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"Poseidon" aposta em clichês e muita ação
Diretor diz que "diminuiu excessos" do original e investe em correria e efeitos
Refilmagem sobre desastre com navio, que estréia hoje, reúne efeitos especiais, correria, explosões e muita água para atrair público
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Numa época como a atual,
em que o mundo vive próximo
dos desastres humanos (terrorismo, guerras) e naturais (tsunamis, terremotos, furacões), o
cinema pode funcionar como
um painel das reações de gente
comum frente às tragédias.
Essa é a teoria que o diretor
alemão Wolfgang Petersen (de
"Tróia", 2004) apresenta para
justificar seu "Poseidon", refilmagem de "O Destino do Poseidon" (1972), a história do luxuoso cruzeiro que, na noite do
Revéillon, é atingido por uma
gigantesca onda e vira, deixando a tripulação submersa e com
pouco tempo para escapar.
Teorias à parte, na prática a
idéia do filme -que estréia hoje
no Brasil- é faturar milhões,
como "blockbuster" de aventura e tensão, carregado de efeitos especiais, explosões, correria e, é claro, muita água.
Em entrevista a um grupo de
jornalistas, em um hotel em
Beverly Hills, Petersen e o elenco falaram sobre o filme. O diretor explicou que não quis fazer uma refilmagem idêntica ao
original. "Não quis manter os
personagens nem aquele estilo
exagerado do primeiro", disse.
As mudanças de personagens
são apenas cosméticas, no entanto, já que os estereótipos
continuam. O papel do rebelde
que lidera o grupo rumo à saída,
antes representado por um reverendo (Gene Hackman), aqui
cabe a um jogador de cassino
(Josh Lucas). O responsável
pela ordem agora é um ex-prefeito de Nova York (Kurt Russell), no lugar do policial vivido
por Ernest Borgnine.
Ação
A diferença realmente notável entre os dois filmes está no
desenvolvimento dos personagens, inexistente na refilmagem. "Investir mais em ação do
que nas histórias pessoais foi
uma decisão consciente", disse
Petersen. Só faltou combinar
com os atores.
"Na versão integral que filmamos, os personagens eram
muito mais complexos", disse a
atriz Emmy Rossum.
"Fiquei espantado quando vi
que eles editaram a parte antes
de a onda atingir o navio, em
que se desenvolviam os personagens", acrescenta Richard
Dreyfuss, que vive um arquiteto gay. "Não tive muito espaço
para atuação, praticamente não
há diálogos, só chutei gente e
corri em escadas", disse, irônico, afirmando que sua motivação para o papel foi o caminhão
de dinheiro oferecido.
É claro que há atores mais
bem-comportados, como Kurt
Russell, que viu vantagens na
edição final. "Achei interessante o fato de você não saber nada
sobre as pessoas."
De quebra, Russell atirou no
original (que foi execrado pela
crítica em seu tempo, apesar de
ter faturado horrores) para sepultar quaisquer comparações.
"O primeiro filme não é exatamente um "Casablanca" ou um
"... E o Vento Levou", não havia
por que não refazê-lo."
No fim das contas, a teoria de
Petersen talvez tenha algum
nexo -afinal, vêm aí "Vôo 93",
sobre os passageiros de um dos
aviões seqüestrados no 11 de
Setembro, e "When the Levees
Broke", o filme de Spike Lee sobre o Katrina. Mas seu "Poseidon", formatado como um
"blockbuster" de ação, passa
bem longe disso.
O jornalista MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner
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