São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 2011

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NINA HORTA

Bolos por e-mail


Linda, doce, um anjo caído do céu, a noiva virginal cantada pelos poetas, a própria imagem do bolo


RECEBI DA minha cunhada um artigo sobre arte e bolos decorados de uma revista de arte e, quando ia escrever sobre eles, resolvi dar um passeio pelo Facebook, pedindo fotos de noivas com seus bolos. Já imaginaram que belo documentário?
O meu amigo Luiz Horta diz qualquer coisa como: "O criador do Facebook ficou biliardário, se tivesse inventado uma coisa melhorzinha estaria triliardário". É verdade, o Facebook não é à prova de burras digitais feito eu, não tem uma busca, enfim, podiam facilitar algumas coisas. Recebi, é claro, muitas fotos de bolo, mas de bolos de boleiras, porque com as noivas junto, vamos combinar, é difícil de achar, tem que escanear, tem que colocar o texto num lugar especial, dá trabalho, sem dúvida.
Mas um bolo valeu por todos, foi o da Leniza Castello Branco, 1957, feito por Dona Floripes, mulher do sr. Valentim Diniz, mãe dos "rapazes Diniz", do Pão de Açúcar, que havia feito um curso de confeitaria na França. Como o pai do noivo era médico e Dona Floripes, sua cliente, deu o bolo e os docinhos, maravilhosos, e ainda pirâmides de fios de ovos.
E a Leniza foi a perfeita tradução da noiva romântica da época. Linda, doce, um anjo caído do céu, a noiva virginal cantada pelos poetas, a própria imagem do bolo. Confundiam-se, os dois.
O e-mail e a foto de Adriana Mendonça era também muito comovente: "O bolo é do casamento do meu pai: nordestino. Minha mãe: mineirinha. Encontraram-se aqui, em Franca. O bolo, para a época chiquérrimo, é de fita de coco: lindo e delicioso. Doado pelos donos da pensão onde minha mãe era camareira. Essa foto deles é a minha preferida porque, tão pobres, tinham o sol e a lua para viver, e nesse dia, arrumados, lindos..."
As nossas boleiras não se manifestaram muito a não ser as que estão longe, como a Patricia Schmidt, que se casou com Christian Escribà, um dos maiores pâtissiers da Europa. Ela não deixa por menos, faz tudo perfeito e com um bom gosto extremo. Me mandou tudo de divertido que pôde, bolos de celebridades como Lady Di, princesa Caroline e, melhor dos melhores, uma alegoria em doce feita pelo marido para o casamento do Ferran Adrià. Carro alegórico, mesmo, com os bolos ladeando uma mulher no meio, de cabelos Pompadour de algodão doce, distribuindo enfeites comestíveis... Espetáculo "dulce creado por Christian Escribà para la celebración de pastel de boda de Ferran Adrià". Acho que até samba tinha.
E ainda o bolo mais antigo que se conhece, no Cake Museum de Pasadena, na Califórnia, feito por Charles Philipot.
Uma leitora viu anunciado para leilão um pedaço do bolo da rainha Elizabeth II...
Noêmia Cavalcanti não iria esquecer de Recife e mandou a receita do bolo de casamento de lá, que deve, com certeza ter influência inglesa pois é um "plum cake" escuro de frutas secas e úmido. Está no blog das Rainhas do Lar.
Fico em dúvida, quando vejo um artigo assim, como esse, tão apoiado em imagens da internet. O leitor teria obrigação de ter um computador? Ele quer procurar coisas sobre bolos? Quer ver as imagens? Ou eu tenho obrigação de descrever as imagens em palavras? Fica a minha dúvida e faço o que seu Mestre mandar, senão, "bolo"!!!

ninahorta@uol.com.br


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