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Poesia irônica dos Smiths vai ao teatro
JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES
O rock conquistou o West End
(Londres). The Smiths -a banda
inglesa cujo líder, Morrissey, ensinou uma geração a reclamar da
vida, mas com atitude- ganha
"Some Girls Are Bigger than
Others", peça baseada nas canções do grupo (1982-1987) que fica até hoje no teatro Lyric e depois
vai para a Irlanda e Austrália.
Para encontrar o espírito das
canções, "Some Girls" as transforma. Os arranjos são para quarteto
de cordas com som eletrônico. O
canto de Morrissey é confiado a
quatro mulheres e dois homens
que oferecem desde uivos primais
até harmonias da era do suingue;
a peça é uma fantasia surreal sobre amor e sexo, família e controle, violência e morte.
As mulheres assumem papéis
arquetípicos de criança, moça e
mãe. Um homem mais velho e
outro mais jovem são como um
pai e seu filho, e há um menino
em vídeo. Eles interagem com
amor e raiva, mas não há uma história simples e direta. O mais jovem, Garrie Harvey, canta "Sou
humano e quero ser amado", vestido de coelhinho. A atriz Katie
Brayben, com ar juvenil, é violoncelista, trapezista e pistoleira.
"Quis criar um mundo que fosse reconhecível, mas modificado
-como "Alice no País do Espelho". Você atravessa um espelho, e
tudo fica diferente, apesar de você
ainda reconhecer os elementos",
diz o diretor Andrew Wale, 40
"Nunca pensei sobre a razão de
gostar tanto dos Smiths. É uma
coisa muito adolescente, aquela
angústia existencial, aquele sentimento de não ser levado a sério e
de que as pessoas se aproveitam
de você. Existe uma espécie de
complexo de mártir", diz Wale.
"É realmente difícil ser jovem e
se encaixar em um grupo, e os
Smiths eram um convite para ficar fora disso. Morrissey nos convidava a rir dele, mas o convite
deixava subentendido que, se você risse, haveria alguma coisa que
provaria que você estava errado."
"Some Girls" chega num momento em que Morrissey recarrega sua carreira solo. No ano passado, lançou "You Are the
Quarry", seu primeiro álbum de
inéditas desde 1997. Mas a peça já
era preparada desde antes.
Wale criou cenários baseados
nas letras e em sua infância, quando via brigas entre seus pais. Também há imagens de cunho religioso e geopolítico. Muitas resenhas
têm sido hostis. O "Independent"
elogiou a parte musical, mas descreveu a encenação como "assustadora e confusa". Mas a peça tem
o apoio dos fãs. Durante as pré-estréias, no final de junho, eles começaram a aparecer. "Tinha me
esquecido disso tudo. Quando os
vi, me dei conta: "O que diabos
eles vão pensar?'", diz Wale.
Tradução de Clara Allain
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