São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Montagem ousada de Schiller enfrenta problemas ao mirar no romantismo

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Um épico romântico. "Joana d'Arc - A Virgem de Orleans", o ambicioso espetáculo da Cia. Teatro do Incêndio, tenta resgatar a aura de determinação cega do romantismo alemão no enfrentamento das adversidades.
A peça, uma das últimas do poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805), foi escrita em 1801.
O mito da jovem francesa que se tornou mártir na Guerra dos Cem Anos serviu à perfeição para o autor desenvolver o tema da vontade e da fé como fontes para o sucesso nas realizações humanas.
Schiller despreza a história para pintar um quadro em que a morte da heroína, antes de um castigo, torna-se uma redentora graça.
A encenação de Marcelo Marcus Fonseca emula a saga da personagem e propõe-se como vitória contra as dificuldades em se levantar, no teatro brasileiro de hoje, os cinco atos do texto. Se o mérito da iniciativa é indiscutível, ele não é suficiente para solucionar alguns problemas.
Já no desempenho da protagonista, a esforçada atriz Liz Reis, fica evidente um hiato entre os recursos vocais disponíveis e aqueles exigidos pela personagem.
Não que, compenetrada, não consiga atravessar as longas falas sem tropeços e com algum ritmo, mas ressalta a inadequação de timbre e volume com que o faz.
Os outros 19 atores, incluindo o próprio diretor, não são menos esforçados e, em alguns casos, se mostram convincentes. No geral, porém, o elenco revela limitações que prejudicam a fruição da poesia de Schiller.
Um ponto favorável à produção, além da bela tradução de Mario Vitor Santos, é a velocidade que a direção imprime às cenas, alternando os encontros palacianos e as cenas de guerra campal.
A estratégia épica permite a ambiguidade de registros, oscilando-se entre o cômico e o grave. O trágico, até mesmo pela opção do autor, fica impossibilitado.
"A Virgem de Orleans" é uma peça histórica e datada. Montá-la hoje, talvez, implicaria em dialogar mais com o desencanto contemporâneo do que com o programa romântico que a gerou.

JOANA D'ARC - A VIRGEM DE ORLEANS

QUANDO qua. e qui., às 21h; até 4/8
ONDE teatro Bibi Ferreira (av. Brig. Luís Antônio, 931, tel.0/xx/11/ 3105-3129)
QUANTO R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular


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