, tudo aquilo que Elton John buscaria para um novo hit é dispensado com um arremate digno de desenho animado.
Os Friedberger tampouco se preocupam em ser "temáticos". Nas letras, escritas por Matthew e deliciosamente interpretadas por Eleanor, podem figurar tanto a perda de um cachorro quanto uma viagem ao Leste Europeu em que os americanos de Illinois percebem que as pessoas estão muito preocupadas com os jogos de futebol da Copa dos Campeões.
"São as letras que decidem a extensão das músicas", afirma Matthew. Quanto ao tema, ele usa o Clash como exemplo. "No disco "Sandinista", eles conseguem abordar uma enorme variedade de temas. Também tenho essa concepção de que uma banda de rock pode falar sobre qualquer coisa que exista no mundo."
O humor e o descompromisso com a idéia de pop perfeito celebrizada por bandas como Travis e Coldplay tem muito a ver com a despretensão com o sucesso.
"Nos Estados Unidos, uma banda precisa de um investimento de US$ 1 milhão (R$ 2,6 milhões) para fazer sucesso em rádios. Quando você entende que isso está longe de você, fica à vontade para experimentar", diz Matthew, que cita entre suas influências Who -principalmente a fantástica "A Quick One"- e Mutantes.
"Gosto bastante deles, que conheci por uma coletânea japonesa. Também gosto muito de Caetano e Gilberto Gil", afirma.


Blueberry Boat
   
Artista: Fiery Furnaces
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 32, em média


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