São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Crítica/pop

Lúcio Maia, da Nação Zumbi, acerta em sua estréia solo

Músico define "Homem Binário" como CD de canções "com aparato de produção"

Com o projeto Maquinado, Maia reúne referências de hip hop, psicodelia e ritmos regionais, em álbum que reflete o "homem normal"

ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

É inevitável não ter uma sensação de déjà vu ao ouvir Maquinado, projeto solo do guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, que acaba de sair pela Trama. Primeiro, porque estão ali referências de psicodelia, ciranda, hip hop, rock que, claro, são as mesmas que caracterizam a sonoridade que ele ajudou a moldar, o mangue beat.
Em seguida, vem o formato: o de um disco de produtor, com bases feitas em estúdio e distribuídas para músicos amigos criarem letras, entre eles, Jorge du Peixe, vocalista da Nação, Siba, Rodrigo Brandão (Mamelo Sound System) e Felipe (Mombojó), lembrando o excelente CD feito pelo Instituto, "Coleção Nacional" -não por acaso, instrumentistas ligados ao coletivo tocam com Maia, como Rica Amabis e Basa.
Mas isso não quer dizer que Maquinado seja uma cópia. Pelo contrário, com tais influências, Maia fez um álbum delicioso de ouvir, que surpreende a cada faixa -ainda que, em, alguns momentos, falte uma certa coesão.

Solos de guitarra
Tanto o formato quanto a sonoridade têm muito mais a ver com um novo estilo de fazer música, possibilitado pelas tais máquinas que dão nome ao projeto. "Não acho que seja uma onda", ressalta ele sobre o feitio de "disco de produtor".
"As pessoas estão mudando a cabeça. Não digo todo mundo, porque o mercado continua voltado para aquelas mesmices.
Se uma banda de rock explode, eles [das gravadoras] vão procurar os artistas com o mesmo perfil para dar continuidade àquilo", acredita Maia.
Álbum solo de guitarrista sempre corre o risco de descambar para uma seqüência chata de solos distorcidos. Não o de Lúcio Maia. "Para mim, compor não é só empunhar um instrumento e sair tocando. É uma coisa muito ampla, diversificada. Tem de tudo ali. Até solo de guitarra", diz, rindo. "É um disco de canções, e tem o aparato de produção por trás."
O CD, conta Maia, foi feito em quatro anos, em um estúdio caseiro e, apesar do tempo de elaboração, prima pela simplicidade. Simples como o conceito que o pontua, do "Homem Binário" (formado apenas por dois elementos, no caso dos computadores, zero e um).
"Li um texto de um professor da UERJ dizendo que o homem não era binário, porque se dá ao luxo do improviso. Eu discordo.
Em 24 horas, talvez um minuto você não seja binário, mas, no resto do dia, é, porque a gente vive muito em função dessa simplicidade lingüística. Do que é certo, errado, sim, não, verdadeiro, falso", viaja o rapaz. "Esse é um disco de um homem simples. Normal."


HOMEM BINÁRIO
Artista:
Maquinado/Lúcio Maia
Gravadora: Trama
Quanto: R$ 21,90, em média
Avaliação: ótimo


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