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Esculturas de Elisa Bracher são um convite à passagem
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao comentar a obra de Elisa
Bracher, o crítico Rodrigo Naves insere-a numa linha de tradição modernista, em que a
grande escala de um trabalho
escultórico tem a função inversa àquela que exerciam os grandes monumentos, que colocavam o espectador no seu devido
lugar: um indivíduo menor do
que o Estado. A hiperdimensão
das obras modernistas, ao contrário, menos ideológica e mais
formal, "supõe indivíduos e sociedades que sigam capazes de
repontecializar a existência
criando critérios de uma melhor convivência".
O modernismo acabou etc.,
mas muitas perguntas ainda estão por aqui. Elisa Bracher, por
exemplo, faz uma pergunta assustadora em sua simplicidade:
"Quem é a cidade?". Poderíamos, na esteira, perguntar:
"Quem é o espaço? Quem é o
lugar?", e esse "quem" já faz toda a diferença, porque contém
a mesma organicidade, a mesma força que age nas formas de
ferro fundido e carcomido que
ocupam o espaço da galeria.
Quem são essas formas? São
como grades sem barras, que ao
invés de travar a passagem,
convidam-na. Recentemente, a
artista disse que "diferentemente da generosidade da natureza e da geografia, em SP tudo acontece do muro para dentro. Sejam as pessoas que têm
mais dinheiro e trancam suas
casas ou as que têm menos e se
trancam por proteção".
Uma repontecialização possível desses espaços solitários
seria, por oposição a isolar-se,
abrir-se utopicamente e, quem
sabe, como sonhou João Cabral
de Melo Neto: permitir "que o
entusiasmo conserve vivas suas
molas/ e possa o ferro comer a
ferrugem/ o sim comer o não".
ELISA BRACHER
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Artur de Azevedo, 401, tel. 0/xx/
11/3083-6322)
Quando: abertura hoje, às 20h; seg. a
sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às
14h; até 2/3/2007
Quanto: entrada franca
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