São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Não se faz arte em função do público"

Nehle Franke, pela primeira vez no comando da Cia. dos Atores, defende dramaturgia que questione a plateia

A diretora alemã, que vive há 16 anos no Brasil, ganhou o prêmio Shell com a peça "Divinas Palavras" (99)

DO RIO

Nehle Franke chegou ao Brasil em 1994 "completamente tosca", como diz. Nascida em Munique e assistente de direção já aos 21 anos, ela esperava encontrar aqui teatro com "coro, ópera, corpo estável". Não encontrou.
Estava no Ceará e reuniu, ela mesma, atores para sua primeira peça no país, "Matança de Porco". "O sertão do Brasil é muito próximo para mim. Venho de uma região onde faz 25 graus negativos no inverno, onde o solo não é muito fértil. Aqui é a seca, lá é o frio. O sertão é onde eu me conectei", diz.
Sem patrocínio, ela viajou com "Matança de Porco" pelo Nordeste e conseguiu uma sala em São Paulo para sessões à meia-noite. Mais tarde, em 1999, com "Divinas Palavras" e já em Salvador, ganhou o Shell de direção.
Suas montagens têm, de certa forma, o mesmo mote da reconstrução da Cia. dos Atores. Ela dirigiu, por exemplo, "Roberto Zucco" num galpão no porto de Salvador com o Núcleo de Dramaturgia do Teatro Castro Alves.
Também foi convidada para dirigir o balé do TCA na coreografia "S/Título", ambientada numa praça, com linguagem híbrida entre teatro e dança.
"Quando a gente faz um trabalho que questiona, de construção, a gente corre o risco de ter reações polêmicas e diversas de quem assiste a essa tentativa", afirma.
Aos 38 anos, ela agora repete a busca pelo processo de (re)criação coletiva na Cia. dos Atores. "Vai ter público que vai perguntar: "Cadê Lulu?". Por isso, já mudamos o título para "Devassa". O público é essencial", diz.
"Mas não acredito que a arte tenha que ser construída em função do público. É claro que não quero que o público não tenha possibilidade de entendimento, de leitura, de satisfação, de crítica, de inquietude. Tem que acontecer algo com a plateia", acrescenta. (AF)


Texto Anterior: Devora-me
Próximo Texto: Portugal revisita a "Pequena Notável"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.