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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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MÚSICA

Grupo definidor do chamado samba-rock lança quinto álbum em 35 anos de carreira, agora com novo integrante

Trio Mocotó troca Escovão por Skowa

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em plena atividade aos 35 anos de idade, o Trio Mocotó lança o quinto disco de sua história sob o signo da mudança. Fritz Escovão, um dos integrantes fundadores, resolveu parar com o grupo e foi substituído por Skowa, que com sua banda A Máfia foi um dos vanguardeiros paulistas da geração 80 do rock nacional.
Casam-se, assim, o samba-soul do grupo que acompanhou Jorge Ben (Jor) em uma de suas fases mais explosivas (1968-71) e o rock funkeado do intérprete de "Atropelamento e Fuga" (89). O resultado é "Beleza! Beleza! Beleza!!!", título que é também um dos bordões prediletos do pandeirista do trio, Nereu Gargalo, 59.
Da percussão, João Parahyba, 54, continua a liderar o trio que, além de ajudar a definir a sonoridade de Ben, também acompanhou naquele início dos anos 70 artistas como Chico Buarque, Toquinho & Vinicius e Maria Bethânia. Entre os fãs entusiasmados estavam os editores do "Pasquim", tablóide de esquerda que fez do Mocotó mascote musical.
Parahyba explica o ingresso de Skowa, que já foi incorporado na intensa agenda de shows internacionais que o trio vem cumprindo em 2003: "Quando Fritz resolveu parar, liguei para Skowa pedindo dicas. Depois de sugerir vários nomes, ele disse: "Se não conseguirem, estou me candidatando'". Estava feito. "Vim para ser o "tó" do Mocotó", brinca Skowa, 48.
A substituição, não tem jeito, acaba em piada. "Eu fui "escova" antes do Fritz", reivindica Skowa. "Fritz virou "escovão" por causa daqueles escovões que passávamos para encerrar o chão, lá no edifício da rua Paim, de onde caíam bujões de gás na cabeça das pessoas", revela Nereu, que se proclama autor do apelido. "É tudo prova de que o Trio Mocotó é mesmo limpeza", ri Parahyba.
Se as escovas e os escovões dão margem a prosa, o nome Trio Mocotó guarda por trás ainda mais história. Mocotó era o apelido em jargão da turma de Jorge Ben para as pernas femininas, nos tempos de "País Tropical", "Charles, Anjo 45" e "Que Pena".
"Passava a Verinha, eu dizia a Jorge: "Babulina, que mocotó, hein?". E ele: "Pô, Gargalo, beleza!'", diverte-se Nereu. O trio o acompanhava, ainda sem nome de batismo, até virar, quase por automatismo, Trio Mocotó.
E a gíria virou música, quando Ben inscreveu no Festival Internacional da Canção de 70 na Rede Globo sua "Eu Também Quero Mocotó" -o mocotó ali era o das moças, não o dos moços de pandeiro, cuíca e percussões.
O maestro Erlon Chaves foi defender "Eu Também Quero Mocotó" no festival, secundado pelo próprio Ben, pelo Trio Mocotó (veja foto acima) e por um grande coral de vozes negras.
Parahyba é quem conta: "Todo mundo encheu a bulha no camarim, entramos na manguaça. No final da música, sem combinar nada, todo mundo levantou a bata, todo mundo nu por baixo. A TV mostrou as bundas ao vivo". Terminava em escândalo e em repressão pelo regime militar o festival do "black power" e da vitória de Toni Tornado com "BR-3".
Hoje o trio grava pela primeira vez "Eu Também Quero Mocotó", revestindo-o das experimentações do discípulo eletrônico Anvil FX. Outra música que o grupo grava pela primeira vez é o clássico "Chiclete com Banana", do paraibano Jackson do Pandeiro, provavelmente a primeira vez em que o termo "samba-rock" apareceu numa canção.
"Jackson foi talvez um dos primeiros tropicalistas brasileiros", define Parahyba. À lembrança de que Jackson teve fase de conversão à seita Universo em Desencanto, assim como Tim Maia, Skowa faz nova revelação:
"Eu gravei um compacto para a Universo em Desencanto. Mas era trabalho. Eu nem acredito em Deus, ele é que acredita em mim".

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