São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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MÚSICA

Ministro da Cultura divide palco com ex-Talking Heads em show de apoio à licença alternativa de direitos autorais

Gil e David Byrne lançam Creative Commons em NY

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nada surge do nada. Tudo é construído em cima de algo que já estava lá antes." Por mais óbvia que possa parecer, a declaração do compositor David Byrne resume bem o espírito do Creative Commons, conjunto de licenças alternativas que oferecem uma terceira via ao "todos os direitos reservados", do direito autoral tradicional, e o "nenhum direito reservado", do domínio público.
Com o ex-líder do Talking Heads concorda o músico e ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil, que participou anteontem em Nova York de um show em apoio às licenças CC, às quais o Ministério aderiu oficialmente desde meados deste ano.
"Estamos plantando uma árvore que espero que cresça e dê muitos frutos para a arte e a indústria", disse o ministro durante o concerto, promovido pela revista "Wired" no Town Hall para um público de 1.500 pessoas, incluindo jornalistas do "New York Times", "Rolling Stone" e o chanceler brasileiro Celso Amorim.
"O governo brasileiro tem simpatia por esse universo de flexibilização da propriedade intelectual. Algumas entidades torceram o nariz para a idéia. Mas a experiência está sendo feita e pode desembocar em novos modelos de negócios", falou Gil por telefone à Folha, minutos após o show.
Durante um congresso sobre direitos autorais realizado neste mês em São Paulo, representantes do Ecad criticaram duramente o apoio do governo a propostas de flexibilização de direitos autorais.
Além de Gil, outros artistas brasileiros que já aderiram ao CC foram homenageados no evento: os pernambucanos do Mombojó e o coletivo Re:Combo, que emprestou seu nome para batizar a licença de sampling do CC.
A participação brasileira no projeto, iniciado na Universidade Stanford, nos EUA, pelo professor e advogado Lawrence Lessig, será retratada em reportagem da edição de novembro da "Wired".
Junto com a publicação virá encartado um CD de 16 faixas com artistas que, como Gil e Byrne, também dispuseram suas obras sob a condição de "alguns direitos reservados". São eles: Beastie Boys, Chuck D, My Morning Jacket, Le Tigre, The Rapture, Cornelius, Paul Westerberg, Matmos e o DJ Danger Mouse.
Gil aparece na coletânea com "Oslodum", do disco independente "O Sol de Oslo", em sua versão original e num remix feito por DJ Dolores.
Todas as músicas poderão ser trocadas na internet, sampleadas, remixadas e, depois disso, livremente vendidas por quem quer que as tenha retrabalhado.
"Acreditamos no copyright, que ele ajuda a garantir um mercado para os artistas trabalharem. Mas hoje não é isso o que está acontecendo. É necessário pular os intermediários", declarou Chris Anderson, editor da "Wired".
Às 21h50 (horário de Brasília), Gil abriu o show com "Refavela" -faixa que foi impedida pela Warner de ser liberada pelo cantor sob a licença CC. Depois de "remixar", com tempero eletrônico, clássicos como "Andar com Fé" e "Aquele Abraço", além dos covers "Imagine", de John Lennon, "Three Little Birds" e "No Woman No Cry", de Bob Marley, e "Maracatu Atômico", de Jorge Mautner, Gil chamou ao palco David Byrne, com quem dividiu os microfones em uma versão bilíngüe de "Asa Branca". Foi o primeiro show que fizeram juntos.
Tocando ao lado do sexteto de cordas Tosca Strings, Byrne, que se apresenta em SP no próximo dia 7, retribuiu o gesto e chamou Gil para um dueto na emblemática "Don't Fence me In", de Cole Porter. Não me cerque, diz a letra.


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