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MÚSICA
Philip Glass bebe o sangue de DRÁCULA
Divulgação
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Bela Lugosi em "Drácula' (de Todd Browning), que será projetado com acompanhamento da Philip Glass Ensemble |
Compositor norte-americano chega em setembro para apresentações em SP, Rio e Porto Alegre, em que toca durante projeções do filme estrelado por Lugosi
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FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 15 anos, um turista incomum frequenta anualmente o
Carnaval carioca, com exceção
deste. Muitas vezes, aluga um
apartamento em Ipanema forrado de espelhos, tranca-se horas lá
e fica apenas compondo músicas
no piano.
Nos espelhos, o compositor
norte-americano Philip Glass, 64,
o tal turista, consegue ver seu reflexo, ao contrário do conde Drácula, personagem que o acompanha em sua próxima visita ao Brasil, em setembro.
O compositor apresenta-se em
São Paulo, Rio e Porto Alegre,
com o Philip Glass Ensemble, durante a projeção do filme "Drácula" (1931), de Todd Browning, estrelado por Bela Lugosi. Há 25
anos, Glass cria trilhas para filmes. O cult "Koyaanisqatsi", de
Geofrey Reggio, é um dos mais
conhecidos. Juntos, diretor e músico, preparam agora o terceiro
filme da série.
Glass considera-se um "amigo"
do Brasil. Não é para menos.
Criou "Dias e Noites de Rocinha",
sua visão sobre a favela carioca,
"Itaipu", inspirado na usina hidrelétrica, com texto em guarani
(organizado por Daniela Thomas
e Marcelo Tassara), e ainda a trilha de "Sete ou Oito Peças para
um Ballet", junto com o Uakti, para o grupo Corpo, entre outras
produções.
Além do Rio, anualmente Glass
passa uma temporada na Nova
Escócia, no Canadá. Foi de lá que,
por telefone, o compositor conversou com a Folha sobre Drácula, o Brasil e sua nova produção
com Reggio. Leia a seguir os melhores trechos:
Folha - Acabo de falar com Daniela Thomas para pedir dicas para a
entrevista...
Philip Glass - Ah, então você não
precisa fazer a entrevista, ela sabe
muito sobre mim...
Folha - Mas ela ainda não assistiu
à sua performance em "Drácula".
Por que musicar o filme?
Glass - Foi um convite da Universal. O filme original, de 1931,
não possuía trilha sonora, apenas
diálogos. Naquela época, não havia compositores que criavam trilha, apenas pianistas que acompanhavam de forma improvisada
a exibição do filme. Recebi a proposta de escolher entre três filmes:
"Frankenstein", "A Múmia" ou
"Drácula", todos realizados no
mesmo período.
Folha - E por que "Drácula"?
Glass - Há duas razões. Primeiro
pela participação do ator Bela Lugosi. Seu personagem é tão brilhante e sua imagem na tela é tão
forte e emocional que seria fácil
compor a partir de sua atuação.
Em segundo lugar, a temática de
"Drácula" é ótima. Ela trata de
imortalidade e amor, temas importantes no século 20. Fui ler o livro original de Bram Stoker, escrito para ser popular, e percebi
que poderia trabalhar ainda mais
essa temática.
O filme é feito a partir de uma
versão teatral que Lugosi interpretou na Inglaterra por três anos,
antes de rodar o filme, o que pode
ser visto claramente. Há uma
grande influência da encenação
teatral no filme. Como tenho realizado vários trabalhos teatrais,
achei que essa seria uma maneira
de reunir tudo.
Folha - Apresentá-lo ao vivo era a
idéia da Universal?
Glass - Não creio, eles pretendiam lançar apenas um vídeo
com o trabalho, o que foi feito, e
mostraram-se bastante surpresos. Mas, como tenho realizado
uma séria de performances com
projeções ao vivo, acho que eles
poderiam deduzir isso também...
Folha - Apesar de suas composições estarem mais para o universo
clássico, você pode ser considerado
também um pop star...
Glass - (Risos) Não me imagino
assim. Mas acho que tem a ver
com o fato de minha música não
ter sido aceita pelo mundo acadêmico há 30 anos. Assim, naquela
época, eu tocava em galerias ou
clubes, o que me aproximou bastante da música pop, como quando tocava com David Bowie.
Mas também sempre me preocupei muito com a audiência, o
que tem a ver minha personalidade. Não faço música para um gueto, mas para tornar o mundo mais
agradável, mais alegre. Desde
meus 20 anos, me preocupo em
alcançar um grande público.
Folha - De fato, seu trabalho é como uma porta aberta...
Glass - Sim, e gosto muito disso.
Não é necessário nenhum background para entrar no meu universo... Pode esperar um minuto?
Outro telefone está tocando.
Folha - Sim.
Glass - (alguns segundos depois)
Desculpe, era o diretor Geofrey
Reggio. Estamos trabalhando em
uma nova produção, que deve ficar pronta em abril.
Folha - Continuação de "Koyaanisqatsi"?
Glass - Sim, vai se chamar "Naqoyqatsi". Acho que será bem interessante. Ele será sobre tecnologia digital e internet, um filme impossível de ser feito dez anos
atrás.
Folha - Há 15 anos você vem regularmente ao Brasil...
Glass - Só não vim neste. Como
fevereiro é muito frio em Nova
York, o Rio é o lugar perfeito para
se estar. Já escrevi muitas músicas
lá. Sei dos problemas do Brasil,
mas gosto da abertura das pessoas e da alegria de viver por aí, é
um bom ambiente para criação.
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