A Organização, que promove festival de curtas de baixo orçamento, vende hoje obras de Sued e Bechara

LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Cerca de 90 obras de arte serão vendidas nesta tarde no Rio de Janeiro em um leilão criado para promover o cinema. A Organização, núcleo que desde 2001 incentiva a produção de filmes de baixo orçamento, baterá o martelo para trabalhos de artistas como Eduardo Sued, Ernesto Neto, José Bechara, Cabelo e Raul Mourão.
Metade do valor arrecadado ficará com os artistas. A outra metade será utilizada para financiar a mostra anual da Organização, que dá dinheiro para os espectadores que toparem assistir aos curtas realizados por integrantes do coletivo. Funciona assim: quem vai à mostra ganha R$ 1 na saída do cinema. Em 2005, em quatro sessões no Cine Odeon BR, mais de 2.000 moedas foram entregues aos espectadores.
O idealizador é o cineasta Samir Abujamra, que conta que o núcleo não tem unidade estética ou ideológica. "O único compromisso de quem entra para a Organização é entregar um curta no prazo estabelecido. Nós vamos exibi-lo." Quem não cumpre o prazo de entrega é alvo de um filme difamatório feito pelo grupo -até hoje 11 cineastas já foram difamados.
No site da Organização (www.a-org.org), estão alguns exemplos dos cerca de 250 filmes realizados nos últimos cinco anos. É um conjunto irregular, que confirma a ausência de coesão e as muitas formas de ver o cinema existentes no núcleo. Há desde a obra de Athayde de Amar, diretor pornô que apresenta suas "Porno Cassetadas", até a de um padre, Frederico Martins, que mostra o vídeo "Vitrais". "Não há um trabalho de curadoria, no sentido de excluir algum filme. A idéia do projeto não é essa", explica Abujamra.
Além do Rio, a Organização já levou seus filmes a Porto Alegre e a São Paulo, onde participou de um programa no Festival de Internacional de Curtas em 2002. Planos para trazer novamente a mostra para São Paulo? Abujamra responde: "Dando as moedas, colocando a gente em um cinema popular, nós vamos".
O leilão de hoje, no Centro de Arte Hélio Oiticica, será comandado por Abujamra e pela atriz Vera Holtz. O valor dos lances iniciais varia de acordo com a obra. Há trabalhos a partir de R$ 1,99 -a tela de Eduardo Sued é a mais cara, com lance inicial de R$ 5.999,99. É o segundo ano que a Organização recorre ao leilão de arte para financiar o festival. O núcleo espera arrecadar R$ 50 mil -Abujamra calcula que a metade desse valor seja suficiente para bancar a mostra. Se o leilão der certo, o festival acontecerá em 17 de novembro, no Cine Odeon BR, onde 72 filmes serão exibidos em quatro sessões.