São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Diretor filipino abandona radicalismo

Filme narra histórias que se entrelaçam após um assassinato, ambientado numa Manila caótica

JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Às vésperas de seu 51° aniversário, Brillante Mendoza está mudado.
Não parece o mesmo cineasta que, há dois anos, levou ao Festival de Cannes um filme que encenava o esquartejamento de uma prostituta, trabalho pelo qual deixou a Croisette com o prêmio de melhor direção ("Kinatay").
Não parece também ser o mesmo que colocou homens, mulheres, gays e travestis para fazer sexo em um cinema pornô de seu país natal, as Filipinas ("Serbis").
Em "Lola", seu mais recente longa, que estreia hoje, o diretor que se tornou o queridinho dos festivais abriu mão do radicalismo e abraçou a sutileza.
Não há uma única cena de sexo ou violência chocantes. Existe, sim, um assassinato, que o espectador, porém, nunca chega a ver. "Foi minha intenção mostrar um tipo diferente de emoção. Quis me concentrar nos idosos, no que os avós podem fazer pelas pessoas que amam", contou o diretor e ex-publicitário.
Embora desloque a temática, Mendoza continua impregnado de sua estética ultrarrealista, que quer fazer tudo "parecer um documentário". Também não deixa de radiografar as desigualdades filipinas e, novamente, baseia-se numa história real, que ouviu na TV.
A notícia envolvia uma avó que perdeu o neto durante um assalto. Sua luta desesperada para garantir-lhe um funeral digno a conduz até a avó do assassino, que por sua vez quer ver o próprio neto fora da cadeia.
Ambas são miseráveis e correm atrás de dinheiro. Mesmo quando têm atitudes contestáveis, Mendoza as filma com naturalidade. "Observo muito pessoas nesse tipo de situação e penso: se não tivesse recebido educação, se fosse pobre e não tivesse opções, eu faria o mesmo?", diz. "Não é meu direito julgá-las. Não quero mudar a verdade."

FILME COM HUPPERT
Na busca pela verdade, Mendoza agora prepara um documentário sobre as vítimas da exploração de minérios nas Filipinas. Antes, rodou um filme com Isabelle Huppert, atualmente em pós-produção. Foi seu reencontro com a atriz francesa, que presidiu o júri do Festival de Cannes em 2009, quando Mendoza foi premiado. E a primeira vez que dirigiu um estrangeiro.
"Huppert se adaptou facilmente ao meu modo de trabalhar. Foi uma colaboração entre duas pessoas cheias de paixão", afirma.


Texto Anterior: Crítica/Comédia: Despretensão marca estreia de Hoffman como diretor
Próximo Texto: Crítitca/Drama: Cineasta faz retrato humanista, mas sem complacência, do povo de seu país
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.