São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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"Poseidon" aposta em clichês e muita ação

Diretor diz que "diminuiu excessos" do original e investe em correria e efeitos

Refilmagem sobre desastre com navio, que estréia hoje, reúne efeitos especiais, correria, explosões e muita água para atrair público


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Numa época como a atual, em que o mundo vive próximo dos desastres humanos (terrorismo, guerras) e naturais (tsunamis, terremotos, furacões), o cinema pode funcionar como um painel das reações de gente comum frente às tragédias.
Essa é a teoria que o diretor alemão Wolfgang Petersen (de "Tróia", 2004) apresenta para justificar seu "Poseidon", refilmagem de "O Destino do Poseidon" (1972), a história do luxuoso cruzeiro que, na noite do Revéillon, é atingido por uma gigantesca onda e vira, deixando a tripulação submersa e com pouco tempo para escapar.
Teorias à parte, na prática a idéia do filme -que estréia hoje no Brasil- é faturar milhões, como "blockbuster" de aventura e tensão, carregado de efeitos especiais, explosões, correria e, é claro, muita água.
Em entrevista a um grupo de jornalistas, em um hotel em Beverly Hills, Petersen e o elenco falaram sobre o filme. O diretor explicou que não quis fazer uma refilmagem idêntica ao original. "Não quis manter os personagens nem aquele estilo exagerado do primeiro", disse.
As mudanças de personagens são apenas cosméticas, no entanto, já que os estereótipos continuam. O papel do rebelde que lidera o grupo rumo à saída, antes representado por um reverendo (Gene Hackman), aqui cabe a um jogador de cassino (Josh Lucas). O responsável pela ordem agora é um ex-prefeito de Nova York (Kurt Russell), no lugar do policial vivido por Ernest Borgnine.

Ação
A diferença realmente notável entre os dois filmes está no desenvolvimento dos personagens, inexistente na refilmagem. "Investir mais em ação do que nas histórias pessoais foi uma decisão consciente", disse Petersen. Só faltou combinar com os atores.
"Na versão integral que filmamos, os personagens eram muito mais complexos", disse a atriz Emmy Rossum. "Fiquei espantado quando vi que eles editaram a parte antes de a onda atingir o navio, em que se desenvolviam os personagens", acrescenta Richard Dreyfuss, que vive um arquiteto gay. "Não tive muito espaço para atuação, praticamente não há diálogos, só chutei gente e corri em escadas", disse, irônico, afirmando que sua motivação para o papel foi o caminhão de dinheiro oferecido.
É claro que há atores mais bem-comportados, como Kurt Russell, que viu vantagens na edição final. "Achei interessante o fato de você não saber nada sobre as pessoas."
De quebra, Russell atirou no original (que foi execrado pela crítica em seu tempo, apesar de ter faturado horrores) para sepultar quaisquer comparações. "O primeiro filme não é exatamente um "Casablanca" ou um "... E o Vento Levou", não havia por que não refazê-lo."
No fim das contas, a teoria de Petersen talvez tenha algum nexo -afinal, vêm aí "Vôo 93", sobre os passageiros de um dos aviões seqüestrados no 11 de Setembro, e "When the Levees Broke", o filme de Spike Lee sobre o Katrina. Mas seu "Poseidon", formatado como um "blockbuster" de ação, passa bem longe disso.


O jornalista MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner

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