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Exposição revela humor e misticismo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um homem incisivo e
idiossincrático fuma, responde o que lhe é perguntado e observa seu interlocutor
atentamente, por trás de
grossas lentes emolduradas
por aros pretos. Juan Carlos
Onetti se deixa ver em vídeo
e em fotos. Mas mostra-se,
sobretudo, em escritos e objetos, reunidos em "Una Larga Confesión", exposição
que marca a volta a Montevidéu de documentos-chave
da obra e da vida do escritor.
No Centro Cultural da Espanha, estão materiais nunca antes apresentados, como
manuscritos, a cópia datilografada e cheia de correções
do romance "Juntacadáveres" (1964) e um conto desconhecido, "El Último Viernes" [a última sexta], escrito
antes de 1952 e que se encontrava em poder de Litty, filha
do autor.
O conto inédito não fará
parte das obras completas
por ordem expressa de
Onetti, que nunca quis vê-lo
publicado. "El Último Viernes" narra a visita de um homem ao amigo preso, feita
infalivelmente às sextas-feiras. Numa delas, Corner
pressente que a ida à cadeia
para ver Miller será a última.
Começa assim um relato de
reminiscências das circunstâncias que marcaram a vida
e selam o momento presente
da relação entre os dois.
A mostra reserva também
outras surpresas, como o lado bem-humorado, afetuoso e místico de um escritor
que criou um universo permeado de sombra, amargura e não rara sordidez.
Entre seus objetos de toda
a vida, um macaquinho de
cerâmica pede silêncio com
uma mão enquanto, com a
outra, segura uma garrafa de
uísque.
Em meio aos manuscritos,
um bilhete: "Gênio trabalhando. Não encher. RÁ
RÁ!!!". Na margem superior
de "Juntacadáveres", as iniciais da "Ave Maria", oração
que usualmente grafava em
novos trabalhos.
(DM)
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