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"OS GATÕES - UMA NOVA BALADA"
Diretor limita adaptação de série retrô
CLAUDIO SZYNKIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A moral de "Os Gatões
-Uma Nova Balada" é escancarada nos créditos finais. Entre
erros de produção, desfilam acidentes que, em sua coreografia,
falharam. Carros espatifados que
inspiram a pergunta: "Como ninguém morreu aqui?". O espírito
dos créditos está injetado nos personagens Luke e Bo: eles parecem
querer experimentar uma vivência lúdica mas também de prazer,
corporal, com o asfalto e seu possante. Ao mesmo tempo, nessa
loucura, sentir um pouco a morte.
Versão do seriado de TV homônimo dos anos 70, a comédia narra as aventuras dos dois, no sul
dos EUA, e realmente lembra a série: áreas bucólicas violentadas
por perseguições, carros patinando, a ira das autoridades com os
dois jovens, o vilão-coronel sempre enganado. Aliás, são poucas
as referências que alertam para o
fato de não estarmos no tempo do
seriado. Dos chassis vintage aos
figurinos, o que temos é uma reconstituição visual. A piada embutida talvez seja que o conservadorismo arcaico regulador da
"América" rural não muda, bem
como o hedonismo cool e fora-da-lei, o de Luke e Bo, para constrangê-lo. Nos anos 70 ou agora, a
paisagem é a mesma.
Neste remix do seriado, o filme
acaba reavivando um clima de cinema americano de pneus e gasolina da época. Clima de "Comboio" (de Sam Peckinpah), "Irmãos Cara-de-Pau" (de John Landis), justamente obras que revelam em suas festas de manobras e
batidas um rastro de morbidez.
Costurando temas como a habilidade, a amizade elevada a código sagrado e a convivência em sociedade, todos esses filmes têm,
no entanto, a aproximação com a
morte como deleite, sintoma de
vida. É um caminho envolvente,
traçado por "Os Gatões". Sua contradição, porém, é clara.
Há uma falta de rigor que o caracteriza. De forma positiva na
narrativa, caótica: o filme evolui
tal qual uma corrida maluca, incrementando o humor. Negativamente nas cenas. A conduta de
Luke e Bo -entre a insânia e a
idiotia- é uma arma de desintegração da ordem, mas o diretor
suga dela o suficiente para criar
um filme de tom forçadamente
"insano" e "idiota". As situações
de exacerbação dessa conduta são
muitas, mas jogadas na tela, sem
construção. O que acaba diluindo
o que o filme tem em comicidade
e discurso emancipador.
Os Gatões - Uma Nova Balada
The Dukes of Hazzard
Direção: Jay Chandrasekhar
Produção: EUA, 2005
Com: Johnny Knoxville, Jessica Simpson
Quando: a partir de hoje nos cines Lapa, Shopping D e circuito
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