São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Gênero criado na Inglaterra e adotado pelo Brasil é destaque no festival BMF-E; DJs discutem diferenças de estilos

Drum'n'bass binacional aporta em Brasília

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Seja em São Paulo ou em Brasília, quem toma conta é o drum'n'bass. Acontece sexta e sábado o Brasília Music Festival -Electronic, megafestival que, a exemplo do "primo paulista" Skol Beats, reúne em várias tendas DJs de house, tecno, trance e outras ramificações da música eletrônica, mas é o d'n'b quem fornece as atrações mais aguardadas e que devem atrair maior público.
Estão escalados para o evento, que espera receber um total de 60 mil pessoas, nomes de ponta, mas é este estilo -caracterizado por uma bateria incessante e rápida e com ritmo pontuado por linhas de baixo- quem tem os DJs e produtores mais fortes desembarcando na capital federal, como os britânicos Fabio, Dilinja e London Elektricity, e os já conhecidos nossos Marky, Andy, Xerxes e Patife.
Britânicos, brasileiros... Não dá para fugir muito desse eixo quando o assunto é d'n'b. E se, por um lado, o Reino Unido tem para si a paternidade da coisa, o Brasil aparece como um padrinho -há pelo menos quatro anos os DJs daqui estão nessa ponte aérea quase ininterrupta. Tamanho intercâmbio gerou mútuas influências, mas ainda há diferenças entre o d'n'b feito aqui e o de lá.
"Nossa música é mais suingada, normalmente não tão agressiva como a deles", afirma o paulistano Andy. "Os beats são diferentes, utilizamos mais o chimbal."
Tony Colman, o homem por trás do projeto London Elektricity -considerado o primeiro grupo de d'n'b a realizar apresentações totalmente ao vivo, sem a ajuda de máquinas e computadores-, em entrevista à Folha, concorda.
"Além, claro, do uso de samples de música brasileira, os produtores daí utilizam bastante os instrumentos de cordas. Há uns três anos, o d'n'b produzido no Brasil tomou conta do Reino Unido; era música fresca, nova; não havia os vícios aos quais estávamos acostumados. As produções de Xerxes e Patife são verdadeiras canções, com versos, refrões, enquanto as produções britânicas parecem ficar apenas em um mesmo "loop" o tempo inteiro."
Já Marky não vê muita disparidade entre o que é feito aqui e lá: "Um britânico pode usar um sample de MPB, por exemplo. Acho que um sempre acaba influenciando o outro".
Os dois brasileiros elogiam o tipo de performance "eletroacústica" proporcionada ao vivo pelo London Elektricity. "Acho que esse será o show que vai marcar o festival. Ele tem uma musicalidade incrível, não há samples, eles fazem tudo na hora, ao vivo, com os instrumentos."
No Brasil, Colman diz que se apresentará com um baterista, um baixista, três tecladistas e quatro vocais -estrutura que tem há dois anos. "É difícil tocar d'n'b completamente ao vivo, pois é uma música que originalmente foi concebida num ambiente digital. É muito rápida, e não são muitos os bateristas que conseguem tocar apropriadamente."
Como London Elektricity, Colman já lançou dois discos: "Pull the Plug" (99) e "Billion Dollar Gravy" (2003) -ambos encontrados via importação. O projeto ficou muito conhecido na Europa com a música "Song in the Key of Knife", lançada em 1998, e que trazia certa melancolia e claridade a um gênero que estava marcado por um clima dark e pesado. "Na época o d'n'b estava realmente dark, machista, com percussão agressiva. Tentei trazer elementos mais light, r&b e funk."
Recentemente, ele remixou "Born Slippy", do Underworld, música que é, talvez, o maior clássico da história da dance music. "Fiquei petrificado quando me convidaram, mas não podia recusar. É uma honra."


Texto Anterior: Mostra: Painel "Pescadores", de Portinari, será exposto
Próximo Texto: Soul II Soul fará set eclético no festival
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.