JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O maestro Roberto Minczuk foi por duas vezes ovacionado, anteontem à noite, pelas 1.500 pessoas que lotavam a Sala São Paulo. A primeira, já ao entrar no palco para reger a primeira peça do programa -"Abertura Zur Namensfeier", de Beethoven. Ele, que era adjunto, foi afastado há pouco menos de cinco anos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) pelo então diretor artístico John Neschling.
A segunda ovação veio ao final da "Sinfonia nº 1", de Gustav Mahler, enquanto os músicos, numa reação rara, recusaram-se a se levantar para que os aplausos se endereçassem apenas ao regente. Um pouco antes da meia-noite, no camarim, ele se dizia "muito emocionado".
Ele não foi o único personagem de uma récita há duas semanas com ingressos esgotados. A Fundação Osesp, por meio do diretor artístico, Arthur Nestrovski, homenageou o violinista Cláudio Cruz -solista da segunda peça, o "Concerto para Violino", de Ronaldo Miranda-, pelos 20 anos como spalla, o primeiro homem, depois do maestro, na hierarquia interna dos músicos.
Cruz recebeu um retrato seu encomendado ao artista plástico Paulo von Poser. Nestrovski anunciou que os assinantes da orquestra ganhariam um CD em que o violinista interpreta os concertos de Tchaikovsky e Max Bruch. Na segunda, estarão disponíveis para download gratuito (www.osesp.art.br).
Quanto a Roberto Minczuk como regente convidado, o virtuosismo da orquestra correspondeu a uma prova de afeto. O "Concerto", de Ronaldo Miranda, tem uma sucessão de inesperados episódios musicais, como uma canção melancólica que abre o segundo movimento. O maestro fez a orquestra "falar" com delicada clareza essa peça em estreia mundial.
Mahler, regido de cor, combinou andamentos propositalmente lentos a um jogo de dinâmica (contraste entre sons fracos e fortes) que davam qualidade excepcional à execução.