São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Esculturas de Elisa Bracher são um convite à passagem

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao comentar a obra de Elisa Bracher, o crítico Rodrigo Naves insere-a numa linha de tradição modernista, em que a grande escala de um trabalho escultórico tem a função inversa àquela que exerciam os grandes monumentos, que colocavam o espectador no seu devido lugar: um indivíduo menor do que o Estado. A hiperdimensão das obras modernistas, ao contrário, menos ideológica e mais formal, "supõe indivíduos e sociedades que sigam capazes de repontecializar a existência criando critérios de uma melhor convivência". O modernismo acabou etc., mas muitas perguntas ainda estão por aqui. Elisa Bracher, por exemplo, faz uma pergunta assustadora em sua simplicidade: "Quem é a cidade?". Poderíamos, na esteira, perguntar: "Quem é o espaço? Quem é o lugar?", e esse "quem" já faz toda a diferença, porque contém a mesma organicidade, a mesma força que age nas formas de ferro fundido e carcomido que ocupam o espaço da galeria. Quem são essas formas? São como grades sem barras, que ao invés de travar a passagem, convidam-na. Recentemente, a artista disse que "diferentemente da generosidade da natureza e da geografia, em SP tudo acontece do muro para dentro. Sejam as pessoas que têm mais dinheiro e trancam suas casas ou as que têm menos e se trancam por proteção". Uma repontecialização possível desses espaços solitários seria, por oposição a isolar-se, abrir-se utopicamente e, quem sabe, como sonhou João Cabral de Melo Neto: permitir "que o entusiasmo conserve vivas suas molas/ e possa o ferro comer a ferrugem/ o sim comer o não".


ELISA BRACHER
Onde:
Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 0/xx/ 11/3083-6322)
Quando: abertura hoje, às 20h; seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 2/3/2007
Quanto: entrada franca


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