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MÚSICA
Gênero criado na Inglaterra e adotado pelo Brasil é destaque no festival BMF-E; DJs discutem diferenças de estilos
Drum'n'bass binacional aporta em Brasília
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Seja em São Paulo ou em Brasília, quem toma conta é o
drum'n'bass. Acontece sexta e sábado o Brasília Music Festival
-Electronic, megafestival que, a
exemplo do "primo paulista" Skol
Beats, reúne em várias tendas DJs
de house, tecno, trance e outras
ramificações da música eletrônica, mas é o d'n'b quem fornece as
atrações mais aguardadas e que
devem atrair maior público.
Estão escalados para o evento,
que espera receber um total de 60
mil pessoas, nomes de ponta, mas é este
estilo -caracterizado por uma
bateria incessante e rápida e com
ritmo pontuado por linhas de baixo- quem tem os DJs e produtores mais fortes desembarcando na
capital federal, como os britânicos
Fabio, Dilinja e London Elektricity, e os já conhecidos nossos
Marky, Andy, Xerxes e Patife.
Britânicos, brasileiros... Não dá
para fugir muito desse eixo quando o assunto é d'n'b. E se, por um
lado, o Reino Unido tem para si a
paternidade da coisa, o Brasil aparece como um padrinho -há pelo menos quatro anos os DJs daqui estão nessa ponte aérea quase
ininterrupta. Tamanho intercâmbio gerou mútuas influências,
mas ainda há diferenças entre o
d'n'b feito aqui e o de lá.
"Nossa música é mais suingada,
normalmente não tão agressiva
como a deles", afirma o paulistano Andy. "Os beats são diferentes,
utilizamos mais o chimbal."
Tony Colman, o homem por
trás do projeto London Elektricity
-considerado o primeiro grupo
de d'n'b a realizar apresentações
totalmente ao vivo, sem a ajuda de
máquinas e computadores-, em
entrevista à Folha, concorda.
"Além, claro, do uso de samples
de música brasileira, os produtores daí utilizam bastante os instrumentos de cordas. Há uns três
anos, o d'n'b produzido no Brasil
tomou conta do Reino Unido; era
música fresca, nova; não havia os
vícios aos quais estávamos acostumados. As produções de Xerxes
e Patife são verdadeiras canções,
com versos, refrões, enquanto as
produções britânicas parecem ficar apenas em um mesmo "loop" o
tempo inteiro."
Já Marky não vê muita disparidade entre o que é feito aqui e lá:
"Um britânico pode usar um
sample de MPB, por exemplo.
Acho que um sempre acaba influenciando o outro".
Os dois brasileiros elogiam o tipo de performance "eletroacústica" proporcionada ao vivo pelo
London Elektricity. "Acho que esse será o show que vai marcar o
festival. Ele tem uma musicalidade incrível, não há samples, eles
fazem tudo na hora, ao vivo, com
os instrumentos."
No Brasil, Colman diz que se
apresentará com um baterista,
um baixista, três tecladistas e quatro vocais -estrutura que tem há
dois anos. "É difícil tocar d'n'b
completamente ao vivo, pois é
uma música que originalmente
foi concebida num ambiente digital. É muito rápida, e não são muitos os bateristas que conseguem
tocar apropriadamente."
Como London Elektricity, Colman já lançou dois discos: "Pull
the Plug" (99) e "Billion Dollar
Gravy" (2003) -ambos encontrados via importação. O projeto
ficou muito conhecido na Europa
com a música "Song in the Key of
Knife", lançada em 1998, e que
trazia certa melancolia e claridade
a um gênero que estava marcado
por um clima dark e pesado. "Na
época o d'n'b estava realmente
dark, machista, com percussão
agressiva. Tentei trazer elementos
mais light, r&b e funk."
Recentemente, ele remixou
"Born Slippy", do Underworld,
música que é, talvez, o maior clássico da história da dance music.
"Fiquei petrificado quando me
convidaram, mas não podia recusar. É uma honra."
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