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Crítica/"Às Cinco da Tarde"
Samira Makhmalbaf tropeça no exotismo em seu 3º filme
CRÍTICO DA FOLHA
Entre "A Maçã", filme
de estréia de Samira
Makhmalbaf (feito
em 1998), e "Às Cinco da Tarde", seu terceiro longa (de
2003), há uma distância infinita. Uma pergunta simples
se impõe ao confrontá-los: o
que aconteceu?
"A Maçã" foi um dos destaques da mostra Um Certo
Olhar, no Festival de Cannes
de 1998. Utilizando sobras de
negativos de filmagens do
pai, trabalhando entre o documentário e a ficção, Samira conseguiu fazer uma estréia promissora.
Em 2000, ela voltou a Cannes com "O Quadro-negro",
sobre professores à caça de
alunos no Curdistão. Três
anos depois, lá estava Samira
mais uma vez na Croisette
com "Às Cinco da Tarde",
que levou o Prêmio do Júri.
Coincidência ou não, vê-se
na trajetória da cineasta uma
progressiva adequação aos
padrões exóticos e humanistas aceitáveis para o "showcase" dos festivais mundiais.
"Às Cinco da Tarde" padece desse mal mais explicitamente. Ao contar a história
de uma mulher que volta a
estudar depois da queda do
regime Talibã no Afeganistão, a cineasta se deixa levar
por mitos universalistas e
por uma visão política simplista que se traduzem, em
certos momentos, em diálogos quase constrangedores.
Se a condição da mulher
no Oriente Médio era confrontada de forma contundente em "A Maçã", que contava a história de irmãs aprisionadas pelo próprio pai,
em "Às Cinco da Tarde" esse
tema surge mais diluído.
Restam, no entanto, momentos de impacto genuíno
e a vontade de lançar um
olhar diferente sobre um
país sem imagem ou representação. A questão é como
Samira o faz, tentando ser "a
representante do povo afegão", o que suscita questões
sobre o papel do cineasta ao
tentar "dar voz" ao outro.
Curiosamente, em "A Maçã", Samira compartilhou
vozes e criou diálogos com o
outro de uma forma mais interessante e incisiva.
(PEDRO BUTCHER)
ÀS CINCO DA TARDE
Direção: Samira Makhmalbaf
Com: Agheleh Rezaie, Abdolgani Yousefrazi e Razi Mohebi
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas Artes
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