São Paulo, Sábado, 22 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Disco foi feito para ganhar dinheiro

da Reportagem Local

Lulu Santos é um exímio papudo. Como de hábito, fecha um discurso coeso em torno do novo trabalho, ainda que plausibilidade e engenhosidade de discurso não sejam mais que camuflagem para papo-furado de um bom enrolador.
Pois "Calendário" é um disco pop investido do firme propósito de estourar, de vender, de fazer dinheiro, ponto. Simples como uma bolha que estoura.
Pode causar nostalgia a quem se acostumou com o Lulu mirabolante dos últimos anos, mas é apenas Lulu indo de volta para casa. Difícil imaginar o que provocou nele esse recuo, mas, ainda que provavelmente mercenário, "Calendário" é produto legítimo do Lulu mercador de frutas.
Tanto é que ele começa confessional, em "Fogo de Palha": "Bem que eu achei que era artificial/ fogo de palha/ bem que eu notei/ que era só encenação/ ainda assim acreditei/ mas não faz mal/ nada é só ruim".
Logo em seguida, na animada "Mala & Cia.", toca o mesmo teclado.
"Enquanto for assim, saia, desapareça", diz para alguém, mais uma vez evocando na temática a Gal Costa de "Fatal" (71). Adiante, "Eu Não" irá em direção parecida, entre rap, programações e vocais adulterados.
Pode estar falando da aventura tecno, ou do coração -ou de ambos. Mas é confessional, e aí tudo parece mesmo honesto como ele diz que é.

Manso
Bem, nem sempre. "O Brasil Legal" -cabaré eletrônico que é de fato bem legal- parece mais firme no propósito de encenar o Brasil global provinciano de Regina Casé que em erguer qualquer possível bandeira de honestidade.
Em geral, "Calendário" é mais manso que isso. Para cair com precisão no "meio" (no que não pertence a lado algum) e vender, desliza na amenidade. O romantismo melódico aflora ("Aquilo"), a dance-axé se insinua ("Mala & Cia."), o tecno aponta o narizinho ("Eu Não").
O funk se reacomoda ("Sábado à Noite", que já gravara com o Cidade Negra, agora mais lânguida), as bases disco music à Filadélfia ainda deliciam ("Bolado"), a new wave ressurge das cinzas ("Shani", a instrumental final -opa, aqui é o disco do Blondie?).
O pop é hoje, em Lulu, a diluição das outras todas características testadas nos anos recentes. É de fácil e macia deglutição, e é um recuo.
O futuro pode ter ganhado mais um punhado de clássicos "bubble gum" -já é fenômeno, mais e mais intérpretes têm regravado os clássicos ingênuos do jovem Lulu-, o presente ganha um pouquinho de passado. E Lulu Santos está em casa.
(PAS)


Avaliação:


Disco: Calendário

Artista: Lulu Santos
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média



Texto Anterior: Música: Lulu faz o caminho de volta ao pop
Próximo Texto: Batman - o morcego faz 60 anos
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.