São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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ARQUITETURA

Maior exposição do gênero reúne trabalhos de profissionais de 33 países e espera receber 120 mil visitantes

Bienal de Veneza explora design como metamorfose

ALAN RIDING
DO "NEW YORK TIMES"

As portas da Bienal deste ano se abriram às multidões de entusiastas curiosos para compartilhar um pouco do frisson gerado ao longo dos últimos dez anos por mais de 20 arquitetos internacionais de grande renome, incluindo Frank Gehry e Daniel Libeskind, Rem Koolhaas e Jean Nouvel. A idéia de que a arquitetura é arte provavelmente é mais amplamente aceita hoje do que foi em qualquer momento da memória recente.
Para o acadêmico suíço Kurt W. Forster, diretor da Bienal de Arquitetura, o principal objetivo da grande exposição é alcançar um público maior. Forster espera receber até 120 mil visitantes até o encerramento da Bienal, em 7 de novembro.
Trinta e três países estão com mostras próprias, a maioria em pavilhões nacionais permanentes usados em anos alternados para a Bienal de Arte de Veneza. Limitadas pelo espaço, essas exposições de arquitetura muitas vezes focalizam mais uma idéia do que arquitetos individuais.
Mas o principal desafio de Forster foi criar um contexto conceitual dentro do qual pudesse situar alguns dos melhores designs e experimentos mundiais. Por esse motivo, ele optou por intitular essa bienal "Metamorph". Para ele, o título destaca as mudanças na arquitetura, que, afirma, "assumiram profundidade e amplitude tão grandes que sugerem o advento de uma nova era".
Para "Metamorph", o Arsenale foi dividido em cinco seções, cada uma tentando conferir sentido às centenas de modelos que preenchem o espaço de 250 metros de extensão. A primeira seção, "Transformações", trata de modernizações (algumas já realizadas, outras, não) de edifícios e estruturas já existentes.
"Topografia", a segunda seção, ilustra as novas possibilidades de uso da informática para criar desenhos que coloquem frente a frente características geológicas ou históricas distintas.
Uma terceira seção, "Superfícies", explora não apenas formas mas também os novos materiais que estão sendo usados para cobrir edifícios, ilustrados, na exposição, pela ilha artificial de Mur, criada pelo Acconci Studio em Graz, na Áustria.
Uma quarta seção, "Atmosfera", analisa edifícios, nas palavras de Forster, "como organismos vivos, em lugar de objetos fixos". A seção final é dedicada a "Hiperprojetos".
Inevitavelmente, então, são usadas palavras para explicar edifícios e idéias. Entretanto, a linguagem utilizada com freqüência é obscura. Numa parede do pavilhão brasileiro se lê: "A arquitetura consciente não é definida pelo perfil social de seu usuário, mas pela praxis ética-social do arquiteto". No pavilhão belga, vemos: "Assim, o corpo físico, com seus ritmos específicos, determina os ritmos do corpo social da cidade e gera as redes relacionais através das quais é moldado o espaço urbano".
Para tornar as coisas mais amigáveis, Forster usou parte do pavilhão italiano para criar "uma experiência sensória real daquilo que a arquitetura pode ser", convidando uma dúzia de arquitetos e fotógrafos para montar instalações originais.
Possivelmente a seção mais visitada é a dedicada a 40 salas de concertos, começando pelo desenho inovador criado por Hans Scharoun nos anos 1950 para o teatro da Filarmônica de Berlim. Como os museus, as salas de concerto continuam a atrair os arquitetos mais famosos, como atestam a sala de concertos de Copenhague projetada por Jean Nouvel, o projeto de Portzamparc da Cidade da Música no Rio de Janeiro, o teatro de ópera de Dominique Perrault em São Petersburgo e a Sage Gateshead, de Norman Foster, no Reino Unido, entre os teatros que se encontram em fase de construção. Uma sala inteira é dedicada ao novo Walt Disney Concert Hall, de Frank Gehry, em Los Angeles.
Numa Bienal criada para celebrar a arquitetura, talvez não seja surpreendente que pouco espaço tenha sido dedicado à discussão da responsabilidade mais ampla dos arquitetos.
Para Forster, a idéia antes popular defendida por Le Corbusier do arquiteto como "médico itinerante" que soluciona males sociais e urbanos já não faz sentido. "Não se pode culpar o arquiteto por coisas que são responsabilidade dos clientes", disse ele. "Tudo depende de o quê o cliente desafia o arquiteto a fazer."


Tradução de Clara Allain


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