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ANÁLISE
Ciclo é "obra de arte total"
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO
Matthew Barney é o Richard Wagner da era audiovisual, pop e biogenética.
"Cremaster" é uma histriônica
"obra de arte total", ambiciosa até
não poder mais, construída contudo sobre a idéia de impureza da
arte, da convergência não-hierárquica das mídias e dos mitos, de
um polimorfismo das linguagens.
Na obra de Barney, tudo é convocado para uma grande transfiguração: cinema, performance, escultura, ópera, quadrinhos, arquitetura, mágica, atletismo etc.
Sobre o mito da unidade perdida (da indiferenciação sexual)
que norteia a tragédia irônica de
"Cremaster", Barney acumula
mitologias de toda espécie, pessoais, grupais e coletivas. A proliferação de alegorias e fabulações,
alguns compartilháveis, outros
herméticos, cria um sistema
complexo, feito de permanentes
trocas entre o sagrado e o profano, o mito e a história, o orgânico
e o inorgânico, a alta cultura e a
cultura de massas.
É todo um mundo de permanente mutação, atravessado por
um sentimento de falta e de declínio irreversível, que não podem,
porém, ser compensados por nenhuma interiorização de tipo religioso. Pois a natureza é uma força
de exteriorização que não se estabiliza em "Cremaster": ela forma,
deforma, cria, destrói, recria, invade e extravasa continuamente.
Os filmes "Cremaster" são parte
de um projeto expositivo maior,
que inclui esculturas e instalações.
Mas a falta da exposição não reduz a importância dos filmes, que
são a peça-central do projeto.
"Cremaster" é uma das obras
mais ousadas e bem-sucedidas no
campo das artes plásticas nas últimas décadas. Além disso, é um
acontecimento que marca definitivamente o futuro do cinema e
do audiovisual.
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