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SÃO PAULO FASHION WEEK
Beleza negra vira moda no evento
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
A São Paulo Fashion Week de
verão 2003, encerrada no último sábado, teve como tema a
identidade da moda brasileira.
Moda brasileira feita por brasileiros, rezava o slogan. Atrás das referências brasileiras, muitos estilistas olharam para elementos da
cultura nacional, como o Carnaval, a carnaúba, cidades como Recife e Fortaleza... Mas o grande
mérito desta temporada foi reforçar a beleza negra nas passarelas.
Em edições anteriores, manifestantes relacionados a agências de
modelos negras chegaram a criar
protestos contra o que foi chamado (bem brasileiramente) de
"apagão fashion". Ou seja: a ausência de negros e mulatos nos
seus elencos. Agora, por uma série de motivos, a história mudou.
A beleza e a cultura negras influenciaram desfiles em sua totalidade, da música ao casting.
A mais marcante foi a marca de
moda praia Poko Pano, estreante
no evento, que fez um casting
95% negro, em que meninas de
todos os tipos físicos desfilaram
cheias de atitude uma coleção que
tratava de etnias. E não foi para
ser politicamente correto. "Era
mais pela beleza delas, e eu achava
que era corajoso", conta o stylist
David Pollak, responsável pela escolha das meninas. "Faz tempo
que eu queria fazer isso. Eu coleciono africaninhas dos anos 50 e
neste Carnaval vi as passistas do
Rio. Fiquei encantado."
A beleza das passistas também
apareceu na Forum, que acionou
o Carnaval como inspiração e fez
da mulata que não está no mapa
Adriana Lima sua principal diva,
reinando como uma rainha de bateria fashion. Nascida em Salvador, é hoje uma das grandes estrelas do made in Brazil. É namorada
de Lenny Kravitz e assinou milionário contrato com a marca de
lingerie Victoria's Secret. Na segunda marca de Tufi Duek, a Triton, a inspiração era a black music
do final dos 60 e início dos 70, mas
em versão mais pasteurizada.
Na Cavalera, Thais Losso foi
mais longe, depois de uma viagem de pesquisa pelo bairro nova-iorquino do Queens. "Depois
que voltei de lá, tudo era negão
para mim", conta a estilista, cujo
apelido é "nega maluca". A coleção deu o estalo final quando ela
achou em sua casa uma foto de
seu pai com duas mulatas do Sargentelli.
Em relação ao velho folclore das
revistas de moda de justificar a
ausência de modelos negras nas
capas, Thaís diz que faz questão
de provar o contrário: "Acho que
negro vende", garante a estilista.
Taí uma moda que não deveria
passar no Brasil.
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