São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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ANIMAÇÃO

Trey Parker, um dos pais dos "fedelhos do Colorado", descreve a produção do programa, que continuará por mais 3 anos

Odeio fazer "South Park", confessa criador do desenho

KATE AURTHUR
DO "NEW YORK TIMES"

Trey Parker tem uma confissão a fazer: "Comecei a admitir para algumas pessoas, em geral outros artistas, que odeio fazer "South Park", sempre odiei", disse em recente visita a Nova York. Ele prossegue: "É muito desgastante. Sempre me sinto péssimo. Quero me matar a cada semana".
Parker e Matt Stone, criadores de "South Park", terão de enfrentar esse problema por pelo menos mais três anos. No trimestre passado, eles assinaram contrato com o canal de TV paga dos EUA Comedy Central para continuar produzindo a série de animação sobre os quatro desbocados fedelhos do Colorado até o final de 2008. Mas o sucesso duradouro do programa não quer dizer que fazer "South Park" tenha se tornado mais fácil para os dois criadores, que se conheceram na universidade. Entre eles, Stone, 34, e Parker, 36, escrevem, dirigem e editam todos os episódios e fazem as vozes da maior parte dos personagens principais.
"South Park" -série que no Brasil vai ao ar aos sábados, às 22h30, no Multishow- evoluiu de voz resmungona e obscena da cultura dos jovens insatisfeitos dos anos 90 para a posição de marca de sucesso no mundo do entretenimento, em larga medida porque oferece comentários sobre os acontecimentos atuais. Oito anos de acompanhamento contínuo de questões como a busca por Osama bin Laden, a controvérsia sobre "A Paixão de Cristo" e o debate sobre o direito à eutanásia elevaram Parker e Stone a uma posição de formadores de opinião; os telespectadores esperam que os tópicos que ocupam as manchetes recebam o tratamento especial de "South Park".
Stone e Parker se irritam com essas expectativas. "Agora as pessoas estão se perguntando o que "South Park" vai fazer quanto ao furacão Katrina", disse Stone. "Não sei o que vamos fazer. Deveríamos fazer um episódio sobre como a cidade mal pode esperar para ver um programa de TV, e o que o programa terá a dizer sobre o furacão Katrina". Eles podem se queixar, mas não conseguem se conter: em um dos episódios, uma represa construída por castores se rompe e causa uma inundação em uma cidade vizinha. Encontrar alguém para culpar se torna prioridade.

Eternos meninos
Quando o programa entrou em cartaz, em 1997, Parker, Stone e sua equipe dedicavam duas semanas a cada episódio. Agora, criam cada um deles em seis dias e entregam o produto ao Comedy Central na manhã do dia marcado para a transmissão.
Doug Herzog, diretor do Comedy Central, diz que "para Matt e Trey, a vida continua a ser como um trabalho de faculdade. Eles passam o trabalho por baixo da porta do professor às 11h59".
Essa pressa é o que permite que "South Park" comente em tempo real os temas mais populares, mas o processo é desgastante. Stone e Parker começam a semana de trabalho na Redação do programa, onde debatem idéias. Quando desenvolvem algumas que parecem funcionar, Parker escreve cenas individuais, para que os animadores possam começar a criar o episódio. Com o passar dos dias, as cenas atingem o tempo de 21 minutos e também encadeiam uma trama. Quanto ao método para desenvolver a narrativa de cada episódio, Parker descreve diferentes abordagens: "Nós às vezes simplesmente nos lembramos de coisas que nos aconteciam na terceira série".
Os episódios em que os meninos são simplesmente meninos são os que mais agradam. "Parece muito com os quadrinhos de Charlie Brown", diz.
Com mais três anos de "South Park" para produzir, os criadores estão tentando descobrir o que fazer quando a série sair do ar. Em breve criarão uma produtora, provavelmente em parceria com a Paramount, para quem produziram "Team America: Detonando o Mundo", no ano passado.
"Precisamos trabalhar com produção, em algum momento, se quisermos realmente ter carreiras depois dos 40 anos", disse Parker. "É realmente assustador, porque uma das pessoas de quem mais zombamos é Steven Spielberg, tipo, "ô, meu, pára"."


Tradução Paulo Migliacci


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