São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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12ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO RIO

Palestras de Jô Soares e Pedro Bial foram as mais concorridas, ao contrário do encontro com o irlandês Colm Tóibín, indicado ao Booker Prize

Personalidades da TV atraem o público

ANA PAULA CONDE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

A festa do livro terminou dominada pela televisão. Os apresentadores Jô Soares e Pedro Bial fizeram anteontem as palestras mais concorridas da Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Os 600 lugares do auditório Fernando Sabino não foram suficientes para abrigar os fãs de Jô Soares. O encontro com o apresentador e humorista estava lotado. Muitas pessoas tiveram que se sentar no chão ou ficar em pé. Os gritos de protesto dos que ficaram do lado de fora podiam ser ouvidos no interior da sala até 20 minutos após o início do bate-papo.
O autor esteve na Bienal para autografar "Assassinato na Academia Brasileira de Letras" (Companhia das Letras, 2005), mas nem todos os presentes no auditório sabiam do lançamento. Jaqueline Gomes, 20, e Leandro Drumond, 18, moradores de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), que cursam o terceiro ano do segundo grau, decidiram ir ao debate porque costumam assistir ao "Programa do Jô".
"A gente não leu nenhum livro dele, mas agora a gente vai poder conhecer melhor", disse Jaqueline. A estudante de pedagogia, Elizabeth Silva, 39, de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), também não conhecia os títulos escritos por Jô, mas resolver ir ao encontro "porque informação sempre vale a pena". Todos visitavam a Bienal pela primeira vez.
Quem deixava o auditório já encontrava uma longa fila para assistir ao próximo fórum de debates, que reuniu Arnaldo Bloch, Rosa Amanda Strauz, Ruy Castro e Pedro Bial. As estudantes Débora Hottz, 20, que cursa ciências biológicas, e Monique Tavares, 20, no quinto período de letras, aguardavam a distribuição de senhas para ver o jornalista e apresentador do "Big Brother Brasil".
"Gosto dele, mas não sei o que escreveu", disse Débora. "Sei que publicou há pouco tempo um livro sobre o Roberto Marinho", afirmou Monique.
O mesmo interesse não foi despertado pelo irlandês Colm Tóibín, indicado ao Booker Prize por "A Luz do Farol". O autor, que lançou "O Mestre" (Companhia das Letras) na Bienal, esteve no Café Literário para falar sobre o processo de pesquisa do livro, baseado na vida do escritor Henry James (1843-1916). Antes do final do bate-papo, marcado por um certo burburinho e pelo toque de celulares, muitas pessoas já tinha deixado o local.
Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, não encara com pessimismo as longas filas em busca dos autores consagrados por programas de TV e a pequena procura pelos encontros com escritores nacionais, com menor presença na mídia, e estrangeiros, o que também ocorreu no primeiro fim de semana do evento com DBC Pierre, vencedor do Booker Prize 2003, por "Vernon God Little Uma Comédia na Presença da Morte", e Marc Levy, que lançou na Bienal o best-seller francês "Da Próxima Vez".
"O Jô não falou sobre outra coisa que não fosse o processo de pesquisa e produção do seu novo livro, e as pessoas reclamaram quando o tempo acabou. Isso prova que a Bienal está cumprindo seu papel de formar leitores. As pessoas estão se aproximando dos livros. É isso que importa", afirmou Schwarcz.

Promoções
As cerca de 80 mil pessoas que passaram pelos corredores dos três pavilhões no sábado também estavam à procura das promoções. Na reta final, a maioria dos estandes oferecia descontos de até 30%. Quem tivesse paciência para pesquisar e enfrentar as filas poderia encontrar títulos como "Na América", de Susan Sontag, ou "Dossiê H", Ismail Kadaré, por apenas R$ 3, no estande Ciranda Cultural, livros por R$ 10 na Fundação Getúlio Vargas e na Companhia das Letras e o volume ilustrado "Stanley Kubrick - A Filmografia Completa", da Taschen, de R$ 95 por R$ 50. O público infantil também encontrou boas promoções, livros até por R$ 1, e voltou a lotar o estande da Melhoramentos para a sessão de autógrafos realizada, durante três horas, por Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Pedro Bandeira.
Apesar da presença maciça das crianças nos corredores da Bienal e do aumento do número de leitores nos últimos anos, o livro corre risco de acabar? O assunto foi o tema de um dos debates promovidos no sábado no auditório Carlos Drummond de Andrade. Estavam presentes o escritor Carlos M. Horcades, o bibliófilo José Mindlin, a historiadora Lilia Schwarcz e o jornalista e coordenador geral do Livro e da Leitura da Fundação Biblioteca Nacional, Luciano Trigo, o único que demonstrou certa preocupação com o futuro da palavra impressa. "Eu não sou daqueles que acha que o livro não vai acabar. Acho que ele corre esse risco sim", afirmou.


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