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MÚSICA
Grupo definidor do chamado samba-rock lança quinto álbum em 35 anos de carreira, agora com novo integrante
Trio Mocotó troca Escovão por Skowa
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em plena atividade aos 35 anos
de idade, o Trio Mocotó lança o
quinto disco de sua história sob o
signo da mudança. Fritz Escovão,
um dos integrantes fundadores,
resolveu parar com o grupo e foi
substituído por Skowa, que com
sua banda A Máfia foi um dos
vanguardeiros paulistas da geração 80 do rock nacional.
Casam-se, assim, o samba-soul
do grupo que acompanhou Jorge
Ben (Jor) em uma de suas fases
mais explosivas (1968-71) e o rock
funkeado do intérprete de "Atropelamento e Fuga" (89). O resultado é "Beleza! Beleza! Beleza!!!",
título que é também um dos bordões prediletos do pandeirista do
trio, Nereu Gargalo, 59.
Da percussão, João Parahyba,
54, continua a liderar o trio que,
além de ajudar a definir a sonoridade de Ben, também acompanhou naquele início dos anos 70
artistas como Chico Buarque, Toquinho & Vinicius e Maria Bethânia. Entre os fãs entusiasmados
estavam os editores do "Pasquim", tablóide de esquerda que
fez do Mocotó mascote musical.
Parahyba explica o ingresso de
Skowa, que já foi incorporado na
intensa agenda de shows internacionais que o trio vem cumprindo
em 2003: "Quando Fritz resolveu
parar, liguei para Skowa pedindo
dicas. Depois de sugerir vários
nomes, ele disse: "Se não conseguirem, estou me candidatando'".
Estava feito. "Vim para ser o "tó"
do Mocotó", brinca Skowa, 48.
A substituição, não tem jeito,
acaba em piada. "Eu fui "escova"
antes do Fritz", reivindica Skowa.
"Fritz virou "escovão" por causa
daqueles escovões que passávamos para encerrar o chão, lá no
edifício da rua Paim, de onde
caíam bujões de gás na cabeça das
pessoas", revela Nereu, que se
proclama autor do apelido. "É tudo prova de que o Trio Mocotó é
mesmo limpeza", ri Parahyba.
Se as escovas e os escovões dão
margem a prosa, o nome Trio
Mocotó guarda por trás ainda
mais história. Mocotó era o apelido em jargão da turma de Jorge
Ben para as pernas femininas, nos
tempos de "País Tropical", "Charles, Anjo 45" e "Que Pena".
"Passava a Verinha, eu dizia a
Jorge: "Babulina, que mocotó,
hein?". E ele: "Pô, Gargalo, beleza!'", diverte-se Nereu. O trio o
acompanhava, ainda sem nome
de batismo, até virar, quase por
automatismo, Trio Mocotó.
E a gíria virou música, quando
Ben inscreveu no Festival Internacional da Canção de 70 na Rede
Globo sua "Eu Também Quero
Mocotó" -o mocotó ali era o das
moças, não o dos moços de pandeiro, cuíca e percussões.
O maestro Erlon Chaves foi defender "Eu Também Quero Mocotó" no festival, secundado pelo
próprio Ben, pelo Trio Mocotó
(veja foto acima) e por um grande
coral de vozes negras.
Parahyba é quem conta: "Todo
mundo encheu a bulha no camarim, entramos na manguaça. No
final da música, sem combinar
nada, todo mundo levantou a bata, todo mundo nu por baixo. A
TV mostrou as bundas ao vivo".
Terminava em escândalo e em repressão pelo regime militar o festival do "black power" e da vitória
de Toni Tornado com "BR-3".
Hoje o trio grava pela primeira
vez "Eu Também Quero Mocotó", revestindo-o das experimentações do discípulo eletrônico Anvil FX. Outra música que o grupo
grava pela primeira vez é o clássico "Chiclete com Banana", do paraibano Jackson do Pandeiro,
provavelmente a primeira vez em
que o termo "samba-rock" apareceu numa canção.
"Jackson foi talvez um dos primeiros tropicalistas brasileiros",
define Parahyba. À lembrança de
que Jackson teve fase de conversão à seita Universo em Desencanto, assim como Tim Maia,
Skowa faz nova revelação:
"Eu gravei um compacto para a
Universo em Desencanto. Mas
era trabalho. Eu nem acredito em
Deus, ele é que acredita em mim".
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