São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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A piada da política

No papel de si próprio, Juca de Oliveira ri do poder em monólogo com direção de Jô Soares que estreia hoje

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Oliveira também é autor de "Happy Hour", no teatro Jaraguá

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

"A grande vantagem de completar 70 anos é não precisar mais votar", diz o ator Juca de Oliveira, 74, no início da peça "Happy Hour", que estreia hoje. Ele até pode ter se desobrigado de comparecer às urnas, mas achou outra forma de fazer valer sua opinião sobre os nós do Brasil: a dramaturgia.
Depois de criar e interpretar senadores e deputados fictícios envolvidos em negociatas decalcadas do noticiário, o ator sobe no "palanque" de cara limpa. Em "Happy", Oliveira interpreta a si mesmo, um homem perplexo diante da "falta de caráter do político brasileiro, da impunidade e de outros absurdos contemporâneos, como poluição, trânsito, barulho e catástrofes climáticas".
Perplexo, jamais mal-humorado. "A comédia apela à reflexão, é mobilizadora. Rindo você se descobre responsável, cúmplice das calamidades", afirma. O título traduz o desejo de reproduzir o clima leve dos encontros informais. "Você escreve sobre o que lhe indigna. Mas boa parte do desconforto você só extravasa nas reuniões com amigos, na macarronada de domingo", conta o ator, aqui dirigido por Jô Soares, com quem trabalhou recentemente em "Às Favas com os Escrúpulos".
A conversa vai se construindo a partir de textos temáticos que contemplam com saudade o país de 50 anos atrás -e com ceticismo um possível amadurecimento político. "Não houve mudanças fundamentais, mas decepções", diz Oliveira.

Lula
Uma das frustrações do ator foi o PT. "O advento do partido trouxe grande esperança. Mas no caso do mensalão, o presidente Lula bateu a mão na cabecinha das pessoas em vez de ir até o fim na investigação. Isso o transformou num personagem de comédia", avalia ele. Antes, cabe ressaltar, Oliveira citara a definição aristotélica do herói cômico: um tipo vicioso que, ao contrário do herói trágico, "prefere viver o melhor possível sem honra nenhuma".
O assunto leva ao escândalo da hora: o uso indevido de passagens aéreas por congressistas. Certo de que a má conduta da classe política logo engendrará novas tramas, o ator não pretende levar o imbróglio ao palco. "Não vou futucar coisas já superadas. Mas como a imaginação deles [os políticos] é de uma fertilidade inesgotável, certamente terei subsídio para escrever até o fim da vida."
Fora de cena, mas não do alcance de seu radar de artista, também está o projeto de alteração da Lei Rouanet, principal mecanismo de financiamento à atividade cultural no país. "É claro que tem de haver verba para o teatro experimental, desde que não se parta do princípio de que o resto, os chamados "globais", não tem importância. Na Globo, estão os melhores atores. Cercear os famosos é dar uma rasteira em figuras que são modelos."


HAPPY HOUR

Quando: estreia hoje; qui. a sáb., às 21h30, e dom., às 19h; até 12/7
Onde: teatro Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, SP, tel. 0/xx/11/3255-4380)
Quanto: R$ 60
Classificação: não indicado a menores de 16 anos



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