São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Coleção Folha" destaca poeta Manuel Bandeira

Obras "Libertinagem" e "Estrela da Manhã" compõem o sétimo volume da série

Com ironia, sensualidade e coloquialismo, lírica do escritor foi classificada por Antonio Candido como "simplicidade do requinte"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Uns tomam éter, outros cocaína. /Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria." Assim o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) inicia o poema "Não Sei Dançar", o primeiro do livro "Libertinagem", de 1930. Junto com "Estrela da Manhã", publicado seis anos depois, representa uma das obras mais extraordinárias da poesia brasileira de todos os tempos.
Nesses livros, o leitor encontra o anseio por libertação existencial e estética ("Vou-me Embora pra Pasárgada" e "Poética") ao lado da evocação memorialística ("Mangue"); a nota política ("Rondó dos Cavalinhos") junto com o flagrante lírico do cotidiano ("Momento num Café"). Partindo de versos de qualidade essencialmente material, o poeta conseguiu firmar uma transcendência, não da alma, mas do corpo.
Com o emprego da ironia e da auto-ironia, da sensualidade, do coloquialismo, da busca pela matéria sem rebusco, Bandeira produziu uma lírica dotada daquilo que o crítico Antonio Candido chamou de "simplicidade do requinte".
Depois de "Cinza das Horas" (1917) e de "Carnaval" (1919), em que se verifica ainda certa tonalidade crepuscular pós-simbolista, Bandeira atinge com "Libertinagem" voz poética original, absorvida na confluência entre temas e procedimentos caros ao modernismo e o investimento em um ritmo próprio.
Da experiência moderna vieram não apenas a ironia e o uso do registro coloquial, mas a escolha de temas supostamente não-poéticos, como a "Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá".
Já a musicalidade particular, Bandeira adquiriu-a em anos de prática com formas tradicionais, tanto populares quanto eruditas, como a balada, o rondó, o soneto e a canção. Mesmo nos versos livres e nos poemas em prosa, vê-se intensa preocupação com a sonoridade, percebida no uso de aliterações, rimas internas, repetições.
"Libertinagem" e "Estrela da Manhã" compõem o sétimo volume da "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros".


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Cláudio Torres filma Luana Piovani "invisível"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.