São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Vinculado à PUC-SP, teatro vivenciou incêndio, movimento estudantil e grande parte da história da MPB

Aos 40, Tuca se volta à programação musical

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ele foi questionado, censurado e queimado; mas nunca deixou de ser aplaudido." A frase de um estudante de publicidade foi vencedora de um concurso promovido pela diretoria do Tuca para escolher aquela que melhor resumisse a trajetória de 40 anos do teatro.
O concurso foi uma das iniciativas da programação de aniversário, que a partir de hoje inaugura uma série de espetáculos e exposições. Se teatro, política e a música popular brasileira foram as três bases de sustentação do palco do Tuca, é especialmente centrada na terceira que a programação se desenvolve; talvez porque tenha sido ela, a música, o diferencial do Tuca em relação a espaços igualmente históricos como o Oficina e o TBC.
Numa época em que as casas de show eram pequenas e poucas, era por ali que passavam grandes espetáculos musicais. Foi o palco do Tuca, por exemplo, que recebeu Astor Piazzola quando ele veio ao Brasil; mesmo palco em que Caetano receberia a chuva de vaias por "É Proibido Proibir", apresentada em 1968 no Festival Internacional da Canção.
A programação não traz Caetano Veloso e nem é capaz de fazer Piazzola voltar à vida. De qualquer modo, entre setembro e outubro passarão pelo Tuca tendências variadas da MPB: da pesquisa corporal do Barbatuques ao dito cosmopolitismo de Fernanda Porto; de gente "das antigas" -Walter Franco, Francis Hime e Eduardo Gudin- a novos nomes, como Ceumar e Cris Aflalo.
"Quisemos fazer uma programação que contemplasse a diversidade do nosso público, que vai do infantil à terceira idade", explica Ana Salles Mariano, 58, superintendente do teatro. Segundo ela, foi necessário conciliar o desejo de diversidade com a disposição dos artistas a se apresentarem só pela bilheteria, sem o cachê.
"A universidade passa hoje por dificuldades, e nós achamos natural que ela tenha outra prioridade para seus gastos", explica Mariano.
Não é a primeira vez que os artistas abrem mão da renda em prol do teatro. Depois do incêndio que destruiu o Tuca em 1984, músicos fizeram shows destinados à sua reconstrução. Um deles era Antônio Nóbrega, que agora volta ao palco. "Deve ser uma das últimas apresentações que faço de "Lunário Perpétuo", diz Nóbrega, que prepara o disco "Nove de Frevereiro".
Outro músico que acompanhou o Tuca foi Walter Franco, que, na década de 70, lançou no Tuca o disco "Branco". "A música na minha geração foi o instrumento maior de resistência, mas de repente tudo isso foi posto de lado. Desapareceu a censura política, mas ganhamos algo mais perigoso, que é a censura estética."

Novos tempos
Superada a fase de reconstrução, o Tuca voltou a funcionar em 1989 apesar da falta de estrutura. "Não tínhamos forração acústica, o que impedia que shows fossem realizados simultaneamente nos dois auditórios", lembra Sérgio Rezende, 45, que há 15 anos atua como diretor administrativo. Depois de uma grande reforma promovida entre 2002 e 2003, o teatro ganhou ares modernos, equipamentos e ampliação do número de camarins. Entre novos projetos está a inauguração de um acervo e a conseqüente campanha para que as pessoas que têm documentos relacionados ao Tuca tragam sua contribuição. Atualmente, o teatro busca parcerias e a partir de outubro abre a agenda para receber novas propostas nas áreas de música, teatro e dança.


Texto Anterior: Cinema: "Ônibus 174" ganha Prêmio Emmy em NY
Próximo Texto: "Morte e Vida Severina" deu nome ao teatro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.