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FESTIVAL DO RIO
Em filme exibido hoje, Miguel Faria Jr. colhe depoimentos de Tônia Carrero, Ferreira Gullar e Chico Buarque
"Vinicius" emocional põe de lado o "poetinha"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Plural até no nome, como brincou Manuel Bandeira, Vinicius de
Moraes aparece em vários formatos em "Vinicius", de Miguel Faria Jr.: diplomata, poeta clássico,
poeta moderno, compositor, boêmio, político, apaixonado compulsivo. Mas uma faceta, pelo menos, o diretor diz ter lutado para
deixar de fora.
"Eu não quis a figura do "poetinha". É até uma coisa carinhosa
das pessoas mas é também uma
falta de respeito porque o limita às
histórias folclóricas de mulheres,
porres, Ipanema. Vinicius era
também isso, mas não só isso",
disse Faria, anteontem, na sessão
para a imprensa do filme. Ontem,
"Vinicius" foi o cartaz da abertura
do Festival do Rio e, hoje, tem
duas sessões para o público.
A decisão de Faria exigiu um
equilíbrio delicado: deixar o "poetinha" folclórico de lado e, ainda
assim, dar ao documentário um
clima informal, fiel ao jeito de Vinicius de Moraes.
"Não queria que tivesse uma cara didática, jornalística, que fosse
um documentário frio. Queria
mais emoção do que informação", resumiu.
Por esta razão, a cronologia não
é rígida, sendo o filme mais dividido por temas do que por datas.
E, também por isso, não há legendas dizendo os títulos das músicas
cantadas.
Além das interpretadas por pessoas que dão depoimentos, como
Maria Bethânia, Caetano Veloso e
Gilberto Gil, há algumas que artistas convidados cantam, entre eles
Adriana Calcanhotto, Mônica
Salmaso, Mart'Nália e Zeca Pagodinho.
"Queria outra geração cantando, pessoas de praias diferentes.
Por isso, o leque é tão aberto", explicou Faria, que convidou até
três rappers (MS Bom, Nego Jeff e
Lerov) para improvisar em cima
do poema "Blues para Emmet".
Esses números musicais seguem o fio condutor do filme, um
show de cabaré sobre Vinicius
preparado por dois atores, Camila
Morgado e Ricardo Blat. Eles interpretam alguns poemas e dão
algumas informações sobre a vida
do poeta. Mas estão nos depoimentos a força do filme.
Faria colheu 16 depoimentos,
entre os quais se destacam os de
Tônia Carrero, sobre o Vinicius
refém das paixões; de Ferreira
Gullar, sobre a capacidade do
amigo de "inventar a vida" com
alegria; e dos amigos e parceiros
Edu Lobo e Chico Buarque, sobre
música, tristezas e histórias engraçadas.
"Vinicius é o contrário dos dias
de hoje, quando tudo busca um
resultado, um objetivo, é pragmático", diz Chico em um dos melhores momentos do filme, em
que ressalta a generosidade do
poeta e seu desprendimento de
coisas materiais.
A ligação de Faria com Vinicius
é antiga: ele foi casado com a primogênita Susana Moraes, co-produtora e entrevistada do filme
-o poeta teve cinco filhos e nove
casamentos. E dirigiu, em 1983,
"Para Viver um Grande Amor",
adaptação do musical "Pobre Menina Rica", de Carlos Lyra e Vinicius.
"Eu detesto esse filme. Estava
maluco na época, e errei a mão.
Agora, estou pagando uma dívida
com Vinicius", disse Faria.
Vinicius
Direção: Miguel Faria Jr.
Com: Chico Buarque, Caetano Veloso,
Ferreira Gullar e outros
Quando: hoje, às 15h e às 21h15
Onde: Estação Ipanema 1 (r. Visconde de
Pirajá, 605, Rio, tel. 0/xx/21/2279-4603)
Quanto: R$ 12
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