Keith Jarret e Charlie Haden retomam parceria dos anos 1960 em disco para ser ouvido com atenção e silêncio

FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foram necessários 30 anos para que o pianista Keith Jarrett, 65, voltasse a se reunir com o baixista Charlie Haden, 72, seu antigo parceiro. Após se verem em 2007, decidiram realizar algo juntos em breve. O resultado pode ser ouvido agora nesse "Jasmine", lançado nos EUA. O estúdio que Jarrett mantém em sua casa foi o cenário escolhido para a reunião. Foram quatro dias de gravações, nos quais foram gestadas as oito faixas pinçadas para compor o álbum.
Profundo e delicado, "Jasmine" mostra a maturidade artística de seus criadores e que ambos ainda mantêm grande intimidade e cumplicidade sonora -fundamentais para um disco de jazz. Quem acompanha a trajetória do pianista irá se sentir confortável com a forma como o álbum se estrutura.
Jarrett, como faz com seu trio desde a década de 1980, selecionou entre alguns standards do cancioneiro norte-americano os temas a serem trabalhados no disco. O desafio maior dessa fórmula é o de fazer com que canções executadas uma infinidade de vezes ainda soem atrativas e vitais. Mas Jarrett é mestre nisso, e Haden não decepciona.
Apesar das intrincadas harmonias do trio de Jarrett não estarem aqui presentes, a música flui de forma livre e mesmo inovadora, sempre espontânea.
O clima intimista de "Jasmine" consegue conter até mesmo o tradicional "cantarolar" de Jarrett enquanto dedilha o piano. De "Body and Soul" a "No moon at all" , o duo cria um diálogo que se constrói de maneira lenta e encantatória, sons para serem ouvidos com atenção e em silêncio.