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Crítica/"W."
Biografia de Bush oscila entre a irreverência e a solenidade
Interpretação de Brolin ajuda o filme de Stone a se manter nesse fio de navalha
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Realizar um longa-metragem biográfico sobre um presidente dos
EUA enquanto ele ainda estava
no poder, com abordagem crítica mas respeito documental,
aproximou Oliver Stone do que
fizeram o diretor Stephen
Frears e o roteirista Peter Morgan em "A Rainha" (2006), que
recria os bastidores do poder
no Reino Unido nos dias seguintes à morte de Lady Di.
Em "W.", Stone e o roteirista
Stanley Weiser (que já haviam
trabalhado juntos em "Wall
Street", de 1987) imaginam momentos privados de um homem público, o ex-presidente
George W. Bush, com busca de
verossimilhança equivalente a
de "A Rainha" para falar de Elizabeth 2ª e do então primeiro-ministro Tony Blair.
O compromisso com os "fatos verídicos" sugere ao espectador que "é tudo verdade", ou
algo muito próximo disso. Aos
interessados em saber de qual
parcela da realidade nasceu a
sua ficção, Stone aponta o caminho das pedras no site do filme, como quem
organiza detalhada peça de defesa contra eventuais ataques.
Mas, sendo Bush quem é,
nem mesmo essa reverência
evita que "W." se pareça, muitas vezes, com um episódio um
pouco mais comportado do
programa de TV "Saturday
Night Live", que costuma debochar de figuras públicas e fez do
ex-presidente um de seus alvos
prediletos nos últimos anos.
Ali, um dos que o interpretaram foi o comediante Will Ferrell, com exagero de tintas na
caracterização de um estadista-caubói que flertava com o fundamentalismo religioso. No
contexto do "Saturday Night
Live" e de outros programas
humorísticos de TV, Bush não
era levado a sério.
"W.", ao contrário, quer tratar sua biografia com espírito
investigativo na tentativa de
compreender como chegou à
Casa Branca e lá se manteve
por oito anos. Embora sofra a
tentação, em diversas sequências, de se entregar à sátira demolidora, resiste bravamente a
esse convite.
Comédia e drama
A interpretação de Josh Brolin ajuda o filme a se manter
nesse fio de navalha, oscilando
entre a irreverência da comédia
e a solenidade do drama biográfico. O restante do elenco fornece exemplos de como se situar mais para um lado do que
para o outro, o que determina,
em boa medida, o que se diz sobre os personagens.
"Poppy" (George Bush, pai) e
Colin Powell, por exemplo,
saem relativamente bem na foto, e devem muito ao modo como dois atores experientes em
recriar (imitar?) figuras públicas, James Cromwell (o príncipe Philip de "A Rainha") e Jeffrey Wright (o papel-título de
"Basquiat"), os interpretam.
Dick Cheney, Donald Rumsfeld e Condoleezza Rice não
têm a mesma sorte. Enquanto
Richard Dreyfuss e Scott Glenn
ridicularizam a arrogância dos
dois primeiros, Thandie Newton parece se divertir ao imitar
as caras e bocas da ex-secretária de Estado. O "Saturday
Night Live" encontrou, afinal, a
sua Condoleezza.
W.
Produção: EUA, Inglaterra, Austrália,
Alemanha, Hong Kong, 2008
Direção: Oliver Stone
Com: Josh Brolin, Richard Dreyfuss, James Cromwell e Jeffrey Wright
Onde: estreia hoje nos cines HSBC Belas Artes, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular
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