São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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"Distrito 9" leva alienígenas para periferia africana

Produção de Peter Jackson sobre aliens estreou com sucesso e publicidade gigante nos EUA na semana passada

Gaúcho, brasiliense e cearense estão na empresa canadense que fez os efeitos visuais do longa, que chega ao Brasil em novembro


FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na última cena de "Distrito 9", bem antes dos créditos finais, um alienígena aparece na tela. Ele movimenta os braços, mexe em alguma coisa e olha para a câmera. Dura apenas 14 segundos, mas teve "um dedo" de um cearense.
"Eu me filmei na garagem aqui da empresa, fiz a atuação que o diretor queria, só para usar de referência", disse à Folha por telefone, de Vancouver, o animador Daniel Sampaio Lima, 29. "Foi um pouco constrangedor, peguei a câmera e fui lá sozinho."
Daniel é um dos três brasileiros que trabalham na Image Engine, empresa de Vancouver que criou mais da metade das 600 cenas de efeitos especiais para o filme de ficção científica, sobre alienígenas perdidos que vieram parar em Joanesburgo e ali vivem em guetos há 20 anos, sendo discriminados pela população local.
"Distrito 9", com produção de Peter Jackson (diretor da trilogia "O Senhor dos Anéis"), é a estreia em longa-metragem de Neill Blomkamp, sul-africano que mora na cidade canadense. Ele criou "Distrito 9" com um elenco de desconhecidos, baseado num curta seu, "Alive in Joburg", disponível no YouTube.
Aliado a uma campanha publicitária gigante, o filme de baixo orçamento -para os padrões Peter Jackson- se pagou logo nos três primeiros dias de bilheteria na América do Norte -arrecadou US$ 37 milhões na semana passada. No Brasil, deve chegar só no final de novembro, com publicidade similiar (leia mais ao lado).
A Image Engine, que tem profissionais de 14 países, foi responsável por fazer os ETs digitais, assim como a nave-mãe que paira sobre a cidade. O brasiliense Gustavo Yamin, 35, artista digital sênior há dois anos e meio na empresa, ajudou a cuidar dos objetos de cena e das roupas dos aliens.
"Eles [ETs] vestem uma série de trapos, coisas feitas com material que encontram no lixo. Então construímos tudo isso em 3D", explica Gustavo, cujo trabalho final foi fazer uma jaqueta vermelha para Christopher, o alienígena-protagonista que quer voltar para casa e buscar ajuda para os 1,8 milhão de ETs que vivem na Terra, isolados no distrito nove.
O terceiro brasileiro é o gaúcho Lucio Moser, 31, primeiro programador da Image Engine, onde trabalha há três anos e meio. Sua contribuição ao projeto foi a criação de um software chamado Batata, com ferramentas que facilitam a linha de montagem da animação. "Faço todo mundo aqui falar português, nada de potato [batata em inglês]", disse Lucio.

Aliens expressivos
O filme é rodado em estilo documentário, com moradores locais sendo entrevistados, dando mais realidade aos ETs.
As características dos aliens, que se assemelham a insetos ou camarões, foram dadas pelo próprio diretor, mas incrementadas pelo estúdio. Gustavo lembra que Blomkamp queria que o público tivesse uma reação inicial de repulsa contra os ETs e que isso se transformasse em empatia no desenrolar do filme. É o que acontece com o protagonista-humano, o agente Wikus (Sharlto Copley), que tem a missão de transportar os monstros para outro distrito.
"A maneira como o rosto dos alienígenas tinha sido construído não era expressiva o suficiente", disse Gustavo. "Então, no meio do caminho, colocamos tudo de lado para reconstruir a face, especialmente ao redor dos olhos, para ter sobrancelhas ou algo para dar mais expressividade."


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