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Crítica/pop
Lúcio Maia, da Nação Zumbi, acerta em sua estréia solo
Músico define "Homem Binário" como CD de canções "com aparato de produção"
Com o projeto Maquinado, Maia reúne referências de hip hop, psicodelia e ritmos regionais, em álbum que reflete o "homem normal"
ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
É inevitável não ter uma
sensação de déjà vu ao
ouvir Maquinado, projeto solo do guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, que
acaba de sair pela Trama. Primeiro, porque estão ali referências de psicodelia, ciranda, hip
hop, rock que, claro, são as mesmas que caracterizam a sonoridade que ele ajudou a moldar, o
mangue beat.
Em seguida, vem o formato: o
de um disco de produtor, com
bases feitas em estúdio e distribuídas para músicos amigos
criarem letras, entre eles, Jorge
du Peixe, vocalista da Nação,
Siba, Rodrigo Brandão (Mamelo Sound System) e Felipe
(Mombojó), lembrando o excelente CD feito pelo Instituto,
"Coleção Nacional" -não por
acaso, instrumentistas ligados
ao coletivo tocam com Maia,
como Rica Amabis e Basa.
Mas isso não quer dizer que
Maquinado seja uma cópia. Pelo contrário, com tais influências, Maia fez um álbum delicioso de ouvir, que surpreende
a cada faixa -ainda que, em, alguns momentos, falte uma certa coesão.
Solos de guitarra
Tanto o formato quanto a sonoridade têm muito mais a ver
com um novo estilo de fazer
música, possibilitado pelas tais
máquinas que dão nome ao
projeto. "Não acho que seja
uma onda", ressalta ele sobre o
feitio de "disco de produtor".
"As pessoas estão mudando a
cabeça. Não digo todo mundo,
porque o mercado continua
voltado para aquelas mesmices.
Se uma banda de rock explode,
eles [das gravadoras] vão procurar os artistas com o mesmo
perfil para dar continuidade
àquilo", acredita Maia.
Álbum solo de guitarrista
sempre corre o risco de descambar para uma seqüência
chata de solos distorcidos. Não
o de Lúcio Maia. "Para mim,
compor não é só empunhar um
instrumento e sair tocando. É
uma coisa muito ampla, diversificada. Tem de tudo ali. Até
solo de guitarra", diz, rindo. "É
um disco de canções, e tem o
aparato de produção por trás."
O CD, conta Maia, foi feito
em quatro anos, em um estúdio
caseiro e, apesar do tempo de
elaboração, prima pela simplicidade. Simples como o conceito que o pontua, do "Homem
Binário" (formado apenas por
dois elementos, no caso dos
computadores, zero e um).
"Li um texto de um professor
da UERJ dizendo que o homem
não era binário, porque se dá ao
luxo do improviso. Eu discordo.
Em 24 horas, talvez um minuto
você não seja binário, mas, no
resto do dia, é, porque a gente
vive muito em função dessa
simplicidade lingüística. Do
que é certo, errado, sim, não,
verdadeiro, falso", viaja o rapaz.
"Esse é um disco de um homem
simples. Normal."
HOMEM BINÁRIO
Artista: Maquinado/Lúcio Maia
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 21,90, em média
Avaliação: ótimo
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