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Teatro/ "Vida"
Espetáculo confirma qualidade de grupo teatral de Curitiba
Companhia Brasileira de Teatro, uma das principais do país, apresenta peça inspirada no poeta Paulo Leminski
LUIZ FERNANDO RAMOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O teatro como a perplexidade humana diante
do céu estrelado. Esta é
uma das potencialidades que
"Vida", da Companhia Brasileira de Teatro, atualiza em sua visita ao universo do poeta paranaense Paulo Leminski. Fruto
de um longo processo de criação, o espetáculo confirma o
coletivo de Curitiba como um
dos principais grupos brasileiros, em sintonia com as questões mais instigantes do teatro
contemporâneo.
É sintomático que o autor do
texto final e da encenação,
Márcio Abreu, conceda a duas
atrizes, Giovana Soar e Nadja
Naira, a parceria na dramaturgia. Todo o material dramatúrgico emergiu a partir das questões que as duas, e os dois outros atores, Gonzales e Rodrigo
Ferrarini, propuseram.
Nesse sentido é natural que
eles se tratem em cena pelos
seus nomes reais e em nenhum
momento se caracterizem propriamente como personagens
de uma trama. Seus desempenhos envolvem fabulação, mas
é interna, sempre como emanação de seus próprios contornos. Não interpretam outros e
estão presentes, jogando com a
situação e com o público.
Sem cair na tentação de evocar a biografia ou adaptar qualquer texto de Leminski, Márcio
Abreu construiu sua sintaxe cênica a partir da entrega dos colaboradores e do aproveitamento de alguns vagos sinais da
constelação do poeta, como as
traduções de Haroldo de Campos de poemas de Khlebnikov e
Maiakovski e o título de um de
seus livros, "Distraídos Venceremos", que se torna um vero
epíteto do espetáculo.
O espaço cênico proposto,
"uma sala vazia e sem janelas",
ainda que jogue com um subtexto explícito - "quatro pessoas exiladas numa cidade
qualquer (...) nos ensaios de
uma banda que deverá se apresentar no jubileu da cidade"-
remete o tempo todo à situação
que ocorre diante do público.
De fato, a verdadeira troca
que ocorre na peça é quase
sempre entre os atores e a plateia. Suas falas são tentativas de
contato -"estão comigo?"-
que apresentam suas disposições e idiossincrasias em separado. Seus diálogos são truncados e não progridem. Agem por
si e se expõem até as entranhas,
mas o máximo de interação que
conseguem é executar um número musical bem tosco com
grande dificuldade.
O cenário, formado por três
paredes e pontuado só por um
mapa-múndi, algumas cadeiras, uma mesa e instrumentos
musicais, também participa da
instabilidade e do isolamento.
A parede do fundo é móvel e ora
recua, ampliando o espaço de
atuação, ora se fecha confinando os atores à ribalta. Essas variações demarcam mais as intensidades do que as situações
dramáticas, já que não está
acontecendo propriamente nada que se possa identificar como uma ficção. Tudo o que
ocorre é evocativo, sugestão de
clima, talvez poesia.
Nessa ambientação mais
sensorial que meditativa, a trilha de André Abujamra executada por Gustavo Proença tem
um papel decisivo na busca da
cumplicidade dos espectadores
e chega a arrebatá-los. Contudo, o que garante mesmo essa
adesão e em alguns momentos
maravilha, como uma noite de
estrelas, é o conjunto da obra.
O crítico LUIZ FERNANDO RAMOS viaja a convite da organização do Festival de Curitiba.
VIDA
Avaliação: ótimo
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