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MÚSICA
Ministro da Cultura divide palco com ex-Talking Heads em show de apoio à licença alternativa de direitos autorais
Gil e David Byrne lançam Creative Commons em NY
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nada surge do nada. Tudo é
construído em cima de algo que já
estava lá antes." Por mais óbvia
que possa parecer, a declaração
do compositor David Byrne resume bem o espírito do Creative
Commons, conjunto de licenças
alternativas que oferecem uma
terceira via ao "todos os direitos
reservados", do direito autoral
tradicional, e o "nenhum direito
reservado", do domínio público.
Com o ex-líder do Talking
Heads concorda o músico e ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil, que participou anteontem em Nova York de um show
em apoio às licenças CC, às quais
o Ministério aderiu oficialmente
desde meados deste ano.
"Estamos plantando uma árvore que espero que cresça e dê muitos frutos para a arte e a indústria", disse o ministro durante o
concerto, promovido pela revista
"Wired" no Town Hall para um
público de 1.500 pessoas, incluindo jornalistas do "New York Times", "Rolling Stone" e o chanceler brasileiro Celso Amorim.
"O governo brasileiro tem simpatia por esse universo de flexibilização da propriedade intelectual. Algumas entidades torceram
o nariz para a idéia. Mas a experiência está sendo feita e pode desembocar em novos modelos de
negócios", falou Gil por telefone à
Folha, minutos após o show.
Durante um congresso sobre direitos autorais realizado neste
mês em São Paulo, representantes
do Ecad criticaram duramente o
apoio do governo a propostas de
flexibilização de direitos autorais.
Além de Gil, outros artistas brasileiros que já aderiram ao CC foram homenageados no evento: os
pernambucanos do Mombojó e o
coletivo Re:Combo, que emprestou seu nome para batizar a licença de sampling do CC.
A participação brasileira no
projeto, iniciado na Universidade
Stanford, nos EUA, pelo professor
e advogado Lawrence Lessig, será
retratada em reportagem da edição de novembro da "Wired".
Junto com a publicação virá encartado um CD de 16 faixas com
artistas que, como Gil e Byrne,
também dispuseram suas obras
sob a condição de "alguns direitos
reservados". São eles: Beastie
Boys, Chuck D, My Morning Jacket, Le Tigre, The Rapture, Cornelius, Paul Westerberg, Matmos e o
DJ Danger Mouse.
Gil aparece na coletânea com
"Oslodum", do disco independente "O Sol de Oslo", em sua versão original e num remix feito por
DJ Dolores.
Todas as músicas poderão ser
trocadas na internet, sampleadas,
remixadas e, depois disso, livremente vendidas por quem quer
que as tenha retrabalhado.
"Acreditamos no copyright, que
ele ajuda a garantir um mercado
para os artistas trabalharem. Mas
hoje não é isso o que está acontecendo. É necessário pular os intermediários", declarou Chris
Anderson, editor da "Wired".
Às 21h50 (horário de Brasília),
Gil abriu o show com "Refavela"
-faixa que foi impedida pela
Warner de ser liberada pelo cantor sob a licença CC. Depois de
"remixar", com tempero eletrônico, clássicos como "Andar com
Fé" e "Aquele Abraço", além dos
covers "Imagine", de John Lennon, "Three Little Birds" e "No
Woman No Cry", de Bob Marley,
e "Maracatu Atômico", de Jorge
Mautner, Gil chamou ao palco
David Byrne, com quem dividiu
os microfones em uma versão bilíngüe de "Asa Branca". Foi o primeiro show que fizeram juntos.
Tocando ao lado do sexteto de
cordas Tosca Strings, Byrne, que
se apresenta em SP no próximo
dia 7, retribuiu o gesto e chamou
Gil para um dueto na emblemática "Don't Fence me In", de Cole
Porter. Não me cerque, diz a letra.
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