São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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CRÍTICA COMÉDIA DRAMÁTICA

Moretti ri da igreja com papa angustiado

35ª MOSTRA DE SP
Com humor delicado, 'Habemus Papam' humaniza líder abatido por dor

INÁCIO ARAUJO

CRÍTICO DA FOLHA

É fascinante a hipótese que Nanni Moretti levanta em "Habemus Papam": e se o cardeal Melville, teoricamente ungido por Deus da missão de conduzir a Igreja Católica, cheio de dúvidas, vacilasse?
É certo que não foi eleito para vacilar. Mas também é certo que foi eleito e aceitou, é o escolhido. Instaura-se o impasse e, com ele, o mal-estar na praça e no conclave.
Melville retira-se para meditação. O que vem a seguir varia do cômico ao aflitivo.
O cômico fica por conta do psicanalista (Moretti) chamado para tratar do papa, mas que nem consegue falar direito com ele (não se pode tratar de sexo, sonhos e, ao mesmo tempo, tudo é público).
Depois, se torna quase prisioneiro do Vaticano (não se pode sair antes do fim do conclave, que só se encerra com o pronunciamento do papa na janela). Mas há também a mentirada que os funcionários precisam inventar para entreter os fiéis e a imprensa.
Da aflição se encarrega Melville (um Michel Piccoli notável), que a vive e a dissemina: é o papa incapaz de, armado de inspiração divina, conduzir o povo da fé.
Mas é aí que as coisas ficam interessantes. O filme humaniza esse homem abatido pela dor de se tornar mais do que um homem, um quase Deus, aquele que representa Deus na Terra.
Pode-se ver Melville, com suas angústias, como um papa bem mais à altura do seu tempo do que tantos outros cheios de certezas. Seu problema não é psicológico; não há pânico ou fraqueza nele.
O papa que habita a fantasia de Moretti é o eleito de um mundo cheio de incertezas, que cabe a um líder tentar compreender. Talvez seja tarefa sobre-humana. Melville é quem está com a razão.
Diante desse assunto delicado, Moretti conseguiu obter uma harmonia quase perfeita entre a gravidade da situação e o humor incontornável que proporciona uma instituição tão secreta e fixa quanto um tanto desajeitada para o instável mundo atual.

HABEMUS PAPAM
DIREÇÃO Nanni Moretti
PRODUÇÃO Itália/França, 2011
QUANDO hoje, às 21h30, amanhã, às 18h, e dia 25, às 20h, no Unibanco Arteplex; e dias 27, às 20h10, no Espaço Unibanco Augusta; e 29, às 17h50, no Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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