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OPINIÃO
Para onde vai a gastronomia depois do furacão criativo?
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Para onde vão Ferran
Adrià e a gastronomia depois
do furacão criativo e técnico
que ele representou nos últimos 15 anos?
A gastronomia tende a seguir o velho ciclo histórico
-depois de uma grande onda, um certo refluxo. Desta
vez é uma acomodação de
volta às tradições, reforçada
pela tendência de valorização da terra, do ingrediente
local, do trabalho artesanal.
O chef dinamarquês René
Redzepi, cujo restaurante
Noma foi escolhido número
um pela revista inglesa "Restaurant" depois de vários
anos de Adrià, é bom exemplo dos novos tempos.
Ele trabalha com o que está à sua volta, nos campos e
mares nórdicos. Alegra tanto
os cultuadores da excelência
dos ingredientes frescos e da
cultura regional quanto os
defensores do planeta.
Mas ele não é um conservador saudosista, como alguns detratores do trabalho
de Adrià: ele passou pelo El
Bulli e se utiliza alegremente
de técnicas modernas. Apenas elas não são seu foco.
Se podemos vislumbrar
para onde caminha a cozinha antes da próxima explosão criativa, não sabemos
porém para onde irá Adrià
(por mais que ele tente explicar). Porque ele mesmo,
creio, não tem isso claro.
Ao decidir que fechará seu
restaurante no ano que vem,
criou para si mesmo um vácuo de três anos para elaborar seu futuro. Que certamente não será convencional. E
talvez coincida com a onda
depois do refluxo.
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