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CRÍTICA
Disco foi feito para ganhar dinheiro
da Reportagem Local
Lulu Santos é um exímio papudo. Como de hábito, fecha um discurso coeso em torno do novo trabalho, ainda que plausibilidade e
engenhosidade de discurso não sejam mais que camuflagem para papo-furado de um bom enrolador.
Pois "Calendário" é um disco
pop investido do firme propósito
de estourar, de vender, de fazer dinheiro, ponto. Simples como uma
bolha que estoura.
Pode causar nostalgia a quem se
acostumou com o Lulu mirabolante dos últimos anos, mas é apenas
Lulu indo de volta para casa. Difícil
imaginar o que provocou nele esse
recuo, mas, ainda que provavelmente mercenário, "Calendário" é
produto legítimo do Lulu mercador de frutas.
Tanto é que ele começa confessional, em "Fogo de Palha": "Bem
que eu achei que era artificial/ fogo
de palha/ bem que eu notei/ que
era só encenação/ ainda assim
acreditei/ mas não faz mal/ nada é
só ruim".
Logo em seguida, na animada
"Mala & Cia.", toca o mesmo teclado.
"Enquanto for assim, saia, desapareça", diz para alguém, mais
uma vez evocando na temática a
Gal Costa de "Fatal" (71). Adiante,
"Eu Não" irá em direção parecida,
entre rap, programações e vocais
adulterados.
Pode estar falando da aventura
tecno, ou do coração -ou de ambos. Mas é confessional, e aí tudo
parece mesmo honesto como ele
diz que é.
Manso
Bem, nem sempre. "O Brasil Legal" -cabaré eletrônico que é de
fato bem legal- parece mais firme
no propósito de encenar o Brasil
global provinciano de Regina Casé
que em erguer qualquer possível
bandeira de honestidade.
Em geral, "Calendário" é mais
manso que isso. Para cair com precisão no "meio" (no que não pertence a lado algum) e vender, desliza na amenidade. O romantismo
melódico aflora ("Aquilo"), a dance-axé se insinua ("Mala & Cia."),
o tecno aponta o narizinho ("Eu
Não").
O funk se reacomoda ("Sábado à
Noite", que já gravara com o Cidade Negra, agora mais lânguida), as
bases disco music à Filadélfia ainda deliciam ("Bolado"), a new wave ressurge das cinzas ("Shani", a
instrumental final -opa, aqui é o
disco do Blondie?).
O pop é hoje, em Lulu, a diluição
das outras todas características
testadas nos anos recentes. É de fácil e macia deglutição, e é um recuo.
O futuro pode ter ganhado mais
um punhado de clássicos "bubble
gum" -já é fenômeno, mais e
mais intérpretes têm regravado os
clássicos ingênuos do jovem Lulu-, o presente ganha um pouquinho de passado. E Lulu Santos está
em casa.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Calendário
Artista: Lulu Santos
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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