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PATRIMÔNIO
Vinculado à PUC-SP, teatro vivenciou incêndio, movimento estudantil e grande parte da história da MPB
Aos 40, Tuca se volta à programação musical
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ele foi questionado, censurado
e queimado; mas nunca deixou de
ser aplaudido." A frase de um estudante de publicidade foi vencedora de um concurso promovido
pela diretoria do Tuca para escolher aquela que melhor resumisse
a trajetória de 40 anos do teatro.
O concurso foi uma das iniciativas da programação de aniversário, que a partir de hoje inaugura
uma série de espetáculos e exposições. Se teatro, política e a música
popular brasileira foram as três
bases de sustentação do palco do
Tuca, é especialmente centrada
na terceira que a programação se
desenvolve; talvez porque tenha
sido ela, a música, o diferencial do
Tuca em relação a espaços igualmente históricos como o Oficina e
o TBC.
Numa época em que as casas de
show eram pequenas e poucas,
era por ali que passavam grandes
espetáculos musicais. Foi o palco
do Tuca, por exemplo, que recebeu Astor Piazzola quando ele
veio ao Brasil; mesmo palco em
que Caetano receberia a chuva de
vaias por "É Proibido Proibir",
apresentada em 1968 no Festival
Internacional da Canção.
A programação não traz Caetano Veloso e nem é capaz de fazer
Piazzola voltar à vida. De qualquer modo, entre setembro e outubro passarão pelo Tuca tendências variadas da MPB: da pesquisa
corporal do Barbatuques ao dito
cosmopolitismo de Fernanda
Porto; de gente "das antigas"
-Walter Franco, Francis Hime e
Eduardo Gudin- a novos nomes, como Ceumar e Cris Aflalo.
"Quisemos fazer uma programação que contemplasse a diversidade do nosso público, que vai
do infantil à terceira idade", explica Ana Salles Mariano, 58, superintendente do teatro. Segundo
ela, foi necessário conciliar o desejo de diversidade com a disposição dos artistas a se apresentarem
só pela bilheteria, sem o cachê.
"A universidade passa hoje por
dificuldades, e nós achamos natural que ela tenha outra prioridade
para seus gastos", explica Mariano.
Não é a primeira vez que os artistas abrem mão da renda em
prol do teatro. Depois do incêndio que destruiu o Tuca em 1984,
músicos fizeram shows destinados à sua reconstrução. Um deles
era Antônio Nóbrega, que agora
volta ao palco. "Deve ser uma das
últimas apresentações que faço de
"Lunário Perpétuo", diz Nóbrega,
que prepara o disco "Nove de Frevereiro".
Outro músico que acompanhou
o Tuca foi Walter Franco, que, na
década de 70, lançou no Tuca o
disco "Branco". "A música na minha geração foi o instrumento
maior de resistência, mas de repente tudo isso foi posto de lado.
Desapareceu a censura política,
mas ganhamos algo mais perigoso, que é a censura estética."
Novos tempos
Superada a fase de reconstrução, o Tuca voltou a funcionar em
1989 apesar da falta de estrutura.
"Não tínhamos forração acústica,
o que impedia que shows fossem
realizados simultaneamente nos
dois auditórios", lembra Sérgio
Rezende, 45, que há 15 anos atua
como diretor administrativo. Depois de uma grande reforma promovida entre 2002 e 2003, o teatro
ganhou ares modernos, equipamentos e ampliação do número
de camarins. Entre novos projetos
está a inauguração de um acervo e
a conseqüente campanha para
que as pessoas que têm documentos relacionados ao Tuca tragam
sua contribuição. Atualmente, o
teatro busca parcerias e a partir de
outubro abre a agenda para receber novas propostas nas áreas de
música, teatro e dança.
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