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"Não se faz arte em função do público"
Nehle Franke, pela primeira vez no comando da Cia. dos Atores, defende dramaturgia que questione a plateia
A diretora alemã, que vive há 16 anos no Brasil, ganhou o prêmio Shell com a peça "Divinas Palavras" (99)
DO RIO
Nehle Franke chegou ao
Brasil em 1994 "completamente tosca", como diz. Nascida em Munique e assistente
de direção já aos 21 anos, ela
esperava encontrar aqui teatro com "coro, ópera, corpo
estável". Não encontrou.
Estava no Ceará e reuniu,
ela mesma, atores para sua
primeira peça no país, "Matança de Porco". "O sertão do
Brasil é muito próximo para
mim. Venho de uma região
onde faz 25 graus negativos
no inverno, onde o solo não é
muito fértil. Aqui é a seca, lá é
o frio. O sertão é onde eu me
conectei", diz.
Sem patrocínio, ela viajou
com "Matança de Porco" pelo Nordeste e conseguiu uma
sala em São Paulo para sessões à meia-noite. Mais tarde, em 1999, com "Divinas
Palavras" e já em Salvador,
ganhou o Shell de direção.
Suas montagens têm, de
certa forma, o mesmo mote
da reconstrução da Cia. dos
Atores. Ela dirigiu, por exemplo, "Roberto Zucco" num
galpão no porto de Salvador
com o Núcleo de Dramaturgia do Teatro Castro Alves.
Também foi convidada para dirigir o balé do TCA na coreografia "S/Título", ambientada numa praça, com
linguagem híbrida entre teatro e dança.
"Quando a gente faz um
trabalho que questiona, de
construção, a gente corre o
risco de ter reações polêmicas e diversas de quem assiste a essa tentativa", afirma.
Aos 38 anos, ela agora repete a busca pelo processo de
(re)criação coletiva na Cia.
dos Atores. "Vai ter público
que vai perguntar: "Cadê Lulu?". Por isso, já mudamos o
título para "Devassa". O público é essencial", diz.
"Mas não acredito que a
arte tenha que ser construída
em função do público. É claro que não quero que o público não tenha possibilidade
de entendimento, de leitura,
de satisfação, de crítica, de
inquietude. Tem que acontecer algo com a plateia",
acrescenta.
(AF)
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