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LIVROS/LANÇAMENTOS
"YELLOW DOG"
Em seu mais recente romance, escritor britânico aborda incesto, criminosos, família real e pornografia
Antipatia cerca nova obra de Martin Amis
JOHN WALSH
DO "THE INDEPENDENT"
O escritor britânico Martin
Amis, 53, deve estar se sentindo retaliado por todos os lados,
sem que tenha feito nada de errado. Ao lançar seu novo romance,
""Yellow Dog" (Cachorro Amarelo) -340 páginas que reúnem incesto, pornografia, a família real
britânica, criminosos e nomes
chineses-, ele vem sendo agredido em artigos que sugerem que a
obra seja um lixo.
Os jornais britânicos que saem
aos domingos entraram na onda.
O ""Sunday Times" revelou que os
juízes do Prêmio Booker acharam
""Yellow Dog" ""desigual" e até ""ridículo". Como um Iago moderno,
o editor de artes do jornal fez de
conta que se solidarizava com
Amis, dizendo que o autor seria
submetido a ""novas humilhações", que ser deixado de fora da
lista dos finalistas para o prêmio
seria um golpe. Tudo isso apesar
de Amis nunca ter manifestado
interesse pelo Booker. Como interpretar a desaprovação?
Existe o sentimento de que
Amis vem sendo Júlio César há
tempo demais. Amis domina o
mundo dos livros britânicos há
mais de duas décadas. Em 1983,
quando a Granta lançou ""Os Melhores Jovens Romancistas Britânicos", Amis emergiu como o líder. Seus primeiros livros foram
triunfos do estilo sobre o conteúdo. "Dead Babies" (Bebês Mortos) tinha uma trilha emocionante feita de sexo, drogas e visões de
rua. ""Sucess" (Sucesso) começou
com seu toque típico, quando
juntou uma figura repulsiva do
submundo a um realizador aristocrático. Com ""Other People: A
Mystery Story" (Outras Pessoas:
Uma História de Mistério), Amis
parou de ser engraçado e se propôs a incomodar o leitor, a deixá-lo com medo. Pela primeira vez, o
final não fazia sentido.
Em 1984 saiu ""Grana", no qual
encarou a América, Hollywood e
egos. Alguns críticos acharam o livro repetitivo, e, pela primeira
vez, registramos o fato de que seu
estilo conciso começou a tender à
repetição e profusão de adjetivos.
Com "Campos de Londres", algumas rachaduras começaram a
aparecer na admiração até dos fãs.
"A Seta do Tempo" (1991) era um
experimento ousado em que escreveu sobre o Holocausto desde
o ponto de vista de um médico
nazista. O rosto por trás do narrador era demasiado obcecado com
o horror para poder encontrar
uma voz satírica. Após um hiato
marcado por problemas pessoais,
Amis voltou com ""A Informação", um romance sobre inveja literária iluminado pela consciência de um fato terrível: aos 46
anos, ele percebeu que todos vamos morrer. Sua escrita passou a
parecer frouxa; seu tema, óbvio.
Foi a pior fase de sua vida -e
coincidiu com o momento em
que sua cotação esteve mais baixa.
De repente, tudo o que ele fazia
estava errado. Amis escreveu sobre isso em seu livro de memórias, "Experience" (Experiência,
2000), falando dos acontecimentos de 1995 e da morte de seu pai.
Um novo Martin apareceu, sensível e com lágrimas. Ele exagerou
na dose ao lançar ""Koba the
Dread" (2002). O livro, um estudo
sobre Stálin e sobre o porquê de
veteranos partidários do regime
comunista não serem rejeitados,
representou um Amis sério se esforçando para encarar um tema
de enormes proporções. Mas ele
optou por entremear o livro com
menções à morte de sua irmã e ao
nascimento de sua filha. O recém-descoberto defensor das emoções
cometeu o erro de inserir sua nova família em sua obra.
Existe uma antipatia generalizada tanto pelo sentimentalismo de
Amis quanto por sua seriedade.
Como um crítico disse, "os fatores
que fizeram dele uma pessoa mais
simpática talvez sejam responsáveis por não conseguir escrever
bons livros de ficção". Escrever
mal não é crime, nem sinal de falência moral. Mas duvido que
Amis concordaria. E essa é uma
das razões pelas quais ele rompeu
com o novo universo literário. A
geração Zadie Smith, que está em
alta no momento, não venera a
linguagem como ele. Ela venera o
contar histórias, admira os personagens plausíveis e os finais compreensíveis. Mas e daí? A maioria
das pessoas prefere alguém que,
como Amis, é um escritor incorreto, mas tem energia.
Tradução Clara Allain
YELLOW DOG. Autor: Martin Amis.
Editora: Hardcover. Quanto: R$ 53, em
média (importado). Onde encontrar:
www.amazon.com.
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