São Paulo, sábado, 23 de julho de 2005

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Poesia irônica dos Smiths vai ao teatro

JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES

O rock conquistou o West End (Londres). The Smiths -a banda inglesa cujo líder, Morrissey, ensinou uma geração a reclamar da vida, mas com atitude- ganha "Some Girls Are Bigger than Others", peça baseada nas canções do grupo (1982-1987) que fica até hoje no teatro Lyric e depois vai para a Irlanda e Austrália.
Para encontrar o espírito das canções, "Some Girls" as transforma. Os arranjos são para quarteto de cordas com som eletrônico. O canto de Morrissey é confiado a quatro mulheres e dois homens que oferecem desde uivos primais até harmonias da era do suingue; a peça é uma fantasia surreal sobre amor e sexo, família e controle, violência e morte.
As mulheres assumem papéis arquetípicos de criança, moça e mãe. Um homem mais velho e outro mais jovem são como um pai e seu filho, e há um menino em vídeo. Eles interagem com amor e raiva, mas não há uma história simples e direta. O mais jovem, Garrie Harvey, canta "Sou humano e quero ser amado", vestido de coelhinho. A atriz Katie Brayben, com ar juvenil, é violoncelista, trapezista e pistoleira.
"Quis criar um mundo que fosse reconhecível, mas modificado -como "Alice no País do Espelho". Você atravessa um espelho, e tudo fica diferente, apesar de você ainda reconhecer os elementos", diz o diretor Andrew Wale, 40
"Nunca pensei sobre a razão de gostar tanto dos Smiths. É uma coisa muito adolescente, aquela angústia existencial, aquele sentimento de não ser levado a sério e de que as pessoas se aproveitam de você. Existe uma espécie de complexo de mártir", diz Wale.
"É realmente difícil ser jovem e se encaixar em um grupo, e os Smiths eram um convite para ficar fora disso. Morrissey nos convidava a rir dele, mas o convite deixava subentendido que, se você risse, haveria alguma coisa que provaria que você estava errado."
"Some Girls" chega num momento em que Morrissey recarrega sua carreira solo. No ano passado, lançou "You Are the Quarry", seu primeiro álbum de inéditas desde 1997. Mas a peça já era preparada desde antes.
Wale criou cenários baseados nas letras e em sua infância, quando via brigas entre seus pais. Também há imagens de cunho religioso e geopolítico. Muitas resenhas têm sido hostis. O "Independent" elogiou a parte musical, mas descreveu a encenação como "assustadora e confusa". Mas a peça tem o apoio dos fãs. Durante as pré-estréias, no final de junho, eles começaram a aparecer. "Tinha me esquecido disso tudo. Quando os vi, me dei conta: "O que diabos eles vão pensar?'", diz Wale.


Tradução de Clara Allain

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