São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"W."

Biografia de Bush oscila entre a irreverência e a solenidade

Interpretação de Brolin ajuda o filme de Stone a se manter nesse fio de navalha

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Realizar um longa-metragem biográfico sobre um presidente dos EUA enquanto ele ainda estava no poder, com abordagem crítica mas respeito documental, aproximou Oliver Stone do que fizeram o diretor Stephen Frears e o roteirista Peter Morgan em "A Rainha" (2006), que recria os bastidores do poder no Reino Unido nos dias seguintes à morte de Lady Di.
Em "W.", Stone e o roteirista Stanley Weiser (que já haviam trabalhado juntos em "Wall Street", de 1987) imaginam momentos privados de um homem público, o ex-presidente George W. Bush, com busca de verossimilhança equivalente a de "A Rainha" para falar de Elizabeth 2ª e do então primeiro-ministro Tony Blair.
O compromisso com os "fatos verídicos" sugere ao espectador que "é tudo verdade", ou algo muito próximo disso. Aos interessados em saber de qual parcela da realidade nasceu a sua ficção, Stone aponta o caminho das pedras no site do filme, como quem organiza detalhada peça de defesa contra eventuais ataques.
Mas, sendo Bush quem é, nem mesmo essa reverência evita que "W." se pareça, muitas vezes, com um episódio um pouco mais comportado do programa de TV "Saturday Night Live", que costuma debochar de figuras públicas e fez do ex-presidente um de seus alvos prediletos nos últimos anos.
Ali, um dos que o interpretaram foi o comediante Will Ferrell, com exagero de tintas na caracterização de um estadista-caubói que flertava com o fundamentalismo religioso. No contexto do "Saturday Night Live" e de outros programas humorísticos de TV, Bush não era levado a sério.
"W.", ao contrário, quer tratar sua biografia com espírito investigativo na tentativa de compreender como chegou à Casa Branca e lá se manteve por oito anos. Embora sofra a tentação, em diversas sequências, de se entregar à sátira demolidora, resiste bravamente a esse convite.

Comédia e drama
A interpretação de Josh Brolin ajuda o filme a se manter nesse fio de navalha, oscilando entre a irreverência da comédia e a solenidade do drama biográfico. O restante do elenco fornece exemplos de como se situar mais para um lado do que para o outro, o que determina, em boa medida, o que se diz sobre os personagens.
"Poppy" (George Bush, pai) e Colin Powell, por exemplo, saem relativamente bem na foto, e devem muito ao modo como dois atores experientes em recriar (imitar?) figuras públicas, James Cromwell (o príncipe Philip de "A Rainha") e Jeffrey Wright (o papel-título de "Basquiat"), os interpretam. Dick Cheney, Donald Rumsfeld e Condoleezza Rice não têm a mesma sorte. Enquanto Richard Dreyfuss e Scott Glenn ridicularizam a arrogância dos dois primeiros, Thandie Newton parece se divertir ao imitar as caras e bocas da ex-secretária de Estado. O "Saturday Night Live" encontrou, afinal, a sua Condoleezza.


W.

Produção: EUA, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Hong Kong, 2008
Direção: Oliver Stone
Com: Josh Brolin, Richard Dreyfuss, James Cromwell e Jeffrey Wright
Onde: estreia hoje nos cines HSBC Belas Artes, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular



Texto Anterior: A piada da política
Próximo Texto: Saiba mais: Site aponta origem das cenas do filme
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.