São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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"MARDI GRAS"
EUA fecham Carnaval com blues e jazz

ANA MARIA GUARIGLIA
enviada especial a Nova Orleans

Amanhã é terça-feira de carnaval, dia do Mardi Gras, a festa da terça gorda, que acontece oficialmente há mais de um século na cidade de Nova Orleans, no Estado da Louisiana (EUA), muito diferente do carnaval brasileiro.
Para começar, a música, com sons que lembram os antigos blues e jazz originários dos ritmos caribenhos, são executadas pelas brass bands nos clubes e fanfarras nas ruas, que seguem as paradas.
Além do ritmo muito vibrante, outra atração são as paradas, que ocupam a Canal Street, a principal avenida da cidade, e as ruas do Quarteirão Francês, incluindo a barulhenta Bourbon Street.
As pessoas se postam ao longo das ruas, gritam, acenam para agarrar os símbolos oferecidos pelas equipes que desfilam, copos, colares e medalhas. São mais de 90 paradas e cada uma contendo entre 50 e 100 carros alegóricos -os floats, nada parecidos com aqueles das nossas escolas de samba.
Os participantes se vestem segundo o tema evocado. Geralmente, são enredos populares e tradicionais, como as histórias infantis, lendas européias e africanas, mitologia grega e literatura.
Para conhecer algumas curiosidades desse Carnaval, a Folha entrevistou, em Nova Orleans, a jornalista Geraldine Wyckoff, 50, crítica musical da revista "Gambit Weekly" e também letrista, que há mais de 20 anos dedica-se ao estudo da grande festa.

Folha - A música seria a diferença básica entre o carnaval do Brasil e o de Nova Orleans?
Geraldine Wyckoff
- O brasileiro tem o samba, as mulatas e os passistas. Nós temos a tradição, que se traduz pela identidade das nossas raízes culturais. É a celebração da vida e da morte, evocada pelas influências européias, africanas e caribenhas, e que estão presentes principalmente na música.
Folha - O que é mais atraente nessa festa?
Wyckoff
- Tudo é atraente e bonito. Cito as comunidades negras, que usam as alegorias dos índios norte-americanos, como a Wild Tchoupitoulas, os bailes de máscaras, que têm um certo ar do Carnaval de Veneza, e as tradições. Uma delas é a apresentação dos adolescentes à sociedade local nos desfiles que abrem as festividades carnavalescas. É uma tradição que remonta ao século 19.
Folha - Como no Brasil, o rei Momo lidera a folia?
Wyckoff
- Cada equipe possui um capitão, um rei e uma rainha selecionados para liderar a parada. Como símbolos, eles comparecem às festas e aos bailes. Algumas associações os substituem por personalidades convidadas, como Billy Crystal, Paul Anka, Dennis Quaid e Harry Connick Jr.
Folha - A cidade promove concursos de fantasias?
Wyckoff
- Errol Laborde (editor do "New Orleans Magazine") e eu tentamos promovê-los, mas a idéia não deu certo. É claro que existe a confrontação entre os participantes e isso é muito divertido.
Folha - Como a sra. explica o sucesso do Carnaval de Nova Orleans?
Wyckoff
- O Carnaval significa descontração e a maioria das pessoas se liga no clima da alegria. Temos as paradas, em que todos participam democraticamente e, principalmente, a magia do som.


A jornalista Ana Maria Guariglia viajou a Nova Orleans a convite da Kodak e da T. Tanaka.



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